sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Quintaemgosto

Miudezas na mesa e árvore que é pão arrumada em vaso. Abóbora, toque verde e gengibre forte (ai, gengibre...). Bouquet de folha em azedomaracujá e óleo de babaçu. Soja gelada deitada em quadrado e cortada em traço. Quasepoesia no prato. Vela. Vela muita e vinho pouco dividido em taça uma. Risoto suculento em panelinha. Gente nova, novos ares. Brinde a todos os caminhos. Meu olho em brilho. Meu todo em paladar.

E quem promoveu essa noite toda rica faz muito, muito mais: http://slowfoodcerrado.org/
=)
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Estômago

"It's no fun to be yellow. Maybe I'm not all yellow. I don't know. I think maybe I'm just partly yellow and partly the type that doesn't give much of a damn if they lose their gloves."
J.D. Salinger (The catcher in the rye)

"Naquele mundo opressivo em que ninguém era livre, Sierva María o era: só ela e só ali. Por isso era ali que se celebrava a festa, em sua verdadeira casa e com sua verdadeira família.Não se podia imaginar bailarico mais taciturno no meio de tanta música, com os escravos próprios e de outras casas de gente distinta que traziam o que podiam. A menina se mostrava tal como era. Dançava com mais graça e donaire que os africanos de nação, cantava com vozes diferentes da sua nas diversas línguas da África, ou com vozes de pássaros e animais, que desconcertavam os próprios negros. Por ordem de Dominga de Adviento, as escravas mais jovens pintavam-lhe a cara com fuligem, penduravam colares de candomblé por cima do escapulário do batismo e ajeitavam-lhe o cabelo, jamais cortado, que atrapalharia o caminhar não fossem as tranças de muitas voltas que lhe faziam todo dia.Ela começava a florescer numa encruzilhada de forças contrárias. Tinha muito pouco da mãe. Do pai tinha o corpo esquálido, a timidez irremissível, a pele lívida, os olhos de um azul merencório, e o cobre puro da cabeleira radiosa. Seu modo de ser era tão misterioso que parecia uma criatura invisível. Assustada com tão estranha condição, a mãe lhe pendurava uma campainha no pulso para não perder o seu rumo na penumbra da casa."
Gabriel García Márquez (Do amor e outros demônios)

"Ainda que mal pergunte, ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda, ainda que mal repitas;
ainda que mal insista, ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima, ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre, ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare, ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga, ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame, ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano:

amor. "
Carlos Drummond de Andrade (As impurezas do branco)

2 comentários:

  1. Ei, Felipe!
    Que bom vc por aqui! Sempre passeio pelos seus escritos em papel de pão...manifeste-se se for contra palavras roubadas e postadas em blogs alheios...rs!
    E volte sempre, volte sim.
    =)

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