terça-feira, 4 de junho de 2013
Salve Tatus
Ontem dei um biscoito a Margot e ela, ao invés de devorá-lo no segundo um, ficou andando pelo apartamento em idas e voltas. Parava ao meu lado, olhava agoniada, soltava uns três "humpfs" e saía circulando de novo com o trem na boca. Fiquei ali sem entender. Até que lembrei que quando Dona Elzinha morava em casa, quintalzão e coisetal, Margot tinha um lado tatu forte, bem forte. Ela cavava buracos enormes (para um cachorro desse tamaninho), escondia coisas dentro e vivia com a fuça coberta de terra. Talvez seja isso: Margot sentiu saudades de achar um cantinho e fazer um esconderijo subterrâneo para o biscoito, criando a bagunça característica que enlouquece Dona Elzinha. Pensando bem, acho que o forte da Margot não era pagar de tatu, mas sim de enlouquecer minha mãe. Ela brincava de cabo de guerra com a mangueira na hora de aguar as plantas, subia no telhado (literalmente) e ficava lá na cumeeira, vendo a vida do segundo andar e causando pânico geral na vizinhança, revirava a horta e roubava folhas enormes de couve, e por aí vai. Margot é quietinha, boazinha, mas nas suas estripulias comuns de cachorro mexe com algo que pra minha mãe é muito sagrado: a boa ordem das coisas. E talvez essa seja sua função básica na relação entre as duas, mostrar pra Dona Elzinha que não dá pra ter o controle de tudo o tempo todo, que a gente tem que aprender a lidar com o inesperado, com os tropeços nossos e dos outros. A gente até pode achar ruim, mas a verdade é que os mini-caos são essenciais pra que a gente não se engesse tanto nas nossas coisas, no nosso umbigo dito "perfeitinho". Nem sei quantas vezes mamãe já quis doar a Margot, mas sei que ela sempre acaba desistindo da ideia e segue a vida com a cãopanheira nadaperfeita.
Somos TODOS nadaperfeitos. E é no contato com o outro que aprendemos a entender e enxergar o brilho dessa imperfeição. Aprendizado. Isolados somos falsos reis. Isolados somos nada.
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Dica boa
Li esse texto aqui e achei brilhante. Explica muito...
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A reflexão "para dentro" e a reflexão "do espelho". Uma, evolução; a outra, reclusão. Para reconhecer-se como indivíduo, o "eu" precisa do "tu". No espelho, Narciso. E são tantas outras coisas... Excelente.
ResponderExcluirexercício de aprendizado, né felipe?
Excluirque bom que gostou do texto. =)
beijomeu
existimos no outro sem sombra de dúvida! ;)
ResponderExcluirsimsim, lê!
Excluire ó, seu blog continua lindo lindo. =)
beijodocinho p'c!