sábado, 15 de março de 2025

Nada leve

Faz bem umas duas décadas que eu digo basicamente a mesma coisa a cada brinde: saúde e leveza. Mas confesso que já há algum tempo a segunda palavra me sai meio que agarrada na garganta. Não pelo que eu quero que ela signifique, mas pelo que muitas vezes ela representa de fato. Uma quase máscara com outro significado escondido por detrás. Comecei a me tocar disso em um passado já passado (ufa), em um movimento de retomada de protagonismo no "meu vidinha" (idiossincrasia). Lá estava eu caindo no mesmo buraco de sobrecarga : trabalho + logística doméstica + cuidado com os filhos, me responsabilizando praticamente sozinha por um conjunto de coisas que deveriam ser compartilhadas. E, já desperta e consciente, manifestava constantemente meu desagrado e indignação diante daquela disparidade. Aí veio a pérola: o problema não era a situação em si, mas a minha "falta de leveza". Eu deveria viver daquele jeito, nadando na merda (perdoe meu francês), sem reclamar nem exigir mudanças. A "leveza" era estar agradável ao outro, independentemente de como eu realmente me sentia. Bacana, né?. Então que dia desses falava eu sobre incômodos latejantes com outra pessoa quando ela me interrompeu e disse: "Calma, Iza. Vamos manter um tom leve!". Taí, de novo, esse mesmo sentido distorcido. Na boa, se for para encarar a leveza assim, como mansidão incondicional, eu a dispenso de pronto. Pra vida. Não quero ser leve. Quero ser a expressão genuína dessa paleta variada de sentimentos que fazem parte do existir, inclusive incômodo, raiva, indignação, tristeza, irritação e por aí vai. E que minha voz e atitudes sejam o reflexo PLENO desses sentires, os meus sentires todos. Porque leveza para mim é estar conectada comigo mesma e ser sincera em relação ao que eu realmente penso e sinto, sem que o outro seja a baliza avaliadora e limitante da minha fala. Para mim leveza não é mansidão , é plenitude.

Saúde e plenitude. Tim tim.


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