49 e 3
O 13 de julho virou outra coisa mais que o meu aniversário. Em 2022, foi também a data do dia um de separação, o dia do "nem mais uma noite". Só de lembrar me vem aquela força no peito, o pé firme bancando a decisão e uma serenidade controversa, um prenúncio de alívio. Até então eu via o fim do casamento como um quase fim do mundo. E protelava. Ouvia Chico Buarque cantando que "a saudade é o revés do parto" e cria na separação como o revés do amor. Mas bastou a concretização da experiência chegar para minha perspectiva começar a mudar. Passei a ver e sentir o término da relação como uma grande manifestação de amor. Pela vida, por mim mesma e, de uma maneira meio truncada (às vezes envolvendo raiva e mágoa), também de amor pelo outro. Porque há o entendimento de que estar junto daquele jeito não tem mais nada a ver com amor. Ali sim, permanecer na relação, seria o revés do amor e a separação é o grito pro resgate. É um suspiro fundo que puxa ar novo e nos abre para a possibilidade de uma vida que faça sentido. Sair de uma relação exaurida é um ato de amor imenso. Por isso acho que o divórcio deveria perder o estigma de fracasso e ser celebrado, ritualizado como outros tantos acontecimentos marcantes e decisivos pelos quais passamos. Tanto que na época fiz uma despedida de casada: festa, bolo, lembrancinha, karaoquê. E ontem celebrei o ano três com água de cachoeira escorrendo pela nuca e sol no rosto, com a alegria de estar em mim e rodeada de amor por todos os lados. Viva.
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