segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Diária, querida, como é mesmo que se soletra "saída"?

Acordei querendo férias. Não do trabalho; poderia seguir trabalhando até sozinha pela equipe inteira semana afora sem problemas, sem problemas. Mas queria férias de todo o resto. Breves ou longas, não sei. Mas sei que esse descanso que queria, do mundo e da vida, é inalcançável e impraticável no real, dentro da minha escolha diária de estar e permanecer viva. Mas queria um pouquinho. Queria um grande e intenso nada dentro da minha calça de flanela xadrez, da camiseta rosa de que não gosto e das minhas meias de nuvem abraçantes de pés. Queria esse nada. Ver ninguém, falar com ninguém. Trancar o celular desligado na gaveta e me entregar ao nada. Por que essa última semana foi um mar revolto de TANTO, assim, em letras garrafais, que preciso de descanso. E não se engane, diária, tive um fim de semana gostoso de sorrir em maratona festiva com pessoas que amo, vendo nossas crias, também juntas, também entregues e felizes no estar ali. Mas, de uma outra forma, me sinto esgotada. 
A verdade é que o que aconteceu com Ela (é assim que irei chamá-la) mexeu comigo de um jeito que me faltam metáforas para explicar. Um rasgo? Uma gigantesca lente de aumento tornando insuportável o tamanho do já claro e explícito? Não sei. Não foi na minha pele, eu não estava lá, não foi comigo. Mas é como se fosse. Por que foi. Não foi, mas foi. Por que entendo não só no raso do racional. Entendo no íntimo, na subjetividade e, no reverso, no que há de mais coletivo e humano em mim e nEla. Entendo num sentido conhecido, que já fazia sentido, mas por efeito do choque ganhou outros contornos. Expandiu seu contorno num clarão de obviedade que beira o insuportável. De novo, a palavra insuportável. E como se calar diante disso tudo, do acontecido e do além dele? E por que se calar? Por que essa regra? Por que não trazer pra realidade o que é realidade? O que fazer com a brasa, a revolta (a revolta!), a necessidade de grito? O que fazer com o engasgo, o medo, o choro contido? O que fazer com o absurdo senso de inadequação normalizado, incentivado e socialmente instituído? Como trazer à tona a consciência do macro e do micro se ficamos aqui mergulhados na regra do não dito? Não sei, não sei. E sei ah como sei do silêncio querido, das suas propriedades curativas, da importância salutar dos hiatos. Sei. Mas não consigo conceber o silêncio como chão para a revolução. Pra mim, o terreno fértil pra revolução é a palavra. A palavra compartilhada nos torna mais conscientes, aponta caminhos para mudanças concretas no eu e no nós, nossos nós. E meu anseio por quietude me traz ainda mais a certeza de que é hora de não se aquietar. É hora de pular as cercas e enfrentar os cães. Mudar quase tudo. Pagar os preços todos. Mas como se conformados, sozinhos no silêncio? Não entendo. Mas entendo, feliz ou infelizmente, que minha exaustão de agora vem de fato dessa junção coletiva de silêncios conformados. Estou cansada do som oco do não grito. Quero o nada por querer tudo. E por, sozinha, não ver saída. 

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