terça-feira, 14 de outubro de 2025

Querido diário, oi.

Ontem finalmente choveu. Choveu forte. Me despedi cedo da casa cheia de gente e vim pro quarto para ler Carrère e me deixar ritmar pelo barulho da água. Ritmada, apaguei a luz para sentir o som de outro jeito e adormeci sem perceber, ainda sob os efeitos relaxantes de uma das histórias que irei contar. Acordei antes do Sol e saí de casa sem levar sombrinha, cantando "se chover eu tomo chuva com vontade de molhar".

Dias intensos por aqui. Três histórias que têm em comum o fato de terem sido desencadeadas pela palavra dita. Eu e você, eu porque sou escritora e você porque é um diário, sabemos bem do talento que as palavras têm de materializar a vida, da beleza e dos perigos da concretude da palavra. Um parêntese: E. me disse hoje que verbalizar cria realidades. Achei bonito e fez sentido.

Pois sim que ano passado, palavras duras ditas por mim caíram como pedra grande em água de lago, provocando movimento inescapável para tudo que estava ali parado por tempo demais. O que já não era deixou efetivamente de ser e, nesse processo, houve quem ficou e quem escolheu se afastar. Aí o tempo que é tempo e roda sem pressa buscando chaves escondidas em caixas de mudança trouxe ares de reaproximação e entendimento. Trouxe também seis braços abertos. Parece que pisquei os olhos para abrir e nos ver ali, juntos de novo. Amores conhecidos em recomeço. Senti aquela alegria que se espalha em luz e cobre todos os cantos. Senti a vida se expandindo. Essa é a história 1 e não, ela não termina com créditos que sobem depois da palavra "fim", ela não é história assim.

Já a história 2 vem de passado bem recente e já adianto que ainda não posso precisar o tipo de desfecho. Mais uma vez, palavras ditas por mim - só que agora de afeto genuíno -, parecem ter caído como pedra grande em água de lago, trazendo movimento inescapável para o que estava em movimento. É o que parece. Parte de mim se entristece com um possível fim, parte acredita no alinhamento de quereres e eu toda sei que não há do que me ressentir. Nem do vivido nem do dito. E se o desencaixe veio para deixar claro que o estar juntos perdeu o sentido, vai me restar sofrer um cadinho e seguir em frente, feliz por levar essa história comigo.

A história 3 é fresquinha, de ontem. E ufa que a voz de palavra falada dessa não sou eu, apesar de eu ter também falado um pouco e ter desfilado muitos sins. A sessão de terapia energética foi uma espécie de transe guiado. Na sorte de ter Nina como guia, me entreguei e vi cores e percorri trajetos desde a natureza pura do centro da Terra ao espaço sideral e atravessei camadas gelatinosas e aprendi o caminho para o meu espaço branco, meu espaço de paz. Meus dedos dos pés viraram raízes e o topo da minha cabeça se abriu em luz. Foi muito e foi tanto. Tanto desnecessário saiu, tanto preciso se fez presente, tangível, ao alcance das mãos. Tanto visto, sentido, tanto transformado. Saí de mim e saí de lá mergulhada nesse caldo sensível e criativo. Saí de lá mais em mim e mais pro mundo.

Verbalizar cria simsim realidades. E a realidade criada depois da palavra dita não está mais na nossa alçada, escapa do nosso controle. Pode trazer desenrolares inesperados e de toda ordem. E, quanto mais vida vivo, mais entendo que pra mim faz sentido correr esse risco. O risco da beleza e dos perigos da concretude da palavra.

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

E
"Amar é sofrer/ eu vou te dizer/ mas vou duvidar", bem escreveu João Donato para Angela Ro Ro cantar e para euzinha aqui acatar. Não duvido da afirmação ou da dúvida. Amar é sofrer. E cabe duvidar. Porque o amor é mais, bem mais, mas traz um sofrer garantido emaranhado no todo diverso. Pois sim. Daí que agora me pego conjugando verbos desse balaio e amo e sofro. Amo a alegria na prosa e no corpo, os lampejos surpresa, as pequeninas graças e um ou outro eventual momento de arrebatamento. Amo o sentido em mim, o sentido que sai de mim para o outro e os quereres que vão abrindo mato sem pressa, ritmadamente. Amo o simples, me águo. E sofro. Sofro pra dentro com supostas incertezas, com minha ambivalência quase crônica, com a ausência manifesta do que falta. Por vezes me sinto como quem busca por vento abanando um leque fechado. Me seco. E depois passa, o ambiente vira ar. Tudo tão típico, tão clichê. Tão novo e ao mesmo tempo mais velho que o próprio tempo em si. Poetizo, degusto, engasgo, sofro e amo. Mas não me engano, sei que gosto do frenesi desse lugar e me permito ficar até. Até chegar a hora de ir. 
Que demore. Ou seja breve. Sem porquês e com todos eles.
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Rádio Plutão


quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Sutis

Passo roupa ou paro para escrever? Um exemplo dos nada glamourosos dilemas cotidianos. E veja bem que não parar para escrever não significa necessariamente ter parado de escrever. Minha mente segue escrevendo. De perguntas retóricas a textos inteiros que vou tecendo ao longo dos dias. Num passado um tanto já distante, eu usava o que tivesse à mão na hora que fosse por receio de perder os meus rotineiros lampejos palavreiros, pois sabia bem da força presente do esquecimento em mim. Achava uma boa alma que me emprestasse uma caneta e lá se iam guardanapos, versos de recibos, braço esquerdo. Certa vez, no falecido e saudoso Schlob, me fechei no banheiro e escrevi um "trecho esparso sobre o amor" que saiu pronto e definitivo na parte alta das coxas. Mas não funciona mais assim. E nem é porque o celular cumpre essa função de cobrir as urgências da escrita. Hoje, não me importa tanto deixar ir. Deixo ir o que for de ir. Outras coisas serão escritas ali na esquina. Ou não. O tempo vivido vai ensinando a gente a perder, a entender que as coisas seguem em movimento. "Viver é perder", bem disse Milly Lacombe. Mas veja bem que aprender a perder não significa necessariamente ter parado de sentir as perdas. Sinto. Só acho (ou quero crer) que hoje sei descascar com algum sucesso os medos que criava em volta delas, das perdas. Acho (ou quero crer) que sei perder melhor. Aí sobra energia e olhar para perceber outros medos mais sutis, antes desconhecidos, mas não menos importantes. Medinhos escondidos nas beiradas, no fundo das gavetas, dentro de páginas marcadas de livros. Mergulho neles. Nos sutis.

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Retórica

E se te confunde o amor "com todo o seu tenebroso esplendor"?


domingo, 7 de setembro de 2025

De/para

Ela afirma que o mundo é um lugar horroroso e eu entendo. Entendo que não é pessimismo nem drama. Entendo quando ela diz essa verdade assim, sem alarde. Que isso não implica necessariamente a ausência absoluta do bom e do belo. Há bondade, há beleza. Há arte que nos toca e move, há gente que caminha junto, há amores pelo caminho, há afeto sincero (ainda que raro). Há este sol da tarde que esquenta minha pele e cai sem peso, sem medo. Mas simsim o mundo é um lugar horroroso. É tanta perda, tanta queda, tanto susto, tanto caos. Fico pensando que seria menos sofrido se encarássemos o inescapável horror assim, sem alarde, sem choque. Pelo simples fato de ser fato, de ser inescapável. O lance é que estamos inseridos até a ponta do nariz em uma cultura que proclama, profetiza e promete uma alcançável satisfação plena que é irreal. É irreal. Daí cria-se uma transferência. Os reveses, que são da vida, passam a cair na sua conta. Como se os problemas não acontecessem por que problemas acontecem, mas por que você não foi e não é suficientemente capaz. Você se torna pessoalmente responsável por tudo que cai. Como se fosse possível só ter o bom e o belo e evitar a perda, a queda, o susto, o caos. Aí o mundo, que já é um lugar horroroso, fica insuportável. E eu sinto muito. Sinto tanto que seja assim. Que não possamos ser mais sol e cair sem peso, sem medo.

domingo, 31 de agosto de 2025

" eu abro meu Neruda e apago o sol..." 

Os tão tocados e tão tão movidos pelas palavras. Nós. 
A ridiculamente desafiadora tarefa de educar filhotes. Você não sabe a hora que vai precisar ensinar o que nem sabia que precisaria ensinar. A situação simplesmente se dá e pronto, vire-se. E você se vê ali, tentando dizer com algum sentido algo que não sabe se sabe dizer e nem sabe se os filhos vão saber entender. É não saber atrás de não saber. Às vezes me sinto em mar revolto, tendo que segurar o barco na força do braço e ao mesmo tempo dar orientações a pequenos tripulantes que mal sabem a diferença entre terra e água. É desesperador. Mas sinto que quando falo pra eles desta minha teia de não saberes, me abro, me vulnerabilizo, eles se esforçam mais pra me ouvir, me entender. É um cadinho menos pior e mais produtivo mas, putz, só alivia um pouco a sensação de que fui erroneamente escalada para um papel que tenho zero expertise pra interpretar. E quem tem? 
Acho sotaque um lance muito interessante. É um jeito de cantar a fala. E se o de Minas, que me é tão familiar, segue arrastando palavras diminuídas e diminutivas, o do Rio Grande do Sul se apresenta aos meus ouvidos quase como outra língua. É todo um vocabulário diferente e todo um jeito de colocar ênfase no final de certas palavras ou no final de todas elas. Acho graça. Por vezes me perco tanto observando essa cadência que não presto atenção no que ele diz. Aí rio em "eita viajei o que que cê disse" ou simplesmente disfarço. rs 
Amo o gramadão dos cachorros por um leque de motivos: o espaço aberto, a grama, a luz da tarde, as crias soltas se soltando com os bichos - envolvendo tropeços, quedas e arranhões-, a prosa boa com os humanos dali, o sol que vai sumindo aos poucos até que sua ausência completa nos diz que é hora de ir embora. Isso tudo é lindo. Mas confesso que o que mais me apetece é EU estar em meio a, sei lá, 15 cachorros. E aprender os nomes e fazer carinho e correr junto e ser quase atropelada e sentir falta dos que faltam e jogar bolinha e aprender o jeitinho de cada um e ter meus preferidos. Me sinto a Iza criança no quintal da casa da Vó Elza com a nova ninhada de Mila e Galbak. Me sinto a Iza criança sendo a Iza criança. 
Tanto a dizer sobre "Um romance russo" e sobre o impacto de "A rosa mais vermelha desabrocha" e sobre a prosa poética quente e de ar parado de "A cabeça do santo", mas sou mãe cansadita e repito hoje não, hoje não, hoje não.
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Rádio Plutão 




domingo, 24 de agosto de 2025

"Caminar descalzo, caminar despierto"

Bastante tempo sem escrever. Quase duas semanas escrevendo na cabeça sem parar para colocar um a no papel. Dias e dias seguidos de mais dias com energia quase nula para o virtual e mantendo, na medida do possível, olhos e mãos longe da tela do celular. Sinto que, cada vez mais, quero cada vez menos dessa órbita e que de tempos em tempos preciso me afastar pra conseguir dosar, achar o tanto muito ou tanto pouco que faz sentido pro agora em questão. E a verdade é que não tem sido algo que demanda esforços, disciplina. É como se fosse um movimento necessário e natural. Como se uma clareza observativa se abrisse em mim, mostrando para onde minha energia quer ir, e meu corpo e mente a seguissem sem resistência. Aí que andei imersa, solta em outros ares. Deliciosamente solta. Com tempo até quando sem tempo. Imersa em mais silêncio, em leituras, em saudade leve e gostosa, em contemplações quase meditativas, em estar presente com outros nos mais diversos lugares, de gramados a bares. Imersa, presente, solta. De mim e em mim.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Retórica 
E se a mola da gana de fato morar fora do linear? No que escapa do roteiro, no que desvia, no descontínuo?
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Rádio Plutão 



sábado, 2 de agosto de 2025

Bonito isso

com Milly Lacombe, que é belíssima 

Perai que vou buscar meus óculos. Pronto. Bem melhor. E é por aí.  Quando criança tinha esse sonho de usar óculos por que achava (e ainda acho) absurdamente marcante e charmoso, mas eu tinha olhos de águia, visão perfeita. Aí que aos 44 fui renovar minha CNH e descobri que não conseguia mais ler bem de perto. Hoje, aos 49, a vida de perto é só borrões se sem óculos. Rolou um tempo de adaptação, mas confesso que adoro meus óculos e, de verdade, adoro precisar deles. Não tenho síndrome de Peter Pan, eu acho. Fico bem feliz que não morri (pra morte, por que em vida já dei umas morridinhas) e vou juntando em mim minha bagagem. Me orgulho dela com o seu pior e o seu melhor. Entro em uma ou outra crise de quando em vez, pois estou inserida nesta cultura etarista e misógina e machista do cacete, mas me sacudo e saio delas em 3, 2, 1. 

Bom, introdução à parte, o ponto é meio que esse e meio que outro. Queria falar sobre as rugas. Estou assistindo ao seriado The Pitt e putz, o Noah Wyle. Lembro dele dos tempos idos de E.R. e que bonito é vê-lo com seus 54 anos e suas rugas. E veja bem que eu não estou me posicionando politicamente (apesar de estar). Eu acho realmente bonito Noah e suas rugas. Bonito. Atraente. Verdadeiramente bonito. Minha pergunta é: quem inventou que envelhecer é feio e deve ser evitado esteticamente a todo custo? Quem? Que loucura é essa? É genuinamente bonito, na boa. E talvez W. tenha chegado em minha vida também pra reforçar este olhar. Ele é 11 anos mais velho que eu, e eu o acho bonito, repetindo, genuinamente bonito. Quem decidiu em caráter coletivo que o tempo vivido imprimido na pele é feio e deve ser negado? Sou a única mulher de 49 anos que conheço que nunca fez nada de harmonização facial e nunca me senti tão bem. Sei que posso mudar de ideia (não linear e contraditória, lembra?) mas confesso que tenho hoje em mim uma autoestima quase delirante. Gosto de quem me tornei, do que penso e emano, da minha aparência, do meu estar de agora. Não tenho mais rosto de menina e por que teria se não mais sou? Tenho meu rosto de mulher. E acho realmente belo Noahs e Ws e Eus exibindo suas trajetórias no rosto. Como isto não pode ser belo? É! Pra mim é.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

"vermelho sangue, verde oliva, azul celestial..."

☆ Venho por meio desta dizer que, aparentemente, o inverno acabou. Celebro e me sinto pronta para reclamar do calor desalmado quando setembro chegar. 

☆ Toda uma geração que foi alfabetizada ouvindo Marina Lima e passou a vida soletrando fugaz em caderninhos e cartas tendo Marina como fonte. Até que o corretor automático veio enfim dizer que não não, que o gás total é sem L e e com z. Achei bonito. Tanto ter escrito errado mas certo esse tempo todo quanto descobrir um jeito certo mas errado novo de escrever. 

☆ O cheiro fresco e úmido de roupa recém pendurada no varal.

☆ Eu me olhando de fora e quase sempre vendo sentido em estranhar meus ímpetos primeiros. Basicamente um eu contra eu pra então achar o a favor. Quase todo dia. Em cartaz em mim.

☆ Outra batalha é ouvir o corpo e atendê-lo no que ele pede, jogar a rigidez em relação à malhação pros ares. Fácil não. Esse fds teve teatro, boteco com cerveja agarradinha na cachaça (oi, Minas), torresmo, prosa ao sol, chamego noturno sem pressa e me permiti não pisar na academia, me controlei na minha cartilha quicante. Passei o domingo quietinha e, em agradecimento, meu corpo me colocou pra dormir às 20:36 e segui feliz até acordar com o primeiro sabiá laranjeira. Só ganhei nesse exercício de escuta. Mas é fácil não. 

☆ O choque de ter o que queria. Um susto. Aperta áspero e me solta macia em movimento contínuo. Tátil.

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Rádio Plutão 

Nova da Noga no repeat





sábado, 26 de julho de 2025

Filhos de mim

Nós ali sentados no banco esperando por Pedro, em chamego e brincadeira, quando André me pergunta: manhê, qual é seu ponto fraco? E lá vou eu: filhote, talvez seja o silêncio. Nos seus opostos. A presença marcante dele me incomoda, me faz preencher os espaços vazios com dúvidas e devaneios que via de regra nem fazem sentido. Eu sou da palavra e entro em conflito com o não dito, entende? E, por outro lado, me perco de mim e do outro quando o silêncio me falta. Preciso do silêncio, do tempo, do respiro. Preciso de espaço para elaborar o que eu penso e sinto. Preciso da falta. Mas nem sempre sei lidar com ela. E ele diz: não, mamãe,  é o ponto fraco no corpo. O meu, por exemplo é a cosquinha. AÍ eu não soube responder. E como ri. rs.

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Por que eu amo a Fal


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quinta-feira, 24 de julho de 2025

Trecho esparso sobre o amor

O nome dele, um sussurro. O desfecho de um suspiro. Os erres que não sei se sobem ou descem ao final das sílabas soam despretensiosamente como um quase ronronar. Algo singelo. Mas para minha voz, com o meu sotaque, parecem evidentes demais, a ponto de eu me constranger. Ou não. O nome dele. Ele. E eu solta em sons.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

 " olha o meu charme, minha túnica, meu terno..."

quem não pode jacumã, vai de olhos d'água 

E este sorriso estalado? Esta cútis cheia de viço? Esta dancinha enquanto escova os dentes cantando p.l.e.a.s.e (oi, Noga) em pretenso silêncio? Esta energia saindo quicante por todos os poros? Fim das férias escolares, darlings.

"Janelas escancaradas como bocas que bocejam". Karl Ove Knausgård. Bonito isso.

☆ Fui a um café encontrar cazamiga e lá encontrei uma outra que não via há tempos mas sabia eu que ela tinha se divorciado recentemente. Aí ela me conta o que rolou e né, putz. Se Chico Buarque estivesse ao meu lado, sussurraria em meu ouvido "não sou eu quem repete a história, é a história que adora uma repetição". Que merda! Sou capaz de tacar o caderno na cara de quem disser "nem todo homem", por que é o homem na maioria esmagadora das vezes. E não pense que falo aqui em cima de um palanque de moralismos ou regras impraticáveis. Sou a mulher que carrega "não linear e contraditória" piscando em neon na testa e sei que todo mundo faz merda, todo mundo pode ser escroto e magoar os outros de quando em vez. Mas escrotice continuada, sustentada no tempo e no espaço, com a pessoa que está ali subindo a montanha contigo, aí não. Acho o fim da picada. Sabe o que eu queria? Peraê que vou abrir um meu reino inteiro só pra dizer.

Meu reino inteiro 

Por um feitiço que, diante de uma escrotice consciente e continuada, faça o pau dos caras ir apodrecendo até cair no sétimo dia. Quem sabe seria didático.

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 "mas não tem nada não, tenho o meu violão". 

☆ Há os que adoram estar sempre certos, cobertos com o manto adamascado da razão. E há os que até apreciam a beleza dos próprios tropeços, suspiram ufas quando se percebem equivocados. Talvez não por maturidade mas por um senso crítico um cadinho mais apurado em relação a si mesmo. Ou então, se pá, por simples estratégia de sobrevivência. Não sei. Perdi o fio da meada. rs.

E eu que sou a rainha do falo o que sinto me peguei segurando a palavra ali, na pontinha da língua. Mas isso é prosa que carece de elaboração, prosa pra texto. 

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Rádio Plutão 

Quer...

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sábado, 19 de julho de 2025

Trecho esparso sobre o amor 

Parte de mim tem sobrenome escapar. Mapeio vielas escondidas, examino a viabilidade de terrenos de passagem e guardo senhas batidas no bolso. Enxergo rotas de saída em portas de entrada e, não satisfeita, chamo outrem para entrar. Decifro códigos talvez nem escritos. Desenho possíveis obituários no canto do caderno. Deixo a mochila pronta e prendo os cachos no alto, também pronta. Alongo o corpo, afino os olhos e me faço Rita em "cartão postal". E não sei se mais me acho ou me perco nesse ensaio supostamente sem palco.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

 "cada estrela se espanta à própria explosão"

☆ Fal sempre fala tanto da importância do registro e eu não só digo amém como afirmo ser tatuável "sou uma crente do registro ". 2012, que ano horrível. E como é bom reler e me ver ali me debatendo. Eu não estava passiva. Melhor ainda reler e ver que não estou mais lá. Um grande sonoro e prolongado ufa.

☆ Ainda sobre o tema acima, eu boto  fé que toda vez que alguém começa a escrever um diarinho, o universo inteiro agradece. E se o diarinho é compartilhado, eu agradeço (oi, Davi).

☆ Os filmes do Wes Anderson. A estética, as cores, a fotografia, os diálogos, aquele ritmo permeado por um todo díspar. "O Esquema fenício " e a abertura com aquela cena no banheiro. Putz. Assistiria mil vezes partindo em pedaços e degustando segundo a segundo.

☆ E como não confessar que estou apaixonada? Suspirante, olhos brilhantes, ridiculamente entregue. Querendo tudo, querendo o todo, querendo mais. Sou puro amor pelo meu e só meu recém chegado óleo de canabidiol. Noite passada dormi oito, eu disse OITO horas de sono. É um soninho bom, uns sonhos macios, uma sensação de descanso que nem sabia mais que poderia existir. Sou só amor, sou só bem querer. 

☆ Feminista de merda. E. abomina a expressão pelo mesmo motivo que pra mim faz sentido usá-la (assassinei o português aqui, produção?). Diz ele que fomos criadas em uma cultura machista e misógina então sempre haverá contradição em nós, independentemente do quão "feministas" somos. Por isso não há que se falar em "de merda" pois é uma condição esperada. E, pra mim, exatamente por ser uma contradição via de regra inescapável, mesmo com letramento e atitudes outras, ela é uma merda. Ela não deixa de ser merda só porque temos clareza da contradição. Bem, discordâncias em concordâncias à parte, estava lá eu na melhor linha "então é outra festa, é outra sexta-feira" quando parei para me perguntar se aquilo que eu me dizia querer eu queria de fato ou queria de modo automático, mais para os outros que para mim. E minha resposta foi diametralmente oposta ao "meu querer" inicial. Me senti simsim uma feminista de merda. Mas não com ares pejorativos. É mais como um percalço (ui) natural no caminho de quem questiona o script e, boa parte das vezes, rompe com ele. Consegui me explicar? Bom, as 6 pessoas que leem o blog sabem que nem sempre me faço entender, então está tudo sussa. 

☆ Me interesso tanto. Me desinteresso tanto. Aí me interesso tanto. Às vezes nem eu dou conta, na boa.

☆ André Alves e a empatia. Era outro tópico, mas hoje não. :)

terça-feira, 15 de julho de 2025

49 e 3



O 13 de julho virou outra coisa mais que o meu aniversário. Em 2022, foi também a data do dia um de separação, o dia do "nem mais uma noite". Só de lembrar me vem aquela força no peito, o pé firme bancando a decisão e uma serenidade controversa, um prenúncio de alívio. Até então eu via o fim do casamento como um quase fim do mundo. E protelava. Ouvia Chico Buarque cantando que "a saudade é o revés do parto" e cria na separação como o revés do amor. Mas bastou a concretização da experiência chegar para minha perspectiva começar a mudar. Passei a ver e sentir o término da relação como uma grande manifestação de amor. Pela vida, por mim mesma e, de uma maneira meio truncada (às vezes envolvendo raiva e mágoa), também de amor pelo outro. Porque há o entendimento de que estar junto daquele jeito não tem mais nada a ver com amor. Ali sim, permanecer na relação, seria o revés do amor e a separação é o grito pro resgate. É um suspiro fundo que puxa ar novo e nos abre para a possibilidade de uma vida que faça sentido. Sair de uma relação exaurida é um ato de amor imenso. Por isso acho que o divórcio deveria perder o estigma de fracasso e ser celebrado, ritualizado como outros tantos acontecimentos marcantes e decisivos pelos quais passamos. Tanto que na época fiz uma despedida de casada: festa, bolo, lembrancinha, karaoquê. E ontem celebrei o ano três com água de cachoeira escorrendo pela nuca e sol no rosto, com a alegria de estar em mim e rodeada de amor por todos os lados. Viva.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Georgie Jones - Resoluções para felicidade 

 N° 12  "Surpreenda-se com algo pequeno todo dia. Uma sombra, uma frase, uma colher ".

☆ Sobre o branco, o movimento lento dele de abraçar meu pé com a mão.

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Palavra roubada

"Glitch love

do amor ter sido a sorte

da morte 

do amor ter sido amor

tecido à sorte

do amor

à morte e a sorte

do amor ter

vencido 

do amor ter amortecido a morte 

e sido"

Davi Machado (Aqui)


sexta-feira, 4 de julho de 2025

 " e sonho soluções fenomenais..."

☆ 17:35. Tardinha que cai, minha hora preferida no dia. E sim, estamos em julho e acredito ser senso comum que esse é o mais gorjeante dos meses. Nada a ver com o fato do meu aniversário ser no dia 13 e ser também o Dia Mundial do Rock. Nada a ver.

☆ Fui visitar escritos antigos (oi Davi), lá dos idos 2010 e, pelamordadeusa, que obsessão por uma idealizada "leveza".  Aff que dá uma vontadinha de sair apagando, mas não, né? A gente foi quem foi pra ser quem a gente é, quem a gente está. Então tá valendo. 

☆ Lendo "A morte do pai", de Karl Ove Knausgård e degustando a maneira na qual ele descreve sua criança perceptiva e observadora, inserida naquela cultura familiar tão tão rígida e tão igualmente familiar pra mim. 

☆ Gosto dele. Esta afirmação teve o patrocínio da oitava série B (oi, Falzuca). rs. E gostar, pra mim, decerto por ser algo que não acontece com frequência no campo afetivo-sexual, carrega um quê de estranheza. Me estranho. Estranho estar neste terreno único, não antes pisado por mim nem pelo outro, um todo novo. Acho bonito, excitante e estranho. A sensação que tenho é a de que tudo sinto e nada sei. Ou quase algo sei já que sei que me estranho. E sei também que minha boca talvez não se mova, mas meu olho abre em sorriso quando a gente se vê.

☆ E se a Iza de 2010 era obcecada por leveza (blé), a de 2025 tem como alvo Georgie Jones e sua escrita recitada. Não me canso.  AQUI


quarta-feira, 2 de julho de 2025

Imo

Falhos. Intrinsicamente falhos. Ou meramente humanos, por assim dizer. E às vezes sem perceber, em movimento mais que natural, mergulhamos fundo nas nossas fendas, nas nossas ladainhas, na nossa pequenez mais genuína. E ali engendramos análises mirabolantes e perfis adversos e planos plausíveis que fazem MUITO sentido. Bem, MUITO apenas no secreto âmago de nós. Até que conseguimos enfim respirar, respirar de fato, e iniciamos o movimento de volta. Nos afastamos do conforto caótico da nossa gema e aos poucos sentimos certa clareza chegar. Esticamos os braços para alcançar o Eu que existe para além de nós e espreguiçamos como quem acorda de um sonho ruim, de uma viagem errada. Mas vira e mexe voltamos para lá, talvez entendendo melhor os ditames do passeio amargo e aprendendo a não se demorar. E penso que não é problema o imo ter ares de inescapável. Desde que consigamos, de alguma forma, escapar.

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Rádio Plutão 

"eu abro meu Neruda e apago o sol"


Aqui

terça-feira, 1 de julho de 2025

Retórica 

E quando não há chão para o clássico e esperado "mas agradeço por"? Quando o que há é batida de pé que anseia por cegueira de poeira pra enxergar o não visto?

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Bishop 



domingo, 22 de junho de 2025

Trecho esparso sobre o amor 

Ela imprimiu o silêncio. Jogou para o campo do inexistente o que viria, como se ele assim passasse de fato a inexistir. Mas não se calou no todo. Falou e cantou e riu sobre coisas outras da vida mostrando estar bem, confortável naquele hiato criado. E eu, que sou por demais galgada na fala, na palavra, guardei o silêncio no engasgo da garganta e fiz o que podia: respeitei. Não cabe a mim invadir o que nela nem é.