terça-feira, 14 de setembro de 2010

Presente palavrado
"Lutar com palavras é a luta mais vã.Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio,apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça. Insisto, solerte. Busco persuadi-las. Ser-lhes-ei escravo de rara humildade. Guardarei sigilo de nosso comércio. Na voz, nenhum travo de zanga ou desgosto. Sem me ouvir deslizam, perpassam levíssimas e viram-me o rosto. Lutar com palavras parece sem fruto.Não têm carne e sangue…Entretanto, luto.Palavra, palavra(digo exasperado), se me desafias, aceito o combate.Quisera possuir-te neste descampado, sem roteiro de unha ou marca de dente nessa pele clara. Preferes o amor de uma posse impura e que venha o gozo da maior tortura.Luto corpo a corpo,luto todo o tempo, sem maior proveito que o da caça ao vento.Não encontro vestes,não seguro formas,é fluido inimigo que me dobra os músculose ri-se das normas da boa peleja.Iludo-me às vezes,pressinto que a entrega se consumará.Já vejo palavras em coro submisso,esta me ofertando seu velho calor,aquela sua glória feita de mistério,outra seu desdém,outra seu ciúme,e um sapiente amor me ensina a fruir de cada palavra a essência captada,o sutil queixume.Mas ai! é o instante de entreabrir os olhos: entre beijo e boca, tudo se evapora.O ciclo do dia ora se conclui e o inútil duelo jamais se resolve. O teu rosto belo,ó palavra, esplende na curva da noite que toda me envolve. Tamanha paixão e nenhum pecúlio.Cerradas as portas,a luta prossegue nas ruas do sono." Carlos Drummond de Andrade
Obrigada,meu bem... você que entende minha cartilha... bom saber que não sigo sozinha em meus embates palavreiros "nas ruas do sono"...seguimos eu, o moço drummond e essa sua energia colorida.Você é um presente novo a cada dia, Coquine!Agradeço...
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Trilha segundeira
Sim,sim...porque a segunda sacolejante ainda não acabou!Salve salve Criolina e La Cartelera ska! Rá!
"Sente este samba quente que é muito legal
É super pra frente, é bem genial
Embalo como este só quem vai curtir
Quem não se machucar quando deixar cair
Por isso vem, vem...embale na nossa
Este balanço tira qualquer um da fossa
Ele é um barato e é da pesada
Esse é o famoso 16 toneladas
Eu bolei o ano inteiro este samba pra frente
É gostoso paca, é um samba decente
Segure esta conversa, segure a jogada
Quem não gosta de samba não gosta de nada
E a curtição no samba empolgado
É o flamengão num estádio lotado
Turma da pesada que segura a parada
Esse é o famoso 16 toneladas
Eu já dei o meu recado agora vou me mandar
Vou refrescar a cuca pra poder incrementar
Porque cuca cansada só dá confusão
Onda de pirado deixa a gente na mão
Por isso nem vem, não vai me encontrar
Agora estou na minha pois estou devagar
Já disse o que queria a toda rapaziada
Ai, oh ... é o 16 toneladas" Noriel Vilela
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Da cor
Fitas finas de cetim de quase toda cor se enrolavam escondendo a madeira escura da cadeira. E aquele arranjo de cores tirou do objeto sua função principal. Pelo menos era assim que eu a via. Seria incapaz de sentar-me ali. Não era mais cadeira, era coisa outra admirável. O fascínio pelo colorido combinado com uma frase de Lispector grudada na cabeça me fez ficar ali por algum tempo. Abri a bolsa gigante, escrevi uma dúzia de palavras no verso do talão de cheques, calcei os sapatos vermelhos e fui lá sentir a textura escadinha do cetim. Indo com o polegar... voltando com o indicador. Sentido da cor. Desisti da maçã. A poesia visual me bastou.

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