sexta-feira, 26 de abril de 2013

PSs
Esse céu, esse céu, esse céu.
Sabe a linha "a melhor hora é agora"? Os dias têm sido assim, amém.
Ele engatinha, manda beijos e bate palmas. E eu amo.
Quem sou eu pra falar alguma coisa?
Quem sou eu pra ficar calada?
Tão deliciosamente silenciosa aquela meia hora antes do ar condicionado.
72 pra 81 e 81 tá leve. São os joelhos agradecendo. =)
A grama do vizinho. Verdinha, né?
O entendimento tem pés próprios. Não precisa de concordância pra caminhar.
Jeannjeann tá virando nosso coach pq né. Ele tá de um jeito que é só olhar pra prova e ele já tá passando no concurso. E a eu não me canso de compartilhar a alegria das conquistas dele. =)
"O Fantástico Mundo de Gregório" é de rir e rir e rir.
Pequi, vc tá aí, meu amigo? =)
Li e reli : http://blogs.estadao.com.br/link/curtir-e-covardia/. Dica boa da Vá.
Explicitude.
Polidez.
Amarelo limão e mão.
"Desejo = necessidade + vontade". É.
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Rádio Plutão
pergunta:
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Mini contos sobre a falta

Quantos dias mesmo? Foram, de fato, dias? Ele não se lembrava. Não sabia ao certo quanto tempo tinha passado longe dos pincéis, mas sabia que tinha. A tela parecia um objeto como outro qualquer no canto da sala. Não era. Ela seguia em espera silenciosa, daquele tipo que de tão quieta nem traz agonia. A tela, o canto da sala, a janela. E ele ali, diante do café não tomado, do pão não mordido, do gosto distante. Sentia ressaca sem ter bebido, sem ter dançado embriagado, sem ter perdido o sentido. Mas tinha. Andou pela sala, sentou-se e espremeu os olhos tentando se ver nas cores, no traço. Buscou algum resquício da inspiração primeira, da fluidez, da escolha das tintas, do barulho do pêlo pelo pano, mas tudo isso tinha se mudado da tela. Ele queria pintar e não conseguia. Ele queria rasgar a tela e não conseguia. Mas tinha.

Ela comeu só metade da maçã. Não precisava se fartar. Naquela hora, precisava de quase nada. Não "entoou hinos", não chorou rios, não gritou farpas. Não precisava se fartar. Apenas abraçou seu luto em pequenina reclusão. Sofria um pouco pelo perdido, um pouco pelo tempo cedo, um pouco pelo que queria. Mas sofria mesmo por conhecer de data aquele talento que ela tinha. Sabia que sabia esquecer como ninguém. Sabia bem que sabia viver sem. E por isso sofria.

Ele chegou depois de um mês do início das aulas e escolheu como lugar fixo na sala a carteira atrás da dela. Lucas. Alice sentiu algo estranho desde o minuto um e a presença dele causava um desconforto diário e implacável. Lucas tinha a pele clara, cabelo escuro e sotaque do sul. Alice tinha olhos gigantes, cachos que mudavam de cor e um dente pendurado na orelha. Lucas gostava de Alice e Alice detestava Lucas. Em silêncio. Lucas a escolhia como dupla para as coisas de sala, levava borrachas perfumadas de presente e ria de tudo que ela falava. Alice o tratava com indiferença, olhava reto nos olhos para frisar cada nãosorriso e fazia questão de, em silêncio, ser melhor que ele em tudo. Acertava mais nos ditados, ganhava corridas na aula de educação física e destruía o garoto no espirobol. Lucas gostava de escrever e Alice passou a desfilar as melhores notas em redação. Lucas era só graça e Alice congelava os lábios em bicos. Até que em novembro Lucas voltou para Porto Alegre e Alice não viu a alegria da despedida chegar. Ele foi embora e ela perdeu a cor. Lucas faltava e Alice se culpava pela falta de percepção do amor. Era cedo e ela era menina. Não tinha entendido aquele sentido até então desconhecido se manifestando nela. E Alice chorava, em silêncio, sua falta de entendimento.
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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Hã, Biloute?
¨¨ "Por seres tão inventivo e pareceres contínuo..."
¨¨  Por falar nisso, tava eu cantarolando a canção pelo corredor e o colega me pergunta se eu já tinha ouvido a versão da Maria Gadu. Fui lá ouvir pra né, mais uma vez, reforçar a afirmativa de que alguém tinha que proibi-la de fazer versões, na linha "Oh, please, pare de estragar as canções alheias!". Pelamor. Sempre achei que a Simone era a rainha soberana do "assassinando a original", mas confesso que o páreo tá ficando duro.
¨¨ Quem foi liberada pra voltar pro spinning 1 x por semana? Quem? Quem? Quem tá transbordando contentamento? Quem? Quem? Bora torcer pros joelhos responderem bem. =)
¨¨ Aí que tem dia em que você resolve passar em silêncio. Bem, na verdade você não resolve, o dia é que se faz assim, mudo. E fico aqui pensando que talvez, naquele momento, esse seja o maior grito que se possa dar.
¨¨ Pra quem começa o trem já dizendo que não vai dar conta não há surpresas. Triste isso de fazer do fracasso zona de conforto.
¨¨ Um sorriso aberto no início do dia e balões espalhados pelo céu da capital. AMO AMO AMO essa cidade.
¨¨ Uma coisa que me dá preguiça no facebook é o desfile de bandeiras vazias. É um tal de ser contra a corrupção, aos maus tratos aos animais, ser a favor dos índios tais e por aí vai. Me dá preguiça porque acredito que o intuito seja mais uma tentativa boba de auto-promoção superficial do que qualquer outra coisa. Postar e curtir não estão, na maioria esmagadora das vezes, relacionados com o agir. Se você pergunta o que o outro faz de concreto contra a corrupção, se frequenta abrigos e acolhe animais maltratados e se frequenta e atua na comunidade indígena em questão, a resposta, na maioria esmagadora das vezes, é o silêncio. Nesse sentido, considero meu sogro (que tb é meu pai =)) um exemplo. Na semana passada ele foi a um programa de rádio e rasgou o verbo criticando a falta de transparência na prestação de contas da prefeitura da sua cidade. O que ele apontou repercutiu tanto que a prefeita comunicou que vai apresentar sua prestação de contas nesse sábado. É ISSO. O que provoca mudança é ATITUDE. Mas ai ai que essa história de ter que agir pra mudar dá um trabalho, né? Mais fácil só ficar pagando de engajado pros amigues no facebook. Preguiça ponto.
¨¨ Tô a um suspiro de bordar na camiseta com letras garrafais : "melatonina, te amo, sua linda." É sério.
¨¨ Nós temos nosso céu particular. Com direito a nuvem só nossa, sons, brisa macia, tempestades, risos ressonantes e aconchegos sem fim. Nosso céu.
¨¨ Bruninho começou a engatinhar. iêi! Coisa mais linda do coração da madrinha...
¨¨ Lutiluti, ontem ouvi no rádio a música que me lembra vc. Saudades.
¨¨ Hoje é dia de Tataaaaaaaaaaaaaaa!!!! Parabéns, queridinha!
¨¨ Beijos amarelos e um fim de semana leve a todos. =)
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Carpinejar

"Depois do 35

A cantora e ex-primeira dama da França, Carla Bruni, falou em entrevista para a revista Veja algo que acredito muito.

Que depois dos 35 anos, a beleza é resultado da simpatia, da elegância, do pensamento, não mais do corpo e dos traços físicos.

A beleza se torna um estado de espírito, um brilho nos olhos, o temperamento.

A sensualidade vai decorrer mais da sensibilidade do que da aparência.

Uma mulher chata pode ser bonita antes dos 35 anos.

Uma mulher burra pode ser bonita antes dos 35 anos.

Uma mulher egoísta pode ser bonita antes dos 35 anos.

Uma mulher deprimida pode ser bonita antes dos 35 anos.

Uma mulher desagradável pode ser bonita antes dos 35 anos.

Uma mulher oportunista pode ser bonita antes dos 35 anos.

Uma mulher covarde pode ser bonita antes dos 35.

Depois, não mais, depois acabou a facilidade. Depois o que ilumina a pele é se ela é amada ou não, se ela ama ou não, se ela é educada ou não, se ela sabe falar ou não.

Depois dos 35 anos, a beleza vem do caráter. Do jeito como os problemas são enfrentados, da alegria de acordar e da leveza ao dormir.

Depois dos 35 anos, o sexo é o botox que funciona, a amizade é o creme que tira as rugas, o afeto é o protetor solar que protege o rosto.

A beleza passa a ser linguagem, bom humor. A beleza passa a ser inteligência, gentileza.

Depois dos 35 anos, só a felicidade rejuvenesce."
Fabrício Carpinejar 
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Trechos esparsos sobre o amor

Eram quase 4 da manhã. Eu, insone, estava lá pela 15ª página de escrita compulsiva quando do nada chega uma mensagem no celular dizendo "Iza, põe o caderno de lado e vai dormir, sua louca." Ri sozinha por uns 5 minutos. E depois chorei um pouquinho. De alegria. Por entender que eu não estava sozinha.

Eu olhava pra minha mão e ela me perguntava, gritando baixinho, se aquela era de fato a vida que eu queria. Mas eu não respondia. Até que tive que tirar a aliança pra fazer aquele exame e quasesemperceber fiquei mais um dia outro sem ela. Quando fui colocá-la de volta, parecia que não servia mais. É que já não servia. E ainda ficou mais um tempo assim, no dedo sem servir. Pouco.

Noite passada um espanto bom me tomava toda vez que eu falava o nome dele. Nome de sonoridade única. Na verdade, ele me parece todo meio único. No jeito, no cheiro, no gosto, na espontaneidade, na energia, no vigor. Ele me deixa à vontade, me enche de vontade e me faz querer ficar. Noite passada eu fiquei. E ele bebeu das minhas costas. Bonito isso, fazer do meu corpo copo pro vinho. E fazer do meu corpo corpo pra tanto. Ele faz.
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terça-feira, 16 de abril de 2013

Por que eu amo a Fal
e amo mais a cada palavra.

"Não é justo
Há, claro, os que nos amam. São os caras que vão sofrer ao nos ver sofrendo. São os caras que dizem “se eu pudesse, tirava a sua dor com a mão” (acho linda essa expressão). São os caras que nos pegam no colo e nos levam pra jantar no indiano e no português e nos levam ao cinema e para passear de carro e mandam e-mails engraçados e doces sobre a deles com amizade com Caetano Veloso e trazem filmes pra nossa casa pra ver conosco, pezinhos enrolados nos nossos, tigela de pipoca. Talvez eles não entendam a nossa dor, nem sua profundidade, nem seu sentido, nem porque dura tanto e nem nada, mas eles nos amam, ponto.
Há os que já passaram pelo que passamos. Eles entendem. Às vezes eles nos amam, às vezes não. Mas esses caras tem um mover de cabeça solidário, ele estendem. Eles já estiveram aqui onde estamos. Os conselhos deles geralmente são os melhores e seus abraços são os que nos tomam por inteiro, porque eles sabem.
Há os que, nos amando ou não, acham um saco. Toda essa dor, todo esse nhenhenhem, lágrimas, lencinhos, fungadelas. Eles não tem paciência, eles não entendem o porque de tanta onda, eles acham que deveríamos botar uma roupa bonita ir ao show do Rio Negro e Solimões com eles.
Mas há outros. Há os que ao se depararem com a nossa dor, tem a própria dor revelada. A dorzinha deles tão adormecida, soterrada por caixas de picles e cadeiras de praia, por revistas velhas e entulho da última reforma, fareja a nossa dor, tão clara, arejada, revelada. E jogando longe tudo o que cobria, exige o que é dela, urra, atira vasos na parede. Faz o que toda dor deveria fazer, ela dói. E o dono dessa dor, desamparado e surpreso, inevitavelmente vai se voltar contra nós. Nós, que com nossa dor, despertamos a dele. Nós, que com nossos horrores particulares, acabamos por jogá-lo no abismo. E ele fica doido da vida. Vem para cima de nós, o dono dessa dor recém-desperta, nós o angustiamos. Nós o deixamos num estado que ele chama de “desarmonioso”. A culpa é nossa e não dele, que soterrou o próprio sofrimento. É nossa dor que o ‘deixa mal’, não a dor dele, trancada num porão frio e úmido, há tanto, tanto tempo. Como é que ousamos sofrer em público? Chorar com a boca quadrada no meio da rua, ficar com os olhos marejados na frente de vendedores, mostrar fotos dos que se foram para o gerente do banco, quando ele, modesto, limpo, cumpridor de deus deveres e mantenedor da ordem e da lei, passou todo esse tempo quieto, controlado, cuspindo frases prontas do picaretíssimo mundo motivacional, lendo Lya Luft, divulgando power-points inspiracionais e tecendo conceitos incrivelmente vazios sobre a vida e suas filosofias? Nossa falta de limites, nossa declaração pública sobre a vida e seus estados, nossa absoluta falta de pundonor frente ao que dilacera, altera o parco equilibilío, o frágil equilíbrio, o nada-equilíbrio no qual vive há tanto tempo nosso amigo. E assim, a miséria da vida dele vem à tona, junto com seus medos, sua falta de capacidade para tomar decisões, seus pudores – coisas aliás, comuns a todos, todos, todos nós, mas ah, as dele estavam tão bem trancadinhas. E nós, com nossa dor, não tínhamos o direito de cutucar nada disso. ‘Não é justo! Eu não queria voltar a sentir tudo isso! Eu odeio vocês’, ele brada. Coberto de razão.
“Conclusão: a própria dor deve ter sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira da nossa dor.” Paulo Mendes Campos."
Fal Azevedo
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Rádio Plutão
com cícero. e sem escolta. tb.

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Estômago

"As palavras me dão maturidades que não possuo. Quando escrevo, sou outro que não eu. A poesia me concede por generosidade as temporárias sabedorias que somente encontro refletidas no papel e que de outro jeito jamais saberia. Amanheço minhas verdades nas palavras quando ainda sou acomodada escuridão. " Guilherme Antunes

"As histórias de amor nascem dois dedos acima do umbigo, três palmos da nossa razão, e circulam numa margem de segurança pequena mas infinita, que engloba tudo e qualquer lugar que existe." Tibério Azul

"Tenho cá pra mim que se engana quem pensa que o amor é feito de semelhanças. Tendo a achar que ele é feito de encontros, esbarrões, vislumbres. E daquela linha tênue entre desejar o outro em nós, pra nós e reconhecer o outro em si mesmo. O amor, penso eu, é feito do reconhecimento da diferença." Luciana
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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Hã, Biloute?
¨¨ Cri cri cri, cantam os grilos que habitam o MTA.
¨¨ A frase tema da minha adolescência foi "eu quero transparência". Espalhava a dita repetidamente por cadernos, livros, agendas e diários. Andava com um durex daqueles branquinhos na mochila para escrevê-la e pregá-la em lugares escondidos, pra frase me pegar de surpresa: na parte de baixo da carteira da escola, no cantinho da escrivaninha, atrás dos cabides do armário, no pedaço de parede que olha pra cabeceira da cama. Pedia e pedia e pedia por que não podia ser transparente. O contexto não permitia. Mas de tanto pedir ela finalmente chegou e fez casa em mim. =). Gosto dela aqui, a gente se entende bem, mas confesso que vez ou outra gostaria que ela me escapasse por um minutinho. Naquele minutinho em que seria melhor se o olho não dissesse tudo. Fazer o quê, né. Pediu....
¨¨ Maria! Oi, querida. Te ver é sempre uma alegria única. Beijos e carinhos mil p'c!
¨¨ Uberlândia. Encontrar com conhecidos em toda esquina, tomar sorvete na praça da bicota, matar saudade de tanta gente querida, perder a noção da hora no bom e velho Bar dos Mundim, passar a manhã no parque do sabiá, fazer visitas, dançar no Vinil, derreter de calor. Uberlândia é casa.
¨¨ Eis que meu amigo Pequi está de malas prontas para fazer o Caminho de Santiago de Compostela. Minha doce tarefa foi escolher o livro pra acompanhá-lo nessa jornada, ói que presente bom. Livro escolhido, resolvi colocar junto algo meu também pra ele ler no caminho e revirando meus arquivos acabei dando de cara com os "trechos esparsos sobre o amor" e os "mini contos sobre a falta". Reli cada um deles com calma e a sensação que me veio foi a da leitura primeira, só que temperada pelos anos que passaram. Acho bonito isso, da escrita desconhecer anacronismos e aproveitar a passagem do tempo pra trazer ares novos. E já que só ando escrevendo não postáveis, vou respostando um ou outro por aqui.
¨¨ Eu quero fluidez .=)
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Trechos Esparsos sobre o Amor


A dor dela. A dor dela me fez sentir sem lugar no meu próprio quarto: luz incômoda (acesa ou apagada), espaço pouco, cama desconfortável. E passei toda a noite de quasesono sendo acordada por uns arrepios extensos. Era a dor dela. Era o meu amor sentindo a dor dela.

Naquela época chorar em aeroportos fazia parte da minha rotina. Choros intensos de alegria no reencontro e desatados na despedida. Os da despedida, no ar ou em terra, eram encorpados, quicados, daqueles de cotovelos nos joelhos e mãos cobrindo o rosto. Eu sofria demais. Não entendia a temporalidade, a inevitável impermanência das coisas. E não sabia enxergar o colorido do estar sozinho estando junto. Era cedo. Mas hoje sei bem.

Os domingos parecem ser dias especialmente nossos, mesmo sendo domingos. No último, em mesa de almoço longo e tardio, ele falou do descanso que o rosto sente quando fica um tempo sem os óculos. Me aproximei em sorriso e beijei sem pressa cada um dos seus olhos. Foi como um transe. Achei que fosse me esvair em afeto.
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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Ela
Dormi a noite toda. Depois de duas noites praticamente em claro, eu consegui abraçar o escuro que mora dentro do olho fechado e fui. Fui até a manhã seguinte, até acordar descansada. Aí o dia tem outra cara, o corpo tem outra energia e a mente tem outra entrega para a vida. Tudo mais leve. Leve do peso acumulado das horas nãopassadas da madrugada, classificadas como necessárias e imprescindíveis pela insônia, aquela que insiste em querer determinar o meu ritmo de digestão do tudo da vida. Eu não tenho pressa, mas a insônia tem. Ela me obriga a pensar agora no que eu quero deixar pra depois. Eu quero dar tempo, amadurecer ideias, achar instrumentos sensatos. Ela me sacode e vidra meus olhos em um show de slides obrigatório. Eu quero avaliar o quão grave a questão é. Ela é mais perspicaz e carimba, sem hesitar, "urgente" no que é relevante. Acabo armada, colhendo sugestões e colocando em prática 564 técnicas para atrair o sono. De nada adianta. Ela ri de mim quase que carinhosamente, assim, com o cantinho da boca. No fim das contas, ela só vai embora mesmo depois que eu respiro clareza e me posiciono. Aí sim. Ela passa a mão pelas minhas pálpebras e me deixa, levando consigo seus ares de dever cumprido. Eu reclamo de toda e cada visita. Mas confesso que começo a senti-la mais como amiga do que como qualquer outra coisa. Talvez sem ela meu entendimento levaria semanas pra chegar e as novas atitudes fariam aniversário em espera. Talvez a insônia saiba melhor. E talvez caiba a mim parar de lutar contra ela enfim.
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Hã, Biloute?

¨¨ 1 carneirinho, 2 carneirinhos, 3 carneirinhos, 4 carneirinhos...
¨¨ Eu e meu cabelo: desde 1976 fazendo o que dá. E boto fé que parte da minha segurança pessoal é garantida pelo meu constante look descabelado. A figura perigosa olha pra mim e pensa: "Ok, a pessoa que banca sair de casa com essa revolta aí na cabeça deve estar preparada pra tudo. TUDO. Eu é que não vou tentar passar a bolsa dessa mulher." E eu sigo sã e salva por mais um dia. =)
¨¨ Acho interessante essa gente por aí que se diz carente de contato, queroso por conviver, mas se esquece do básico. Esquece que conviver é viver COM. E viver COM é uma troca. Uma troca idéias, opiniões, sentidos, afinidades, diferenças. Viver COM não é chegar para o outro e dizer " ói só, gosto de você, quero ser seu amigs coisetal, mas 1 - você só pode expressar sua opinião se for a mesma que a minha, senão a casa cai. 2- É direito meu te tratar como eu quiser, te fazer de receptáculo apoiador da minha verborragia negativa e 3- você, pessoa boa que é, deve sempre ser compreensivo e aguentar com paciência as minhas eventuais patadas e malcriações." Acontece que a linha que separa o compreensivo e o capacho é tênue. Compreensão tem limite e deixa de ser benéfica a partir do segundo que te impede de ser quem você é. Penso que essas pessoas não querem conviver. Querem é um brinquedinho "vivo" manipulável ou coisa outra que eu nem quero saber o nome. Na boa, quer reinar soberano? Quer tudo tudinho exatamente do seu jeito? Quer ter espaço ilimitado para destilar suas reclamações, paranoias e mimimis pelos cotovelos? CRIE UM BLOG e se isole no mundo virtual! Que aí só quem quiser entra em contato com o trem, sem imposição, sem anulação, sem desrespeito. Fica a dica.
¨¨ Srta Margot está de volta!
¨¨ A Cosenzada foi uma dê. Pousada gostosa lá em Monteiro Lobato, solão de dia e friozinho à noite, prosa festiva, familiada, chalezinho, cachoeira e outras alegrias. Rolou até trilha mato afora, rumo ao mirante, apelidada de "a trilha dos inconsequentes" (porque né, se toparam ser guiados pelo Tio Tibério, são certamente algo entre inconsequentes e insanos). Foi divertido. =). E dormi e dormi e dormi... dias bons aqueles.
¨¨ 5 carneirinhos, 6 carneirinhos, 7 carneirinhos, 8 carneirinhos....
¨¨ Quanto vale uma noite dormida para o insone? Escolha um número de 1 a 9 e complete com infinitos zeros. É quase isso.
¨¨ Uberlândia logo na esquina. iêi!
¨¨ Beijos estalados e uma ótima quarta a todos. =)
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Por que eu amo a Fal

"Meu pai, as empregadas, os pianistas, os filmes dos trapalhões e o grande mover divino (o título não tem muito nexo, mas eu achei sensacional)

Falei com meu irmão. E quando falo com meu irmão, penso no meu pai. e pensando no meu pai, li mais uma notícia sobre essa história toda das empregadas. O fuzuê e tal. Os exageros. E lembrei duma história. Minha. Do velho.
Pequena, eu era completamente entregue, apaixonada, louca, desvairada por cinema. Por um longo período da minha infância, tudo o que quis foi ir ao cinema e só. Queria ir todos os dias ao cinema. E daí, queria ficar pra sessão seguinte. Durou um tempo essa fase.
E um dia, enquanto íamos ao cinema, meu velho resolveu me falar mais sobre cinema. Ele era chegado nesse negócio de 'vamos explicar sobre a vida pras creonças'.
Falou uma porção de coisas sobre a experiência coletiva, o sentimento compartilhado e o sentimento acerca do sentimento compartilhado. Sobre o fato da sala ser escura e disso ajudar a reforçar os laços temporários com o colega do lado, o fato da única luz vir da tela no meio de toda aquela escuridão e de como isso ajuda no encantamento com o veículo e mais um monte de coisas muito muito legais e talvez um pouco profundas demais pruma menina de seis anos, mas que nunca esqueci. Ainda que grande parte daquilo só fosse fazer sentido anos mais tarde, guardei as palavras e uso o discurso do velho até hoje como se fosse meu, como se as sacadas geniais fossem minhas e tal. Ah, eu faço isso sim, claro.
Mas teve mais. Ele resolveu me contar um pouco da história do cinema. De como era quando ele era menino.
E caímos na conversa do cinema mudo.
Mesmerizada, tive que tentar compreender que tempo houve em que o cinema não tinha som. Nenhum nenhum, nenhum som. E que um ou mais músicos ficavam ali do lado do palco fazendo musiquinhas enquanto o filme rolava.
Dito isso, ele tentou seguir em frente com o assunto, explicar os filmes falados e de como isso....
Ei, pera aí, só um instantinho. E o que aconteceu com aqueles músicos todos quando o cinema passou a ter som?
Daí ele me explicou que, num primeiro momento houve uma sensação de 'opa, e agora?' e que depois, alguns foram trabalhar com outras coisas, outros viraram músicos de estúdio, outros professores, outros....
E me disse que a vida era assim. Que as coisas mudavam. Para melhor. Para pior. Dum monte de jeitos que às vezes a gente entende de prima, às vezes escapam à nossa compreensão. Mas que as mudanças vinham e a vida seguia.
E lendo um mundo de cousas hoje, de amigos queridos, amigos-não-tão-queridos (hahaha, eu tenho essa categoria, uai), de gente e longe, fiquei pensando que, ou meu cérebro tá numa marcha mais lenta do que a de costume (e a de costume é Homer Simpson dançando tango com um chimpanzé) ou eu não sou capaz de processar a agonia geral.
Não era para essa mudança toda da relação de trabalho com as empregas ter vindo agora. CLT é lei há décadas. Creia. Décadas e décadas. Não deveria ter ninguém espantando, porque ninguém fica espantado por ter que assinar a carteira e pagar direitos e horas extras para a secretária, para o porteiro, para a professora, para a editora, para o manobrista, para o funcionário, esteja ele no cargo que estiver, empresa grande, pequena, familiar, multinacional.
Ninguém fica surpreso por arrumar um emprego e ter a própria carteira assinada.
Juro por Deus: o mundo não acabou. E não vai acabar. Não por causa disso.
Algumas empregadas serão despedidas? É bem provável. E arrumarão outros empregos. Como empregadas. Como cozinheiras. Como funcionárias de coisas que elas nem sonhavam, em empresas que elas nem poderiam imaginar vir a trabalhar um dia.
Se em 2006 você me contasse que em um ano eu estaria viúva, ia começar a traduzir literatura e que quase seis anos depois eu estaria muito bem obrigada, pelo menos profissionalmente, traduzindo em velocidade de cruzeiro, livros grandes, livros bacanas e com umas dezenas de livros no currículo, eu mandaria internar você.
Mas foi assim.
É assim.
Não estou comparando o meu trabalho ou minha vida com a de mais ninguém, só me usando como exemplo para dizer: é a vida. É a vida. É a vida. Ela flui. Com você, sempre, dum jeito ou do outro. A não ser que você morra, o que também é uma mudança, hahaha, como não?
A lei tá aí há décadas. Você, seu pai, seu marido, sua melhor amiga, o professor do seu filho, a sua dentista que é contratada da clínica, todos vocês trabalham sob o CLT. Eu não, né, mas eu sou um vira-latas. Tou falando de gente normal. O que você achava, que CLT é bacana e tal, mas não deveria valer para todo mundo? Que é bacana e tal, mas quando passa a valer pra sua empregada vira 'lei paternalista'?
Seja contra a CLT, seja a favor, odeie, ame.
Mas não se espante, por favor.
É coisa muito, muito, muito antiga.
Até os pianistas dos cinemas de lona e cadeiras desmontáveis do tempo do meu pai e do pai do meu pai, já se acostumaram com ela.
Sua hora chegou."
Fal Azevedo
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Rádio Plutão
ah, o amor...ah, o Tom Zé...


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terça-feira, 2 de abril de 2013

O homem.
A ilha.
E o que fica é a sensação, provavelmente passageira, de quebranto ou de quebrado. A sensação de cansaço do exército de um homem só que tenta e tenta entrar na ilha. Não para dominá-la, mas para ali viver, em comunhão com o que ela tem de admirável e de não. Mas a ilha lê ataque na aproximação e usa sua força, pois sim que é forte, para atirar o homem de volta ao mar.
Assim.
A ilha permanece em estado de alerta e em ataques de defesa, sem perceber que não há ali do que se defender. Não há ameaça. Há, sim, mudança.
O homem, sem facas nos dentes nem correntes nem amarras, segue em seu nado circular e em sua vontade simples de terra, vendo o cansaço crescer na textura enrrugada da ponta dos dedos.

Para o homem a ilha é casa.
Para a ilha o homem é bravata.
Assim.
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