terça-feira, 28 de maio de 2013

Hã, Biloute?
¨¨ Cinco a Seco yeah. =)
¨¨ Mudanças, mudanças, mudanças. Tantas que não caberiam nesse singelo Amarelo. E, ao mesmo tempo, tão apenas outras novas das mesmas, tão parte da vida fanfarrona (oi, ka!), que escorreriam fluidas sem achar lugar nesse singelo Amarelo.
¨¨ E não é que Games of Thrones é bom mesmo? Já matei a primeira, Luti. Precisamos conversar. rs!
¨¨ Tem noite que não há melatonina que dê jeito. Cê lá ví.
¨¨ Amo, AMO, A M O o efeito  Ana em mim. Abre para perspectivas outras. AMO!
¨¨ Tenho cá comigo questionado esse apego à palavra. Tem me parecido um apego bobo. No sentido de que a palavra em si, por si, parece não valer lá muita coisa. A palavra, para ser realmente relevante, deve ser ponte para a ação. Senão é só letra juntada. Pelo menos é assim que os dias tem me ensinado. Pergunto e respondo? =)
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Eça que é essa
"Two to Tango
Faz o que aguenta fazer, chora, grita, acusa, insulta, julga, controla-se, joga, manipula, justifica-se, perde a cabeça, a paciência e a razão, insiste, muda de abordagem, de perspectiva, de lado e de estratégia, ignora, finge que ignora, contorna, confronta, esclarece, abre o coração, fecha-o de novo, procura respostas, pensa em soluções, desespera, humilha-se, confunde-se, perde-se, encontra-se, usa a cabeça, o coração, o ego, a sombra, a persona, o feminino, o masculino, às vezes a força, o bom humor, o mau humor, a vitimização, a autocomiseração, a piedade, a compaixão, põe-se no lugar do outro, põe-se no seu, ouve, deixa de ouvir, defende-se, ataca, corresponde, não corresponde, fala, não fala, ressente-se, contem-se, espera, precipita-se, pede desculpa, pede perdão, irrita-se outra vez, mostra-se, fecha-se, deixa de se ouvir, começa a ouvir-se, investiga, tira dúvidas, exagera, foge, foge muito, esforça-se, enfrenta e, finalmente, vê-se livre do que quer que seja que, depois de tudo isto, fica exatamente na mesma. Apenas para poder dizer: fiz tudo o que pude, absolutamente tudo o que consegui. E segue em frente, mais forte, mais consciente, com a certeza de que aquele modelo esgotou, doravante, venha um completamente novo, completamente diferente, porque agora já sabe exatamente qual é. O self acabou de lhe responder e esse, nunca, nunca se engana. 
Isa Soares, brilhando aqui
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Parto
E em um minuto quis tudo. Ler, escrever, assistir (em dois sentidos da palavra), ouvir, dançar. E tendo tudo ali ao meu alcance passeei por cada uma das vontades, sozinhas ou combinadas. Coloquei Marisa pra cantar, colori de vermelho a taça e a boca e deixei minha dança sozinha se espalhar pelos tacos da sala. Conversei com o joelho que dói, mas que agora dói de uma maneira mais acolhedora, e chegamos a um acordo bom. Somos, enfim, um time. Li Entrelinhas e escrevi um dedo ou dois sobre as minhas. Liguei para quem sabia que precisava de uma palavra e a recebi de volta sem pedir ou esperar. Chorei um pouquinho pra deixar a tensão do dia sair e ri aberto a risada de quem vive o melhor e o pior. Cansei, deitei no chão, e deixei o pulsar do joelho esquerdo formigar pelo corpo. Meu pulsar caminha assim: da esquerda pro resto. Descansada, botei o Bloco do Eu Sozinho pra tocar, me debrucei na janela e assisti ao resto do dia cair. Amo essa hora. Pequi me desejou feliz dia das mães e pensei no parto das palavras. Puxei de volta o caderno Laranjado e escrevi, escrevi, escrevi.

Tenho tudo. Mesmo sem ter.

Tenho tudo.
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Rádio Plutão
acha isso lindo lindo.


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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Hã, Biloute?
¨¨ Eu sei, eu sei que o blog tem seguido em um ritmo bem lento, quase desaparecido. Boto fé que cada tempo tem sua marcação de passo e isso é bom simsim. Porque né, no dia em que virar obrigação e o calendário me cutucar na bochecha pedindo movimento aí o trem perde a graça, a espontaneidade, perde a razão de ser.
¨¨ Um leitor querido (oi!) me mandou mensagem dizendo que achou uma definição que diz que "biloute" é uma expressão usada para se referir a alguém que tem pinto pequeno. Fui checar e não é que é verdade? rs! Mas não, minha gente, o biloute daqui é o mesmo do norte da França, que é uma variação de "amigo", e não sou eu, que nem tenho, que vou sair por aí rotulando medidas dos outros. Grata pela assessoria, leitor! =).
¨¨ Quando digo pro outro que "trabalho é só trabalho", aproveito pra dizer um pouquinho pra mim também.
¨¨ Quem tá de altas do spinning de novo? Quem? Quem? Os joelhinhos gritaram que pedalar + dançar até derreter semanalmente é demais pra eles. Entendi bem e sigo pianinha.
¨¨ Impressionante como há gente nesse mundo que ainda não entendeu a beleza do foninho de ouvido e sai vida afora obrigando os outros a ouvirem seu som de preferência. Juro que sinto vontade de começar a cantar September em alto e bom tom pra mostrar que o inferno tem subsolo, é um lugar quente e cheio de gente.  E lá eu canto September 24/7.
¨¨ "Escondam as facas." disse o santo, completando meu comentário com brilhantismo sem fim. rs!
¨¨ Tenho um amigo que diz que a festa ideal é aquela de no máximo 10 pessoas. E pra entrar mais um tem que sair um. Apesar do número 8 me apetecer mais, eu digo amém.
¨¨ "Agradeçamos à Vida que nos apresenta o outro como instrumento para nos lembrarmos de quem realmente somos, pela feliz possibilidade de expressarmos a versão mais nobre de nós mesmos e nos determinarmos de acordo com nossas escolhas." Guilherme Antunes. Bonito isso.
¨¨ Dia 24. Seu dia. Parabéns, amor. Danço contigo mais tarde. =)


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terça-feira, 14 de maio de 2013

Alex Castro brilha



"Cavalheirismo é machismo

Só pode existir cavalheirismo em uma sociedade já profundamente, inerentemente machista. Não é possível ser cavalheiro sem ser machista.

Vamos começar definindo:

Cavalheirismo é ser gentil com mulheres. Andar entre sua mulher e a rua, caso passe um caminhão por cima de uma poça. Abrir a porta para as damas. Se oferecer para ajudar quando vê uma moça carregando uma mala pesada. Pagar a conta do restaurante e, especialmente, a do motel.

O machismo reside justamente em só fazer essas coisas pelas mulheres.

O machismo é você ver um moço com dificuldade de carregar uma mala pesada… e nunca nem te ocorrer ir lá se oferecer pra ajudar.


Objeção nº1: “Alex, você está confundindo machismo com gentileza! Ajudo as mulheres porque são mais fracas!”
Muita gente fala que cavalheirismo é só gentileza. Que é gentileza com alguém que é mais fraco.

Mas não é verdade.

Se você é gentil com todo mundo, e não só com as mulheres, então você não é cavalheiro: você é gentil.

Alguns homens me respondem que “o cavalheirismo ajuda preferencialmente mulheres porque elas são mais fracas” mas isso

1) é machismo, justamente por presumir que as mulheres são sempre mais fracas, e

2) é mentira, porque vejo esses mesmos homens ajudando mulheres que não fracas e deixando de ajudar homens que são sim mais fracos.

Se o cavalheirismo fosse realmente um código de conduta que pregasse que, em qualquer situação, o indivíduo mais forte e mais capaz e mais apto deve ajudar o indivíduo menos forte, menos capaz e menos apto, então, ele seria uma das coisas mais lindas e revolucionárias da história da humanidade e meu texto perderia totalmente a razão de ser.

Além disso, se  cavalheirismo significasse só “ajudar o mais fraco”, então não teria porque não dividir a conta do motel ou do restaurante.

Ou, então, a conta seria sempre paga pelo “mais forte”, ou seja, por quem ganhasse mais, independente do gênero.

Só que não é assim.

Segundo o rígido código de conduta do cavalheirismo, o homem tem sempre que pagar a conta ganhando mais ou menos, tem sempre que carregar as malas sendo mais fraco ou mais forte. Sempre.

Porque o cavalheirismo parte da premissa que a mulher sempre vai ser a parte fisicamente mais fraca, economicamente mais frágil.

O cavalheirismo jamais teria surgido, jamais seria nem conceitualmente possível, a não ser em uma sociedade que já tivesse como óbvia a submissão, a fraqueza, a inferioridade das mulheres. E, a cada ato cavalheiresco nosso, estamos mantendo vivas essas ideias detestáveis.

Esse é o problema.

Faz alguns dias, a fotógrafa Claudia Regina, mulher adulta, autônoma, independente, escreveu sobre sua experiência pedindo a conta em restaurantes: mesmo quando ela pede, a conta sempre é entregue ao homem da mesa. Muitos leitores, homens e mulheres, não conseguiram ver nessa atitude um sintoma do profundo machismo da nossa sociedade. Esse meu texto de hoje é para tentar explicar. (Dica: a culpa não é do garçom.)

Mulheres como a Claudia não querem viver numa cultura cujo código de conduta romântico-sexual sempre presume que são fracas e incapazes.


Objeção nº2: “Alex, as mulheres são as maiores machistas! Elas é que exigem o cavalheirismo!”
Ao ler textos como esse, muitos homens ficam extremamente defensivos. Dizem que as mulheres é que são “as maiores machistas”. Que as mulheres com quem saem esperam que eles paguem a conta do restaurante, que paguem a conta do motel.

Essas regras foram gravadas tão profundamente em nossas almas que, para muitos homens, é simplesmente impensável e intolerável sair romanticamente com uma mulher, ou levá-la ao motel, e não pagar tudo. Para ele, SER HOMEM é fazer essas coisas e, portanto, ao não fazê-las, de maneira bem concreta e real, ele não seria mais homem.

Infelizmente, muitas mulheres também são prisioneiras do cavalheirismo, essa definição tão mesquinha do que é “ser homem”.

Já ouvi uma vez de uma moça:

“Pois é, Alex, achei que você estava interessado em mim quando me chamou pra sair, mas então, quando não se ofereceu para pagar a conta e dividimos igualmente, concluí que éramos somente amigos.”

Ela até tinha razão. Fiquei sim brevemente interessado e, por isso, a chamei para sair.

Mas meu interesse implodiu no momento em que fez esse comentário machista. Não quero beijar, não quero conviver, não quero nem ser amigo de uma mulher que acha que o homem “simboliza seu interesse pagando a conta”.

Ouvi de outra moça:

“Por que eu sairia com um homem se ele não me pagar tudo? Eu hein! Se for pra sair e dividir a conta, saio com as minhas amigas.”

E eu, estupefato, perguntei:

“Cara, você gosta de homem? Olha, não tem problema nenhum não gostar, mas você realmente não parece que gosta.”

E ela:

“Claro que gosto, Alex. Mas gosto de homem de verdade, que me trate como eu MEREÇO!”

Ou seja, como um prêmio ou como uma mercadoria. Então, tá.

Por fim, uma amiga, liberada e fodona, me confessou:

“Eu já tive que transar no carro, porque ele não tinha dinheiro pro motel e não admitia que eu pagasse. Mas eu queria… Ou seja, machismo dá dor nas costas!”

Se o cara tivesse perdido a transa por causa dessa palhaçada, talvez começasse a reconsiderar seus preconceitos.

Então, quando os homens afirmam que agem de forma cavalheiresca (leia-se: machista) porque as mulheres exigem o cavalheirismo (leia-se: o machismo), eu tenho que admitir que sim, muitas mulheres de fato compraram o pacote completo da ideologia machista. Conheço várias.

E daí?

Outros dizem que “as mulheres são as maiores machistas”, como se estivessem se justificando:

“Se as próprias mulheres são machistas, por que EU teria que deixar de ser?”

Mas (juro que não entendo!) isso muda alguma coisa?

Se a mulher é uma vítima da ideologia machista que domina nossa sociedade, se ela acabou não resistindo e internalizou seu status de inferioridade, de objeto, de mercadoria, se ela realmente acredita que só merece as migalhas que o sistema machista lhe oferece… isso é justificativa para que eu a trate como um ser inferior, como um objeto, como uma mercadoria?

Sou obrigado a pisar em alguém só porque essa pessoa voluntariamente se deitou no chão?

O machismo de muitas mulheres só comprova a gravidade e a urgência do problema. A mulher, quando se deixa infectar pelo machismo e se transforma em vetor da cultura machista, torna-se vítima e algoz, duplamente vítima.

É como se o Aedes aegypti não só transmitisse a dengue, mas também morresse dela.

Nós todos, homens e mulheres, crescemos em uma sociedade profundamente machista, que nos infectou desde cedo com seus valores e prioridades. Essa sociedade existe e fala através de nós: ela usa nossos corpos e mentes, nossa própria carne, para se perpetuar através do tempo e do espaço, e somos seus cúmplices e possibilitadores mesmo quando discordamos dela.

A responsabilidade é de todos.


Objeção nº3: “Alex, cavalheirismo é como as mulheres chamam a parte do machismo que lhes convém!”
Dez mulheres são assassinadas por dia no Brasil, colocando-o no 12º lugar no ranking mundial de homicídios contra a mulher. Uma em cada cinco mulheres já sofreu violência de parte de um homem, em 80% dos casos o seu próprio parceiro. Em 2011, o ABC paulista teve um estupro (reportado!) por dia. Na cidade de São Paulo, uma mulher é agredida a cada sete minutos.

As mulheres são mortas em tão grandes números, e por seus próprios homens, porque existe uma cultura machista no Brasil, onde as mulheres são vistas como tendo menos valor, onde as mulheres são rotuladas ou como santas ou putas, onde uma mulher viver abertamente sua sexualidade é considerado ofensivo ou repreensível, onde a sexualidade de uma mulher tem impacto direto sobre a honra de seu companheiro.

Você acha, de verdade, que abrir uma porta ou carregar uma mala compensa tudo isso?

Você acha mesmo que as mulheres estão satisfeitas com a sua posição socioeconômica… só porque você paga o motel pra elas?
(...)


Nada mais cavalheiro do que ser feminista
Um cavalheirismo mais verdadeiro não seria apenas abrir a porta e carregar a mala.

Um cavalheirismo de verdade seria saber ouvir e respeitar as mulheres. Quando elas reclamam de ter sido violentadas, inferiorizadas, controladas, o verdadeiro cavalheiro saberia ouvir, saberia se colocar no lugar delas, saberia exercer sua empatia, saberia não minimizar a dor que elas sofreram.

Em outras palavras, o cavalheiro de verdade… seria feminista.

Mas aí, claro, ele já não seria um cavalheiro.

Não existe almoço grátis
O homem-cavalheiro-que-tudo-paga, do motel ao jantar, como se estivesse comprando um serviço, e a mulher-dama-que-tudo-aceita, como se o seu sexo fosse uma coisa que vende em troca da melhor oferta, já embarcaram em uma relação comercial, quer saibam, quer não.

O homem-cavalheiro-que-tudo-paga é o mesmo que acha que a mulher-dama-que-tudo-aceitou tem a obrigação de lhe oferecer o serviço anunciado.

E, quando esse homem é frustrado em suas intenções, ele ou a estupra ou sai dizendo que homem bonzinho só se fode, que foi colocado no friendzone, que mulheres são canalhas. (Na prática, o primeiro é somente mais predisposto à violência que o segundo, mas a lógica que os motiva é idêntica.)

O homem cavalheiro e o homem machista são o mesmo homem.

O homem verdadeiramente gentil não é cavalheiro: ele é só gentil. Com todos. E não espera nada em troca.

Sempre chega a conta
Recentemente, uma leitora perguntou a Regina Navarro Lins:

“Sempre tive uma relação muito boa com o meu namorado, mas isso está se modificando… Desde o início me agradou a cortesia dele, sua atitude de super cavalheiro, que nunca me deixou botar a mão na carteira, sempre pagou tudo e sempre impediu que eu fizesse qualquer esforço. Ele se adianta para abrir as portas ou qualquer outra atividade que possa fazer por mim. Mas, após seis meses de namoro, começo a notar que ele se coloca numa posição de superioridade em relação a mim. Qualquer opinião que eu tenha sobre assuntos gerais, ele não leva em consideração, faz até cara de deboche. Fui prestando a atenção em sua postura e estou certa de que ele mantém uma atitude dúbia comigo: me mantém confortável e ao mesmo tempo me despreza.”

Pois é. Sempre chega a conta.

O homem que faz o seu imposto de renda pra você “não preocupar sua cabecinha linda com isso” é o mesmo que não está interessado nas suas opiniões… porque ele sinceramente te acha uma idiota! Ele não se transformou de príncipe em canalha da noite pro dia. Ele já te achava uma idiota quando galantemente se ofereceu para fazer seu imposto de renda. Aliás, ele se ofereceu para fazer seu imposto de renda PORQUE te achava uma idiota incapaz de fazer isso direito.

A fantasia de muitas mulheres, que quase nunca se realiza e muitas vezes tem consequências trágicas, é conseguir o-príncipe-que-faz-seu-imposto-de-renda sem levar junto o-canalha-que-não-se-interessa-por-suas-opiniões-porque-te-acha-uma-idiota. Infelizmente, quase sempre, eles não só vêm juntos, mas são o mesmo. Uno e indivisível.

Citando a Regina:

“Cavalheirismo … [t]raz, de forma subliminar, a ideia de que a mulher é frágil e necessita do homem para protegê-la, até nas coisas mais simples como abrir uma porta. … [A]lgo que parece tão inocente pode ser profundamente prejudicial por reforçar inconscientemente ideias que já deveriam ter sido reformuladas. … Que tipo de homem deseja proteger uma mulher? Certamente não seria um que a vê como uma igual, que a encara como um par. Mas aquele que se sente superior a ela. E como disse a atriz americana Mae West em um dos seus filmes: “Todo homem que encontro quer me proteger… não posso imaginar do quê.”"


O cavalheirismo é como o machismo premia as mulheres que sabem o seu lugar
Vários estudos já confirmaram que o sexismo benevolente (leia-se “cavalheirismo”) e o sexismo hostil (leia-se “masculinismo”) são duas faces da mesma moeda: ambos só poderiam nascer e se manter em um contexto cultural machista.

Por um lado, o sexismo benevolente parece ser uma coisa linda e fofa, portas são abertas e contas são pagas, etc etc.

Entretanto, esse tipo específico de benevolência sexual só pode nascer em uma cultura que já vê as mulheres como inerentemente mais frágeis e incapazes, seres que sempre vão precisar da ajuda dos homens, ó-tão-mais fortes e ó-tão-mais capazes.

Então, as crenças que dão suporte e possibilitam o sexismo benevolente são as mesmas que dão suporte e possibilitam o sexismo hostil: um não poderia existir sem o outro.

O indivíduo cavalheiro, que trata sua mãe e sua noiva de maneira gentil e benevolente (porque elas merecem, porque são dignas, direitas, honestas) é o mesmo cara que vai exercer sua dominância e seu machismo hostil sobre as mulheres ditas não-direitas, sobre as vadias e sobre as vagabundas, sobre qualquer um que não conforme ao ideal tradicional de mulher. Quem é considerada “fácil” provavelmente não vai merecer as benesses do cavalherismo.

Mais ainda, o cavalheirismo é como o machismo premia as mulheres que são da cor certa e da classe social certa. O cavalheiro que se oferece para carregar a mala pesada de uma “dama” (ou seja, da mulher que considera merecedora de seu cavalheirismo) quase sempre é o mesmo que não se oferece para ajudar a faxineira que está fazendo serviços pesados. Afinal, “elas são fortes”, “esse é o trabalho dela”, “é pra isso que estou pagando”, e tantas outras justificativas racistas e elitistas. O cavalheiro que daria seu lugar no metrô para uma gestante da sua cor e classe é o mesmo que não se levantaria para uma trabalhadora negra com dois bebês no colo, “porque essa gente só sabe fazer filho”, etc etc. (Obrigado à Bárbara Lopes, que me chamou atenção para esse ponto.)

Não por acaso, uma das conclusões da pesquisa de Peter Glick e Susan T. Fiske foi que os países e culturas que mais reforçam o sexismo benevolente também são os que mais praticam o sexismo hostil. Em outras palavras, os mais cavalheiros são os mais machistas:

“O sexismo benevolente “recompensa” mulheres quando elas desempenham papeis tradicionais, enquanto o hostil pune as mulheres que não se comportam de acordo com os padrões ideais machistas.”

Esse teste, em inglês, elaborado pelos cientistas que criaram a pesquisa acima, mede suas atitudes sexistas benevolentes e hostis.


As flores do marido abusivo
Nenhum marido abusivo é abusivo todo dia. Via de regra, o cara que bate na sua cara hoje é o que chega com flores amanhã.

Essas flores são o cavalheirismo.

O cavalheirismo é dizer:

“Desculpa eu te dominar há milênios, te impedir acesso ao mercado de trabalho, controlar seu corpo e te estuprar. Mas, ó, estou carregando sua mala, e ainda pago a conta do motel. Com todas essas vantagens, pôxa, você não tem do que reclamar!”

* * *

Esse texto foi postado e discutido na lista das Blogueiras Feministas e, graças às críticas e feedback recebidos, a versão final está significativamente melhor do que estaria. Muito obrigado. Recomendo aos leitores visitarem o site e o facebook das Blogueiras Feministas.

Para saber mais, recomendo, aqui mesmo no papo de homem, meu texto: Feminismo para homens, um curso rápido. "
Alex Castro
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Meu reino inteiro
por mais respeito à Voz.
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sexta-feira, 10 de maio de 2013

Pois sim

A gente sabe bem da dicotomia vida boa/mundo cão que impera. Sabe que a Terra é um local de provas e espiações e "gente" é um trem que não presta muito não. Tanto sabe e tanto sei que nem assusto quando os reveses cavalares chegam. Eles sempre chegam como adoram chegar, de sobressalto, e pra mim parece não haver muita surpresa. Há até uma quasetranquilidade em saber que as tempestades são certas e virão (porque precisam vir) pra cumprir sua função e passar. Passar. Mas isso - o entendimento, a não surpresa - não afasta o sofrimento. O vento forte joga móveis contra as paredes, embaça a visão e rodopia cartas (antes escondidas) no ar. A tempestade desrespeita as funcionalidades para que se possa achar um novo e melhor lugar pro tudo. Entendo. Mas ver quem eu AMO ali, perdido no meio daquele caos, deixa meu coração em frangalhos. É o ditado que diz "mexa comigo mas não mexa com os meus" fazendo sentido a cada minuto do dia. Queria ter todas as respostas e entregá-las prontas. Queria ter a clareza das palavras certas. Queria ter certezas e indicar o melhor caminho num sussurro leve. Queria poder tirar aquela dor gigante com a mão, levá-la comigo e chorá-la até o esgotamento porque isso eu sei que sei fazer bem. Mas não posso. O que posso fazer é estar perto, estar junto pro que vier. O que posso fazer é lembrar que a tempestade VAI PASSAR deixando aberto um espaço limpo e amplo pra leveza fazer casa. E dar a, sim, CERTEZA de que até lá minha mão não vai deixar a sua sozinha.
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Por que amo a Fal

"Porque você me pediu um motivo
Nós escrevemos e escrevemos. Ficção, porque é todo um mundo novo, ainda que velho, se me faço entender. Ficção, porque tudo, tudo mesmo, é ficção. Se caiu no papel é ponto de vista, é parcial, é re-criação, digam o que quiserem. Porque a Andréa tem todas as respostas. Porque é nosso Sol e nós podemos batizá-lo. Porque é nosso filme, nosso final, nosso mocinho, nosso bandido. Nosso bandido. Escrevemos porque sim. Porque não. Porque as palavras vão se juntando-de-carreirinha em nossas cabeças enquanto andamos o cão ou enquanto falamos ao telefone com o moço da teve a cabo, ainda que não queiramos. Porque não há mais nada, ainda que um amigo querido diga que a vida é muito mais que isso. A dele, talvez. Porque há dor lá fora e aqui dentro. E calor. E medo e rancor e doçura e risadas. Porque a Isa nos mandou um postal que nos fez chorar. Porque há o que contar todos os dias, a cada instante, tanto, tanto o que contar. Porque podemos falar da cor dos cílios do amigo que toma café conosco enquanto esperamos o cinema começar, porque há, sim, uma forma melhor de descrever o amarelo do vestido da moça no ponto do ônibus. Porque há tanta música, tanta sombra, tanta vontade de comer pipoca. Porque os deuses gregos nos assombram, escrevemos, escrevemos. Porque, de um monte de jeitos, a história começou quando fomos capazes de escrever sobre nós mesmos. Porque há confusão, aqui dentro e lá fora e montes de jeitos legais de usar a mesma vírgula. Porque o que lemos nos encantou, porque o que lemos nos deixou putos da cara, porque o que lemos nos deixou. Escrevemos porque conhecemos a filhinha do Bia e da Karen em Campinas, porque choveu, porque fechamos a conta de alguém que morreu. Escrevemos para proteger. Escrevemos para estraçalhar. Para fazer um favor, para encher o saco, escrevemos. Para exibir toda nossa superioridade moral, ah, sim, escrevemos. Porque somos felizes 24 horas por dia. Porque nossa alma é cheia de buracos miseráveis. Porque hoje é dia três. Porque a Maliu está aqui ouvindo Caymmi no último volume. Porque não entendemos uma palavra do que os outros dizem, porque lemos nas entrelinhas. Escrevemos porque não há ninguém aqui com esse nome. Escrevemos, escrevemos, porque o amor não mais nos habita. Porque o amor faz nossa cabeça girar. Porque o Char nos frita ovinhos de gema vermelha e canta baixinho quando choramos, sem perguntar o motivo. Porque somos donos disto e daquilo, escrevemos. Escrevemos sobre o que permanece, sobre o que nunca esteve. Escrevemos sobre os cafés silenciosos que tomamos com a Marlene nas manhãs de domingo, os cilcistas, a luz, a ricota. Sobre a voz do Dean Martin, escrevemos porque that"s amore! Escrevemos para descrever, para narrar, para dissertar. Escrevemos para que gostem de nós. Eu escrevo para que você goste de mim. Para contar o que vemos enquanto choramos na frente do espelho. Na frente do espelho. Escrevemos e é isso que chamo de motivo. Porque os dentes doem, porque os tornozelos incham, é por isso que escrevemos. Escrevemos para refrescar a memória, para esquecer tudo o que aconteceu e para enterrar o assunto também. Porque nosso amigo Leo desenhava estrelas nas palmas de nossas mãos e ele não está mais aqui, mas as estrelas, sim. Escrevemos porque está escuro, porque o dia nasce na avenida 23 de Maio todos os dias, porque vemos as sombras da nossa rua antes do dia começar, naquela horinha em que a solidão é maior que o mundo, enquanto falamos com o cão e andamos no escuro. Escrevemos. Ficção, porque tudo, tudo mesmo, é ficção."
Fal quebrilha Azevedo
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Rádio plutão
clama por poesia e doçura.

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terça-feira, 7 de maio de 2013

Rádio Plutão
sossegadinha. em eletricidade. =)

 
 
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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Amanhã. Talvez.
Sapos, mofos, comentários aguardando resposta, emails acumulados (nos quais penso to-do-di-a), tela que misteriosamente clareia sozinha, sobrancelha por fazer, aquele texto inacabado, a impressão do sonho achada e perdida em um guardanapo por aí, 90 kg yeah, nada de blogs ( =(. humpf!), pouco do livro, chamadas, pedidos, sistema que cai e cai e cai, regras novas, saudades até dos que estão perto, game of thrones por assistir, abraços longos e genuínos, prato quebrado, árvores, papéis, papéis, papéis.
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Rádio Plutão
entrega a idade e ri do dramalhão bonnietylerano. pq né, NADA explica esse vídeo.
scary bright eyes ponto. rs.



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