quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Mil vezes Mendes Campos
"O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba."
Paulo Mendes Campos
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No país da Alicinha meets ai, deleites...
"Domingo ou qualquer outro dia que eu não tenha que ir trabalhar; andar sem sapato; chupar picolé super calórico depois de 12 cervejas; fazer de pirraça o que me dizem para não fazer; fazer de pirraça o que esperam de mim ; peitar fura-filas; falar mal dos homenzinhos; falar mal das mulheres que aceitam migalhas; contar nos dedos as vezes que me apaixonei; saber e aceitar que me apaixono com uma intensidade fudida e que também sofro com intensidade fudida; amar minha família mas nem todos; rir de bobagens mas nem todas; insistir mas nem tanto; estabelecer limites; pegar um lápis e rabiscar com força; jogar sinuca; dizer o que penso; acordar tarde; comer arroz com lentilha; pimenta; lamber o dedo sujo de doce; esfregar pés de trilha na hora do banho; frase carinhosa; aprender com as burradas; aprender com os sucessos; ser ácida e saber que gostam de mim mesmo assim.
beijos,
saudades,
se cuida. "
Alicinha, meu bem... deleite atrasado desse tanto não merece comentário. RÁ!rs...
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Ele
Ele. Ele tem um jeito macio e tem um jeito que não. Ele é claro e pintado. Ele escuta enquanto dorme e quando não dorme o faz com maestria. Ele ora me obedece mais do que deveria e ora me abandona por completo. Ele é temperamental. Ele tem "código de acesso". Ele é do dia mas sabe bem da noite. Ele tem um "que" de amarelo, disfarça um azulverde mas na verdade é vermelho. Ele diz "não" sem medo. Ele me busca nos meus devaneios. Ele carrega na pele desenho em traço que não sai. Ele cai em cachos e ri. Ele é sequioso e não tem pressa. Mas se move. E corre. Ele é certinho e é avesso. Ele é tanto tantos e é tanto um que eu por vezes o desconheço.
Ele. Meu corpo.
E com ele um pouco outro.

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Hã biloute
¨¨ Tataaa... café anárquico é sempre um prazer, meu bem.
¨¨ Vá, fico aqui tentando lembrar palavra por palavra daquele trechin do Mia Couto e nada... como pode? Saudade sua.
¨¨ rosí faz falta. jeann faz falta. ponto.
¨¨Já disse uma vez por aqui que sempre que esclareço uma dúvida outra surge automaticamente pra preencher o nada de segundo de espaço vazio. E continua assim, simsim. Reclamo não.
¨¨ Fal, sobre a prosa de ontem, tá tudo gravado, meu bem. No da testa rola até neon.rs!
¨¨ Luzita, até amanhã resolvo minha vida sobre o rompeano e a gente arma o esquema. ainda quente por aí? chocolates? gente insana? guenta que tá acabando, minha flor! =)
¨¨ Jones, que a viagem seja boa... com ares variados, dias bem vividos e vinhos bem tomados. E ó, prepara-te que a volta te espera com corridas sem dores e almoços grãfas... hehehe!
¨¨ Pequi! Brigadinha pelas dicas práticas de hj de manhã. =). Boa viagem e até a volta!
¨¨ Lalous, meu coração contigo aí no Rio, hermanita... volte logo e volte bem... =)
¨¨ e á, o dia 22/12 chegou e correu macio... muito bom, simsim!

¨¨ don azia todo dia. sensacional.
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2 comentários:

  1. Eu conhecia esse texto do Mendes Campos. já tinha lido em algum lugar. é lindo, verdadeiro. é que a gente se ilude que tudo é pra sempre né? não é. e quando a gente descobre, dói mais do que a gente pode suportar...
    Obrigado pela visita,
    bjos

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  2. nina... que bom seria se a gente desse menos valor à idéia de continuidade e colocasse mais energia no viver AGORA...um dia a gente aprende...
    obrigada vc por compartilhar seus textos e seja muito bem-vinda por aqui!
    beijo!

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