quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Amada Blogosfera
"Retardado aos oito anos
Mãe é exagerada. Sempre romantiza a infância do filho. A minha, Maria Carpi, dizia que eu fui um milagre, que enfrentei sérias rejeições, que não conseguia ler e escrever, que a professora recomendou que desistisse de me alfabetizar e que me colocasse numa escola especial.

Eu permitia que contasse essa triste novela, dava os devidos descontos melodramáticos, entendia como licença poética.

Até que mexi na estante do escritório materno em busca do meu histórico escolar.

E achei um laudo, de 10 de julho de 1980, assinado por famoso neurologista e endereçado para a fonoaudióloga Zulmira.

“O Fabrício tem tido progressos sensíveis, embora seja com retardo psicomotor, conforme o exame em anexo. A fala, melhorando, não atingiu ainda a maturidade de cinco anos. Existe ainda hipotonia importante. Os reflexos são simétricos. Todo o quadro neurológico deriva de disfunção cerebral.”

Caí para trás. O médico informou que eu era retardado, deficiente, não fazia jus à mentalidade de oito anos. Recomendou tratamento, remédios e isolamento, já que não acompanharia colegas da faixa etária.

Fico reconstituindo a dor dela ao abrir a carta e tentar decifrar aquela letra ilegível, espinhosa, fria do diagnóstico. Aquela sentença de que seu menino loiro, de cabeça grande, olhos baixos e orelhas viradas não teria futuro, talvez nem presente.

Deve ter amassado o texto no bolso, relido sem parar num cantinho do quintal, longe da curiosidade dos irmãos.

Mas não sentiu pena de mim, ou de si, foi tomada de coragem que é a confiança, da rapidez que é o aperto do coração. Rejeitou qualquer medicamento que consumasse a deficiência, qualquer internação que confirmasse o veredito.

Poderia ter sido considerada negligente na época, mas preferiu minha caligrafia imperfeita aos riscos definitivos do eletroencefalograma. Enfrentou a opinião de especialistas, não vendeu a alma a prazo.

Ela me manteve no convívio escolar, criou jogos para me divertir com as palavras e dedicou suas tardes a aperfeiçoar minha dicção (lembro que me fazia ler Dom Quixote, e minha boca andava apoiada no corrimão dos desenhos).

Em vez de culpar o destino, me amou mais.

Na vida, a gente somente depende de alguém que confie na gente, que não desista da gente. Uma âncora, um apoio, um ferrolho, um colo. Se hoje sou escritor e escrevo aqui, existe uma única responsável: Maria Carpi, a Mariazinha de Guaporé, que transformou sua teimosia em esperança. E juro que não estou exagerando." (grifo meu)
Fabrício Carpinejar
que bonito.... mil vivas para a dona mariazinha... =)
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Rádio Plutão
"leva até vocês mais um programa da série a série "dedique uma canção a quem você ama"..."
http://grooveshark.com/#!/s/Branquinha/4b6MwQ?src=5
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PSs
latifúndio = acolhimento em abraço verde
geladeira não é armário
amor líquido
prefiro os covardes aos hesitantes
hoje é dia de ana. iêi.
show dos los hermanos em maio. preparem-se para tietagem sem fim
vestido não combina com chuva e ventania
caderninho ainda sumido
"vamos viver tudo que há pra viver."
"VAMOS NOS PERMITIR." (né lutianita?) =)
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4 comentários:

  1. Texto emocionante, mostra as façanhas do amor incondicional!!!

    O amor faz realmente MILAGRES!

    abraços e um bom dia!

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  2. A vida é uma vitória: basta saber perder para conseguir saboreá-la. Tudo azul!

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  3. AMO o carpinejar, paulo.
    depois dá um pulinho no blog dele. boto fé que você vai gostar!
    um ótimo restin de dia p'c!
    =)

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  4. boa, felipe!
    e boto fé que ignorar o valor da dor e da derrota não poupa ninguém do ruim... só serve para limitar o aprendizado e inflar egos (normalmente já por demais encorpados...rs).
    ninguém está imune ponto.
    =)

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