sexta-feira, 1 de junho de 2012

A vida em palavra
Não tive muito contato com meu avô paterno, Seu Nicodemo Cosenza. Ele e minha avó moravam em bh, a gente aqui em bsb, e nosso encontro era um-por-ano no natal. Meu avô foi um pai rígido para os 11 filhos que criou mas o passar do tempo o fez macio com os netos. Ele fazia sua tradicional vitamina colorida (daquelas que levam tudo dentro) para a netaiada e gostava de contar histórias. Gostava também de escrever versinhos, que depois foram reunidos em um livro chamado "patacoadas do vovô". Foi ele quem me deu de presente um caderno simples, com capa dura e dedicatória, quando ficou sabendo do meu gosto pela palavra. Eu tinha 9 anos e foi o meu primeiro caderno de escritos, ao qual eu dei o nome festivo de "farofa". Bem, mas não é disso que eu quero falar.
Certa vez meu avô me chamou para ouvir música. Colocou na vitrola um vinil do Lupicínio Rodrigues e começou a contar dos bailes, da vida em Paraguaçu e dos seus dias de moço. E contou também uma história sobre o Lupicínio. Segundo o vô Nicodemo, e não tenho a menor idéia se isso foi verdade ou não, o Lupicínio, rei da dor-de-cotovelo, compôs a canção "vingança" para uma ex namorada e, algum tempo depois, ela de fato sofreu um acidente e rolou pelas pedras. O compositor teria sentido um peso enorme por ter visto o seu desejo concretizado e sentia uma pontada de arrependimento a cada vez que cantava a canção, que é até hoje um de seus maiores sucessos. E eu ali, criança, ouvindo a história, aprendi que a vingança não tem graça nenhuma. Aprendi com o meu avô e com o Lupicínio que a vingança não é "um prato que se come frio" como se diz, e sim um prato que se come azedo. E o azedume deixa o estômago revirado e um gosto acre na boca. É sofrimento garantido para os dois lados.
Ontem, ouvindo a versão dos Caram, lembrei-me disso tudo e fiquei pensando no quanto é importante a educação pela palavra, quando se conta o vivido e o outro tem a oportunidade de refletir sobre a questão antes de ter que lidar com a situação real. Boto fé que nos dá a chance de evitar um tanto considerável de cabeçadas. Minha história com a vingança foi assim. Aprendi na palavra sem precisar aprender na prática. Que bom. E me pergunto se a gente anda contando nossas histórias e as histórias que nos foram contadas para quem está ao redor ou se esse hábito está se perdendo na falta de tempo. A vida ensina a todo instante e cabe a nós usar a palavra como instrumento.
Tenhamos tempo.
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4 comentários:

  1. Eu tive uma avó paterna que me alfabetizou. Imagine a importância disso em minha vida. Se hoje sou toda literatura, devo muito a elça.
    Abraços.

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    1. que bonito, nina. talvez já previsse ela a escritora que você viria a ser, o seu bailar genuíno com as letras.
      agradeça a ela por mim.
      e não deixe de contar a história. você sabe bem. =)

      beijo!

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  2. ai, iza, q história linda.

    há muito q quero comentar concê: tu então descobriu a Bruna Caram, hein, essa linda com sotaque... a 1ª música dela quieu gostei é "signo de câncer", KKKKKKKKKKKK! =P vixe, nessa época nem sonhava em conhecer o peixe e vczinha.

    vingança só em filme, quéri, com o Jean Reno e a Natalie Portman em "O Profissional". no mundo das caranga bom mesmo é o chamado "tapa com luva de pelica"!
    lutieu.

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  3. AMO A BRUNA, lutinha! meu sonho é dançar como ela, com aquela energia toda.
    "no mundo das caranga bom mesmo é o chamado "tapa com luva de pelica"!". taí uma grande verdade carangueira. =)
    que bom que gostou do texto!

    beijonocê, lutitu.

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