domingo, 5 de janeiro de 2025

 "A assinatura de todas as coisas"

Livro. Livro é coisa outra que é livro mas é mais. Porque se expande para além da história no papel, abre esse portal imagético automático e quase inexplicável. O livro dita o escrito e você cria caras, roupas, ruas, movimentos. Inventa sem pensar o tom do diálogo, a voz que fala, o silêncio que ouve. E sente a umidade da gruta, a textura aveludada do musgo, o cheiro na nuca, a angústia e o amor de quem "nem existe". E ri e chora e vira refém da história pra depois ficar meio órfã quando ela acaba. Um livro é mais que uma história contada. E consegue ser ainda mais se se põe a caminhar, ganhar mundo. Aí, quem de novo o lê conhece a leitura de quem já o leu. Não só por traços, grifos ou palavras soltas de canto. Mas por que ali se conecta com idos olhos atentos, com a impressão invisível dos dedos nas folhas, com o barulho do passar das páginas, com as pausas. Há toda uma energia vivida na leitura do outro que chega pra quem agora chegar. E essa beleza, esse encontrar, me toca. Tanto me toca que coloco sem dó meus livros pra girar e esse, a partir de hoje, é seu. Acho justo. Acho justo que você me leve nele, eu estando ali nas quatro vezes que o li. E leva de quebra também outros dez pares de mãos e olhos de gente querida que por ele passou. De alguma forma, quase inexplicável, eu o lerei contigo.

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