segunda-feira, 14 de abril de 2025

"como dois e dois são cinco"

Chove um tanto lá fora. Chuva bonita, encorpada, contínua, com um ou outro som tímido de trovão. Chuva que faz uma a cor do céu. Um longo e único branco acinzentado. E eu, sem cor aqui dentro, não consigo me prender a nada. Como se mente e corpo estivessem sintonizados nessa frequência vaga, sem chiado. Trabalho sem trabalhar, leio sem ler, dirijo sem dirigir, malho sem malhar, como sem comer. E não, não estou afundada em um poço de tristeza ou outra emoção qualquer. Não é isso. Há dor, mas não é isso. Estou desligada, em off, atravessando os passos do dia. Um a um. Eu ausente. Preciso dar um jeito de descer com a Margot. Minha capa de chuva verde, guarda-chuvão e a capa de chuva rosa bonitinha e meio ridícula dela. Preciso trabalhar até as 19:30. Chuva de matérias aqui. Preciso não errar. Tipo de ato, seção, data de publicação. Básico, Izabela. Preciso higienizar as folhas para a salada, ralar cenouras. Preciso continuar nesse silêncio perene e vago, sem chiado. Branco acinzentado. Duas mortes em cinco dias. E eu perdi a cor. 


sexta-feira, 11 de abril de 2025

Rádio Plutão

Imersa com Noga no Aquário



"quero te dizer nenhum segredo" 

* Manhã, aula de bike indoor, no telão competição feminina na Bélgica e uma imagem aérea mostra uma capela cercada de verde por todos os lados com o escrito "Chapel of Steenbergen" no canto da tela. Por um segundo escapei sem pensar para outro tempo, outros tantos lugares e tanto que quase senti aquele cheiro específico. Quase. Mas não. 

* O que chega para ser escrito desconhece o tempo do relógio. E se chega no meio da madrugada traz consigo um imperativo de urgência, pois há chances abissais de ele cair no esquecimento se não cair no papel naquela exata hora. Nessa noite foi assim. Lá pelas 4 me veio o texto prontinho: início, caminho longo e encadeado, pausas, as repetições que imito da Fal (oi, Falzuca), fim que retoma o começo e, se não me engano, até um toque de pretenso humor no meio de uma prosa sobre luto. Não sentei para escrever e ele se foi provavelmente sem volta, o que tem tudo a ver com tudo. O que tem tudo a ver com o (des)embaraço do tempo.

* Alguém da vizinhança tem praticado sax nos fins das manhãs. E eu já me pego dando bom dia pro som. Bonito isso.

* Focaccia. E não falo aqui de pão. É meio que nome ou estado das coisas.

* Noga Erez faz folia em minha vida desde 2023 e tenho pra mim que estou compensando por todo o pop que não ouvi nos anos 90 (Alanis conta como pop, produção?). E tenho ouvido só e somente ela nos últimos dias. Tio Jorge morreu na quarta-feira. O Tio Jorge. Sigo um tanto desorientada desde então, sem conseguir colocar pra dentro ou pra fora, e Noga, de alguma forma, me ritma. Especialmente no aquário.