terça-feira, 6 de maio de 2025

 Maio


(o céu do chão do parque. sem filtros, por supuesto)

Fal e sua voz delícia começaram recitando Vinicius. "Suavemente Maio se insinua/ por entre os véus de Abril, o mês cruel/ e lava o ar de anil, alegra a rua/ alumbra os astros e aproxima o céu ". Eu, tola, nem sabia que Abril era notoriamente um mês cruel. Achei que tivesse sido alguma disjunção cósmica explosiva endereçada ao meu desatento e discreto umbiginho. E sinceramente não sei se a consciência da crueldade democrática de Abril me conforta ou me perturba mais. Enfim.
Brasília começou trazendo mudança na tardezinha do dia 1, cumprindo a cartilha maiana (?). Fez frio. Brasília sabe desfilar um Maio de noites e manhãs frias, dias de calor e ostenta os mais lindos céus azuis. Lindos. Paulinha e eu nos embrulhamos em casacos e capuzes e meias e seguimos sentadas em cadeiras de praia, proseando ao vento e observando as 12 crianças que brincavam espalhadas em um grupo só. Bonito isso. 
Eu sinto que só comecei mesmo no dia seguinte. Dois de maio é em Minas (ou pelo menos em Uberlândia) o dia mais doido do ano. Doidemai é como se lê e se vive o dia em minerês. E meu doidemai foi doidemai como eu escolhi: no meio do mato. Dia inteiro de trilhas, cachoeiras, prosas, silêncios, o som das passadas no cascalhinho do cerrado (amo) e o acolhimento único que só água corrente sabe dar.
Não sei o que será de Maio. Esperança não tem tido espaço entre as palavras de ordem que imperam (aceitação e perspectiva). Mas sei que ele começou.




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