terça-feira, 5 de agosto de 2025

Retórica 
E se a mola da gana de fato morar fora do linear? No que escapa do roteiro, no que desvia, no descontínuo?
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Rádio Plutão 



sábado, 2 de agosto de 2025

Bonito isso

com Milly Lacombe, que é belíssima 

Perai que vou buscar meus óculos. Pronto. Bem melhor. E é por aí.  Quando criança tinha esse sonho de usar óculos por que achava (e ainda acho) absurdamente marcante e charmoso, mas eu tinha olhos de águia, visão perfeita. Aí que aos 44 fui renovar minha CNH e descobri que não conseguia mais ler bem de perto. Hoje, aos 49, a vida de perto é só borrões se sem óculos. Rolou um tempo de adaptação, mas confesso que adoro meus óculos e, de verdade, adoro precisar deles. Não tenho síndrome de Peter Pan, eu acho. Fico bem feliz que não morri (pra morte, por que em vida já dei umas morridinhas) e vou juntando em mim minha bagagem. Me orgulho dela com o seu pior e o seu melhor. Entro em uma ou outra crise de quando em vez, pois estou inserida nesta cultura etarista e misógina e machista do cacete, mas me sacudo e saio delas em 3, 2, 1. 

Bom, introdução à parte, o ponto é meio que esse e meio que outro. Queria falar sobre as rugas. Estou assistindo ao seriado The Pitt e putz, o Noah Wyle. Lembro dele dos tempos idos de E.R. e que bonito é vê-lo com seus 54 anos e suas rugas. E veja bem que eu não estou me posicionando politicamente (apesar de estar). Eu acho realmente bonito Noah e suas rugas. Bonito. Atraente. Verdadeiramente bonito. Minha pergunta é: quem inventou que envelhecer é feio e deve ser evitado esteticamente a todo custo? Quem? Que loucura é essa? É genuinamente bonito, na boa. E talvez W. tenha chegado em minha vida também pra reforçar este olhar. Ele é 11 anos mais velho que eu, e eu o acho bonito, repetindo, genuinamente bonito. Quem decidiu em caráter coletivo que o tempo vivido imprimido na pele é feio e deve ser negado? Sou a única mulher de 49 anos que conheço que nunca fez nada de harmonização facial e nunca me senti tão bem. Sei que posso mudar de ideia (não linear e contraditória, lembra?) mas confesso que tenho hoje em mim uma autoestima quase delirante. Gosto de quem me tornei, do que penso e emano, da minha aparência, do meu estar de agora. Não tenho mais rosto de menina e por que teria se não mais sou? Tenho meu rosto de mulher. E acho realmente belo Noahs e Ws e Eus exibindo suas trajetórias no rosto. Como isto não pode ser belo? É! Pra mim é.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

"vermelho sangue, verde oliva, azul celestial..."

☆ Venho por meio desta dizer que, aparentemente, o inverno acabou. Celebro e me sinto pronta para reclamar do calor desalmado quando setembro chegar. 

☆ Toda uma geração que foi alfabetizada ouvindo Marina Lima e passou a vida soletrando fugaz em caderninhos e cartas tendo Marina como fonte. Até que o corretor automático veio enfim dizer que não não, que o gás total é sem L e e com z. Achei bonito. Tanto ter escrito errado mas certo esse tempo todo quanto descobrir um jeito certo mas errado novo de escrever. 

☆ O cheiro fresco e úmido de roupa recém pendurada no varal.

☆ Eu me olhando de fora e quase sempre vendo sentido em estranhar meus ímpetos primeiros. Basicamente um eu contra eu pra então achar o a favor. Quase todo dia. Em cartaz em mim.

☆ Outra batalha é ouvir o corpo e atendê-lo no que ele pede, jogar a rigidez em relação à malhação pros ares. Fácil não. Esse fds teve teatro, boteco com cerveja agarradinha na cachaça (oi, Minas), torresmo, prosa ao sol, chamego noturno sem pressa e me permiti não pisar na academia, me controlei na minha cartilha quicante. Passei o domingo quietinha e, em agradecimento, meu corpo me colocou pra dormir às 20:36 e segui feliz até acordar com o primeiro sabiá laranjeira. Só ganhei nesse exercício de escuta. Mas é fácil não. 

☆ O choque de ter o que queria. Um susto. Aperta áspero e me solta macia em movimento contínuo. Tátil.

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Rádio Plutão 

Nova da Noga no repeat





sábado, 26 de julho de 2025

Filhos de mim

Nós ali sentados no banco esperando por Pedro, em chamego e brincadeira, quando André me pergunta: manhê, qual é seu ponto fraco? E lá vou eu: filhote, talvez seja o silêncio. Nos seus opostos. A presença marcante dele me incomoda, me faz preencher os espaços vazios com dúvidas e devaneios que via de regra nem fazem sentido. Eu sou da palavra e entro em conflito com o não dito, entende? E, por outro lado, me perco de mim e do outro quando o silêncio me falta. Preciso do silêncio, do tempo, do respiro. Preciso de espaço para elaborar o que eu penso e sinto. Preciso da falta. Mas nem sempre sei lidar com ela. E ele diz: não, mamãe,  é o ponto fraco no corpo. O meu, por exemplo é a cosquinha. AÍ eu não soube responder. E como ri. rs.

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Por que eu amo a Fal


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quinta-feira, 24 de julho de 2025

Trecho esparso sobre o amor

O nome dele, um sussurro. O desfecho de um suspiro. Os erres que não sei se sobem ou descem ao final das sílabas soam despretensiosamente como um quase ronronar. Algo singelo. Mas para minha voz, com o meu sotaque, parecem evidentes demais, a ponto de eu me constranger. Ou não. O nome dele. Ele. E eu solta em sons.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

 " olha o meu charme, minha túnica, meu terno..."

quem não pode jacumã, vai de olhos d'água 

E este sorriso estalado? Esta cútis cheia de viço? Esta dancinha enquanto escova os dentes cantando p.l.e.a.s.e (oi, Noga) em pretenso silêncio? Esta energia saindo quicante por todos os poros? Fim das férias escolares, darlings.

"Janelas escancaradas como bocas que bocejam". Karl Ove Knausgård. Bonito isso.

☆ Fui a um café encontrar cazamiga e lá encontrei uma outra que não via há tempos mas sabia eu que ela tinha se divorciado recentemente. Aí ela me conta o que rolou e né, putz. Se Chico Buarque estivesse ao meu lado, sussurraria em meu ouvido "não sou eu quem repete a história, é a história que adora uma repetição". Que merda! Sou capaz de tacar o caderno na cara de quem disser "nem todo homem", por que é o homem na maioria esmagadora das vezes. E não pense que falo aqui em cima de um palanque de moralismos ou regras impraticáveis. Sou a mulher que carrega "não linear e contraditória" piscando em neon na testa e sei que todo mundo faz merda, todo mundo pode ser escroto e magoar os outros de quando em vez. Mas escrotice continuada, sustentada no tempo e no espaço, com a pessoa que está ali subindo a montanha contigo, aí não. Acho o fim da picada. Sabe o que eu queria? Peraê que vou abrir um meu reino inteiro só pra dizer.

Meu reino inteiro 

Por um feitiço que, diante de uma escrotice consciente e continuada, faça o pau dos caras ir apodrecendo até cair no sétimo dia. Quem sabe seria didático.

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 "mas não tem nada não, tenho o meu violão". 

☆ Há os que adoram estar sempre certos, cobertos com o manto adamascado da razão. E há os que até apreciam a beleza dos próprios tropeços, suspiram ufas quando se percebem equivocados. Talvez não por maturidade mas por um senso crítico um cadinho mais apurado em relação a si mesmo. Ou então, se pá, por simples estratégia de sobrevivência. Não sei. Perdi o fio da meada. rs.

E eu que sou a rainha do falo o que sinto me peguei segurando a palavra ali, na pontinha da língua. Mas isso é prosa que carece de elaboração, prosa pra texto. 

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Rádio Plutão 

Quer...

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sábado, 19 de julho de 2025

Trecho esparso sobre o amor 

Parte de mim tem sobrenome escapar. Mapeio vielas escondidas, examino a viabilidade de terrenos de passagem e guardo senhas batidas no bolso. Enxergo rotas de saída em portas de entrada e, não satisfeita, chamo outrem para entrar. Decifro códigos talvez nem escritos. Desenho possíveis obituários no canto do caderno. Deixo a mochila pronta e prendo os cachos no alto, também pronta. Alongo o corpo, afino os olhos e me faço Rita em "cartão postal". E não sei se mais me acho ou me perco nesse ensaio supostamente sem palco.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

 "cada estrela se espanta à própria explosão"

☆ Fal sempre fala tanto da importância do registro e eu não só digo amém como afirmo ser tatuável "sou uma crente do registro ". 2012, que ano horrível. E como é bom reler e me ver ali me debatendo. Eu não estava passiva. Melhor ainda reler e ver que não estou mais lá. Um grande sonoro e prolongado ufa.

☆ Ainda sobre o tema acima, eu boto  fé que toda vez que alguém começa a escrever um diarinho, o universo inteiro agradece. E se o diarinho é compartilhado, eu agradeço (oi, Davi).

☆ Os filmes do Wes Anderson. A estética, as cores, a fotografia, os diálogos, aquele ritmo permeado por um todo díspar. "O Esquema fenício " e a abertura com aquela cena no banheiro. Putz. Assistiria mil vezes partindo em pedaços e degustando segundo a segundo.

☆ E como não confessar que estou apaixonada? Suspirante, olhos brilhantes, ridiculamente entregue. Querendo tudo, querendo o todo, querendo mais. Sou puro amor pelo meu e só meu recém chegado óleo de canabidiol. Noite passada dormi oito, eu disse OITO horas de sono. É um soninho bom, uns sonhos macios, uma sensação de descanso que nem sabia mais que poderia existir. Sou só amor, sou só bem querer. 

☆ Feminista de merda. E. abomina a expressão pelo mesmo motivo que pra mim faz sentido usá-la (assassinei o português aqui, produção?). Diz ele que fomos criadas em uma cultura machista e misógina então sempre haverá contradição em nós, independentemente do quão "feministas" somos. Por isso não há que se falar em "de merda" pois é uma condição esperada. E, pra mim, exatamente por ser uma contradição via de regra inescapável, mesmo com letramento e atitudes outras, ela é uma merda. Ela não deixa de ser merda só porque temos clareza da contradição. Bem, discordâncias em concordâncias à parte, estava lá eu na melhor linha "então é outra festa, é outra sexta-feira" quando parei para me perguntar se aquilo que eu me dizia querer eu queria de fato ou queria de modo automático, mais para os outros que para mim. E minha resposta foi diametralmente oposta ao "meu querer" inicial. Me senti simsim uma feminista de merda. Mas não com ares pejorativos. É mais como um percalço (ui) natural no caminho de quem questiona o script e, boa parte das vezes, rompe com ele. Consegui me explicar? Bom, as 6 pessoas que leem o blog sabem que nem sempre me faço entender, então está tudo sussa. 

☆ Me interesso tanto. Me desinteresso tanto. Aí me interesso tanto. Às vezes nem eu dou conta, na boa.

☆ André Alves e a empatia. Era outro tópico, mas hoje não. :)

terça-feira, 15 de julho de 2025

49 e 3



O 13 de julho virou outra coisa mais que o meu aniversário. Em 2022, foi também a data do dia um de separação, o dia do "nem mais uma noite". Só de lembrar me vem aquela força no peito, o pé firme bancando a decisão e uma serenidade controversa, um prenúncio de alívio. Até então eu via o fim do casamento como um quase fim do mundo. E protelava. Ouvia Chico Buarque cantando que "a saudade é o revés do parto" e cria na separação como o revés do amor. Mas bastou a concretização da experiência chegar para minha perspectiva começar a mudar. Passei a ver e sentir o término da relação como uma grande manifestação de amor. Pela vida, por mim mesma e, de uma maneira meio truncada (às vezes envolvendo raiva e mágoa), também de amor pelo outro. Porque há o entendimento de que estar junto daquele jeito não tem mais nada a ver com amor. Ali sim, permanecer na relação, seria o revés do amor e a separação é o grito pro resgate. É um suspiro fundo que puxa ar novo e nos abre para a possibilidade de uma vida que faça sentido. Sair de uma relação exaurida é um ato de amor imenso. Por isso acho que o divórcio deveria perder o estigma de fracasso e ser celebrado, ritualizado como outros tantos acontecimentos marcantes e decisivos pelos quais passamos. Tanto que na época fiz uma despedida de casada: festa, bolo, lembrancinha, karaoquê. E ontem celebrei o ano três com água de cachoeira escorrendo pela nuca e sol no rosto, com a alegria de estar em mim e rodeada de amor por todos os lados. Viva.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Georgie Jones - Resoluções para felicidade 

 N° 12  "Surpreenda-se com algo pequeno todo dia. Uma sombra, uma frase, uma colher ".

☆ Sobre o branco, o movimento lento dele de abraçar meu pé com a mão.

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Palavra roubada

"Glitch love

do amor ter sido a sorte

da morte 

do amor ter sido amor

tecido à sorte

do amor

à morte e a sorte

do amor ter

vencido 

do amor ter amortecido a morte 

e sido"

Davi Machado (Aqui)


sexta-feira, 4 de julho de 2025

 " e sonho soluções fenomenais..."

☆ 17:35. Tardinha que cai, minha hora preferida no dia. E sim, estamos em julho e acredito ser senso comum que esse é o mais gorjeante dos meses. Nada a ver com o fato do meu aniversário ser no dia 13 e ser também o Dia Mundial do Rock. Nada a ver.

☆ Fui visitar escritos antigos (oi Davi), lá dos idos 2010 e, pelamordadeusa, que obsessão por uma idealizada "leveza".  Aff que dá uma vontadinha de sair apagando, mas não, né? A gente foi quem foi pra ser quem a gente é, quem a gente está. Então tá valendo. 

☆ Lendo "A morte do pai", de Karl Ove Knausgård e degustando a maneira na qual ele descreve sua criança perceptiva e observadora, inserida naquela cultura familiar tão tão rígida e tão igualmente familiar pra mim. 

☆ Gosto dele. Esta afirmação teve o patrocínio da oitava série B (oi, Falzuca). rs. E gostar, pra mim, decerto por ser algo que não acontece com frequência no campo afetivo-sexual, carrega um quê de estranheza. Me estranho. Estranho estar neste terreno único, não antes pisado por mim nem pelo outro, um todo novo. Acho bonito, excitante e estranho. A sensação que tenho é a de que tudo sinto e nada sei. Ou quase algo sei já que sei que me estranho. E sei também que minha boca talvez não se mova, mas meu olho abre em sorriso quando a gente se vê.

☆ E se a Iza de 2010 era obcecada por leveza (blé), a de 2025 tem como alvo Georgie Jones e sua escrita recitada. Não me canso.  AQUI


quarta-feira, 2 de julho de 2025

Imo

Falhos. Intrinsicamente falhos. Ou meramente humanos, por assim dizer. E às vezes sem perceber, em movimento mais que natural, mergulhamos fundo nas nossas fendas, nas nossas ladainhas, na nossa pequenez mais genuína. E ali engendramos análises mirabolantes e perfis adversos e planos plausíveis que fazem MUITO sentido. Bem, MUITO apenas no secreto âmago de nós. Até que conseguimos enfim respirar, respirar de fato, e iniciamos o movimento de volta. Nos afastamos do conforto caótico da nossa gema e aos poucos sentimos certa clareza chegar. Esticamos os braços para alcançar o Eu que existe para além de nós e espreguiçamos como quem acorda de um sonho ruim, de uma viagem errada. Mas vira e mexe voltamos para lá, talvez entendendo melhor os ditames do passeio amargo e aprendendo a não se demorar. E penso que não é problema o imo ter ares de inescapável. Desde que consigamos, de alguma forma, escapar.

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Rádio Plutão 

"eu abro meu Neruda e apago o sol"


Aqui

terça-feira, 1 de julho de 2025

Retórica 

E quando não há chão para o clássico e esperado "mas agradeço por"? Quando o que há é batida de pé que anseia por cegueira de poeira pra enxergar o não visto?

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Bishop 



domingo, 22 de junho de 2025

Trecho esparso sobre o amor 

Ela imprimiu o silêncio. Jogou para o campo do inexistente o que viria, como se ele assim passasse de fato a inexistir. Mas não se calou no todo. Falou e cantou e riu sobre coisas outras da vida mostrando estar bem, confortável naquele hiato criado. E eu, que sou por demais galgada na fala, na palavra, guardei o silêncio no engasgo da garganta e fiz o que podia: respeitei. Não cabe a mim invadir o que nela nem é.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Nada frágil 

Fala. Olha e fala. Se coloca, alinha essa estradinha aparentemente torta. Desenha seu querer em letra, seja pela boca ou pela caneta. Fala, tenta, é mais de boa do que você pensa. Descasca seus medos, joga seus sins. Usa sua voz, banca seus nãos. Um não bem bancado é mais que revolucionário. Fala. Põe seu azulejo colorido no meio do chão de cimento batido e vê o que acontece. Fala. Ou cala, vai, se preferir assim. O silêncio também é bonito do seu jeito, no seu claro imperfeito. O silêncio é vasto, morada de nós imaginários e espaços nada gastos. Então cala. Calar é mais regra que rebedia.

E, no fim do dia, 

até o que cala

fala

na pequena poesia

terça-feira, 27 de maio de 2025

"Margarita has a strange appeal..."

** Num passado já distante, lá pelas saudosas terras das Minas Gerais, conheci esse cara, T., que tinha aí umas questões de ordem psíquica e carregava nas costas uma história famosa. Ele estava no aniversário de uma prima quando, no meio da cantoria do parabéns, ouviu uma voz dizendo: é agora!. T. atravessou a sala correndo e pulou. Da sacada. Do décimo andar. E não, não morreu. A queda foi amortecida por um toldo da área de lazer do prédio e ele somente quebrou as duas pernas. Somente. Na boa, cair do décimo andar e quebrar as duas pernas é NADA. Pois sim. Lembrei dessa história do T. por que na semana passada minha mãe "quebrou as duas pernas". Na versão dela foram nove costelas, pulmão contundido, corte no cotovelo e hematomas mapa mundi espalhados pelo corpo. NADA para alguém que bateu em um caminhão. Em uma rodovia. E o caminhão foi arrastando o carro até atingir um poste que desterrou pegando o carro por baixo também. E não, ela não morreu nem sofreu lesões graves, irreversíveis. Tá aí tendo que ser vigiada para não fazer peripécias durante o repouso necessário. E, assim como T., tem agora essa história pra contar. 

** Saber compartimentar os diferentes aspectos da vida é uma arte, penso eu. Separar em caixinhas, rotular com letra bonita, organizar por ordem de importância e prioridade. Tudo muito claro, visual e certeiro, ali contigo. Nesse sentido, eu por vezes brilho, por vezes fracasso miseravelmente. E, no fim, não sei se faz diferença. Cê lá vi.

** Alessandra Orofino é uma gênia. Gênia. E a cada Calma, urgente parece mais articulada, precisa. Nada não, só pontuando obviedades.

** Adoro quando falo mal de algo, sou veementemente contra, brado "nuncas" enfáticos e depois vou lá, faço e gosto. Adoro. rs

** Eu ainda diria mais...

sábado, 17 de maio de 2025

"tô nem aí pra rolê, tô nem aí pra rolê"

** A frase acima cantada em coro entusiasmado no rolê (ói p'cê vê), frio cortante do invernico candango, gente dançante, mistura tipica asa norter e eu, novata ali, me perguntando quanto João Gomes é muito João Gomes. Ah, João Gomes 💛.

** Fazer amizade em fila de banheiro é um dos pequenos prazeres da vida que mais me apetece, na boa.

** Aceitação e perspectiva. Pepe Mujica morreu nessa semana e me peguei pensando muito na vida dele. Pensar no todo da vida dele trouxe a palavra "contentamento" para o meu já em curso processo de aceitação das coisas e foi um tempero bom. Quanto à perspectiva, E. me trouxe essa analogia que fez sentido e, sentido fazendo, decidi dar aquele conhecido passo pisando diferente. E pisar diferente mudou o passo. Bonito isso. 

** Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro e Miranda July me faz exclamar um "Cê tá de sacanagem" em sorriso a cada 5 páginas. Delícia.

terça-feira, 6 de maio de 2025

 Maio


(o céu do chão do parque. sem filtros, por supuesto)

Fal e sua voz delícia começaram recitando Vinicius. "Suavemente Maio se insinua/ por entre os véus de Abril, o mês cruel/ e lava o ar de anil, alegra a rua/ alumbra os astros e aproxima o céu ". Eu, tola, nem sabia que Abril era notoriamente um mês cruel. Achei que tivesse sido alguma disjunção cósmica explosiva endereçada ao meu desatento e discreto umbiginho. E sinceramente não sei se a consciência da crueldade democrática de Abril me conforta ou me perturba mais. Enfim.
Brasília começou trazendo mudança na tardezinha do dia 1, cumprindo a cartilha maiana (?). Fez frio. Brasília sabe desfilar um Maio de noites e manhãs frias, dias de calor e ostenta os mais lindos céus azuis. Lindos. Paulinha e eu nos embrulhamos em casacos e capuzes e meias e seguimos sentadas em cadeiras de praia, proseando ao vento e observando as 12 crianças que brincavam espalhadas em um grupo só. Bonito isso. 
Eu sinto que só comecei mesmo no dia seguinte. Dois de maio é em Minas (ou pelo menos em Uberlândia) o dia mais doido do ano. Doidemai é como se lê e se vive o dia em minerês. E meu doidemai foi doidemai como eu escolhi: no meio do mato. Dia inteiro de trilhas, cachoeiras, prosas, silêncios, o som das passadas no cascalhinho do cerrado (amo) e o acolhimento único que só água corrente sabe dar.
Não sei o que será de Maio. Esperança não tem tido espaço entre as palavras de ordem que imperam (aceitação e perspectiva). Mas sei que ele começou.




sábado, 3 de maio de 2025

 Rupi Kaur 

     (os livros dela e o que já foi meu autorretrato)

Tarde de sábado, sol, friozinho. Margot observa, já sem enxergar, os filhos de mim inventando toda sorte de brincadeira com gravetos e subindo em árvores e me esquecendo soltos. Um novinho de bigode passa cantando alto, pisada firme, algo que desconheço mas cuja letra me leva para outro som, outro tempo e me faz fechar o livro um pouco para chegar lá. Quando se lê poesia, tudo e qualquer coisa parece poética. E com Rupi Kaur me sinto em mergulho na falta de água. Ela entrega escrita que afunda faca no peito, desce em zigue-zague e você sangra repetidamente a cada página. O ar me falta, engulo seco, fecho os olhos e sangro. Sangro feliz pelo que leio e sigo sangrando até ter que parar sem conseguir. E me vejo Kaur no murchar, cair, enraizar, crescer, florescer. Caso meu florescer com o dela, piso o mesmo terreno e vejo que queremos mundos parecidos, que lutamos parecido. Termino o livro meio de sangue trocado de sangue mesmo. Termino o livro com a língua afiada em palavra e pronta para imergir em outros jeitos de usar a boca. Inclusive para dizer seu nome. Rupi Kaur. 

quarta-feira, 30 de abril de 2025