quarta-feira, 1 de junho de 2011

Eu não resisto
malvadezas! http://malvadezas.com/

A Hipocrisia nossa de cada almoço de domingo
"“Você pode evitar descendentes. Mas não há nenhuma pílula para evitar certos antepassados” (Millôr)
Simplesmente do caralho o raciocínio, mas o que eu fico pensando é numa expansão da eficácia da pílula e ver se rola de eliminar uns colaterais, também…
Eu tenho uma baita dificuldade, confesso. Uma dificuldade de me sentir confortável em determinadas situações em que todo mundo trata determinada pessoa de forma normal, riem das piadas dele, escutam o que o sujeito fala, enfim, como se ele fosse alguém que não devesse estar apartado do convívio social.
Nessas horas, não penso no Daniel Dantas, nem no Naji Nahas ou o Cacciola, penso naquele jornalista do Estadão que matou a namorada e tava soltão por aí. Ontem mesmo, provavelmente estaria numa festa com um copo de uísque na mão, contando piadas engraçadíssimas e gargalhando em família. Idem os pleibas que botaram fogo no índio, os (hoje) médicos que mataram o japinha na piscina da USP, aqueles caras que espancaram uma empregada doméstica, acho que todos eles, em família, divertem pessoas, namoram, desfrutam as benesses de uma vida bem nascida enquanto a cadeia não vem. E não vem.
Daí que o patriarca de alguma dessas famílias brada que o Naji Nahas, o Cacciola e o Daniel Dantas tinham que estar presos, esses mesmos patriarcas que um dia sentaram na frente de um Delegado e perguntaram “Vai custar quanto”?
É exatamente a mesma coisa, em maior ou menor escala, tudo uma reles questão de cifra, mas a liberdade ter um “preço”, à revelia da Lei, da ética, da moral e do bom senso, eu entendo. O que eu não entendo é que, além da “liberdade”, venha o silêncio, a leniência, a pressa em transformar qualquer assunto em tabu pra não pintar climão, enfim, tudo aquilo que é feito nas mais altas esferas da corrupção, é repetido no seio das famílias de classe média (alta, baixa, gorda, magra…).
O meu argumento é muito cabotino, mas lembro de uma aula de religião no Agostiniano, era perto do dia das mães e aproveitaram pra falar da mãe de Jesus, e a professora falou que a mãe é a primeira ADVOGADA do filho… estranho, porque a minha sempre foi a primeira a vir com o dedo em riste ACUSANDO, normalmente sem muito direito à defesa. Meu pai, com o jeitão dele, de Juiz sem muita paciência pra ouvir conversa fiada de réu, acabou compondo o resto dessa trindade “manca”, e se eu cresci desprovido da ampla defesa e do contraditório, acabei me tornando um adulto intolerante. Tenho ainda no lombo as marcas de cada estalo do chicote dos meus erros, por isso fico tão maluco quando vejo a mão passando na cabeça e os panos quentes.
A Laura me pede paciência e compreensão, porque esse tipo de gente um dia já foi como o Duda, só inocência e sorrisos e barulhinhos e sílabas; eu até compreendo, claro, mas aí dá um puta medo de que o Duda, um dia, vire esse tipo de gente… e se isso acontecer, será que eu vou ficar tentando adivinhar onde foi que eu errei antes de perguntar pro Delegado “Quanto vai me custar”? Eu costumo dizer que o Duda vai saber que, por piores que sejam as ameaças que o Delegado, polícia ou outros presos fizerem, eu vou fazer pior. Mas vai saber, né?
“Serás hipócrita nas festividades familiares” é o Primeiro Mandamento da tábua da Classe Média, todo mundo meio misturado pra disfarçar melhor, o que espanca empregada doméstica e o que bota fogo no índio e o que mata namorada e atropela traveco e vai atrás de uma pastilha da melhor qualidade pros amigos criados a leite com pêra nos Country Clubs espalhados pelo país, escolas particulares, cursos de inglês, mamãe indo buscar no colégio e escondendo do pai os primeiros passos rumo à delinquência, todo mundo ali rindo a milhão, quem sabe ainda não convidam um traste desses pra ser padrinho de casamento de alguém?
Eu só fico querendo ir embora, sair correndo, tampar o nariz e ligar o som no máximo, enquanto a rapaziada deve rir nas minhas costas, esse otário que precisa TRABALHAR, ha ha ha, quem mandou não ter pai rico?
É Pai, você tava certo o tempo todo sobre essas coisas…"
Randall Neto
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Trechos esparsos sobre o amor

na foto: aquele almojanta com margaridas.

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Durante anos meu afeto se expressava no olhar para cima. Para exatos 33 cm a mais que eu. Tanto que nem consegui me concentrar no gosto do primeiro beijo outro que não o dele. Só sentia a estranheza do contato com o chão. É que eu só sabia beijar na mais esticada ponta dos dedos dos meus pezinhos.

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Eram quase 4 da manhã. Eu, insone, estava lá pela 8ª página de escrita compulsiva quando do nada chega uma mensagem no celular dizendo "Iza, põe o caderno de lado e vai dormir, sua louca." Ri sozinha por uns 5 minutos. E depois chorei um pouquinho. De alegria. Por entender que eu não estava sozinha.

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Ele me ligou cinco minutos depois e a gente conversou em português, espanhol e inglês. Disse que voltaria pra Argentina em dois dias, que queria me ver e me chamou pra sair mais tarde. Mas eu já tinha aquele samba inusitado. Nada me tiraria daquele samba. E a saída ficou pro dia seguinte. Aí entrei no carro, gritei aquela frase uma e me deixei ser tomada pela euforia azul da ousadia. A ousadia tem cor simsim. Nunca o quase conhecer foi tão gostoso.

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Era junho. Ele passou lá em casa para uma noite de festinha, buteco, caldo, não sei. Não me lembro. Mas lembro simsim que antes de sair eu o levei para o quarto e me enfiei embaixo do edredon com ele. E ali, cobertos dos pés a cabeça por um só minuto, eu disse o meu já planejado "só queria te mostrar o quanto esse inverno vai ser gostoso". E ri. E foi.

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Nossos DRs tinham endereço certo. Sempre o mesmo local, com seus bancos de madeira rodeados de bonsais. A gente tomava uma única cerveja e ocupava a disputada mesa por horas a fio com nossos pingos nos is e nossas pazes demoradas. Os garçons nos abominavam. Mas a gente saia de lá tão bem que nem ligava.

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Noite passada um espanto bom me tomava toda vez que eu falava o nome dele. Nome de sonoridade única. Na verdade, ele me parece todo meio único. No jeito, no cheiro, no gosto, na espontaneidade, na energia, no vigor. Ele me deixa à vontade, me enche de vontade e me faz querer ficar. Noite passada eu fiquei. E ele bebeu das minhas costas. Bonito isso, fazer do meu corpo copo pro vinho. E fazer do meu corpo corpo pra tanto. Ele faz.
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8 comentários:

  1. malvadezas c/ aquela fofa da Carolina Mendes?

    adorei! obrigada, dio mio, por ter me feito nessas épocas da tecnologia digital internética.
    o que seríamos sem isso?

    bjo :-)
    Lutipiolhandoaqui.

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  2. Eba! Que textinhos deliciosos! E o melhor é que me sejam tão "íntimos"! Amo participar da sua vida!
    Beijos

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  3. Izaaaaaaaa... dia... :)

    Hummm... num sei hem... foda isso... me vejo as vezes com essas perguntas... sei exatamente como quero ser com os meus... mas serei realmente quando necessário??? acredito que sim, mas fica a dúvida...

    Eu acho realmente foda todos esses que erraram e estão impunes, por este ou aquele motivo, mas e ai? O que estamos fazendo para ser diferente? Certa vez um amigo, que já eh pai, contava sobre um dialogo com seu filho; o filho fumava maconha, e tentava convencer o pai de a droga era legal, que o deixava mais tranqüilo e focado, enfim disparou mil argumentos a favor; mas o argumento do pai foi implacável, ele simplesmente disse: “você vive em um país onde consumir essa erva é crime, e se quer fumar faça a lei mudar”. Isso me valeu de muito, se queremos que seja diferente façamos diferente e contaminaremos o próximo a ser diferente e um dia o todo será.

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    Uau... adorei esses... todos... como eh bom saber que não estamos só :)

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  4. por isso constituí um próprio estilo de relação familiar, às vezes até muito radical... gosto da minha santa casinha, com os meus demônios, a minha paz, meus tormentos, meu prazer e minha vida sem ter alguém tentando de fazer sorrir só para me agradar ou eu tentando fazer o mesmo, como se estivesse à espera de um presente. odeio que me bajula simplemente porque sabe meu nome e acha que é meu amigo ou quem me odeia porque acha que eu tenho que babar o ovo... enfim. acho que consegui escapar! fiel são os meus livros, que me emcionam, cutucam e roubam sensações minhas só quando os procuro, caso contrário, eles respeitam a minha hora.

    =)

    a regra é trabalhar ou dar o golpe, só assim haverá dinheiro para comprar a liberdade... aquela que segura um copo de uísque na mão e ri com as piadas sem graça dos puxa sacos, corruptos e marginais igualmente.


    bjsmeus

    ih, foi mal o "livro". rsrs

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  5. luti, a carolina não se contenta em arrasar paris solo. ela tem que juntar esses escritores sensacionais e fazer misérias no malvadezas.
    a gente agradece feliz, nhé? =)
    e ó, sem o virtual a gente nem se conheceria... já pensou?? não consigo nem imaginar, flor!
    te vejo na semana que vem,né? uma dê!
    beijocafé

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  6. lalous!!!
    hehehe...dá até pra você escrever nomes, lugares e datas ao lado de cada trecho, não é vero? =)
    tb amoamoamo fazer parte da sua, hermanita querida!
    beijosábadoénóix

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  7. pequiiiii!!
    a questã é de fato complexa mas também boto fé em um caminho assim, desde o berço, que diminua a impunidade que impera nesse mundo cão.
    e nãonão, não estamos sozinhos ponto, querido! =)
    beijotémaistarde

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  8. fernand's!!
    que bonito que não existe receita, não é mesmo? que cada um tem a liberdade de construir seu "espaço" da maneira que lhe apetece, em ares e cores que encaixam ali... como você faz. muito bonito.
    e ah... vida longa aos livros e "livros"(rs!) que trazem tanto e fazem tanto!! =)
    beijodebomdiap'c!

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