sexta-feira, 1 de julho de 2011

Por que amo a fal
na foto: por essas e outras AMO. 

" Pais divorciados tem um faro incrível para roubadas.

Calor insuportável, que não acaba, que não melhora, a chuva só faz o calor do asfalto subir e me surrar. A Sílvia, que é má, acaba de me garantir que não existe chance, por menor que seja, de eu acordar e ser agradavelmente surpreendida com a contastação de que essa vida não é a minha. A chance que existe é de eu acordar numa vida pior que esta. O que me enche de pavor. Mas depois, com pena de mim, ela disse que n'alguma dimensão paralela ela está passeando nas ilhas gregas, e que eu estou junto. Já melhora um pouco. A pia? Nojenta. Cheguei num ponto em que me irrita ter faxineira e me irrita não ter, irrita ter que fazer jantar e irrita não cozinhar, eu amo os gatos, eu odeio os gatos, eu queria querer ir viajar, mas a verdade é que não quero sair daqui por nada deste mundo, sou apegadíssima aos meus bens (e meus "mals") materiais, mas, ao mesmo tempo, ando enchendo sacos de lixo enormes, aqueles pretões, de 100 litros e jogando tudo fora.

E meu velho pai era um caso à parte. Ele atraía as roubadas, ele era um ímã de tretas.

Nunca pensei que diria isso, mas os saquinhos de supermercado dessa casa acabaram. Meu Deus, como assim? Então saquinhos de supermercado não se reproduzem por brotamento? A gente tem que repor? A vida é mesmo um mistério sem fim.

A pièce de rèsistence do Pai foi uma viagem de férias às capitais nordestinas. Pacote de excursão, porque o velho adorava uma excursão. Em Recife, o passeio principal era uma voltinha de escuna até a Ilha de Itamaracá. Comecei a enjoar no cais.

Paula ligou. Na terra dela é o quinto dia seguido de chuva, com quase 43 graus de calor. O tempo todo. Ela disse que hoje cedo a filhinha dela perguntou: "O sol sumiu, mamãe?". Depois ficamos em silêncio, eu adoro silêncios telefônicos e daí ela me disse "tenho medo que o tempo passe". E quem não tem, querida? Anyway, a essa altura do campeonato, eu e meu prato de sopa fria não faremos comentários.

Dentro da maldita escuna, eu suava frio. Estávamos lá fazia dez minutos, quando começaram a aparecer golfinhos. Lindos, lindos, mas Deus, meu estômago havia trocado de lugar com o esôfago, os golfinhos que se danassem.

Suas dívidas. Seu cão. Sua taxa de ácido úrico. Seus charutos. Suas filhas. Seu filho. Sua firma. Sua sinusite. Seu passado. Seus amigos. Suas escolhas. Seu porre. Seu nariz. Suas compras pela TV. Sua caneta-tinteiro. Sua terapeuta. Seus prazos. Suas certezas. Suas dúvidas. Seu medo de altura. Seus tiques. Seus advogados. Sua mãe. Seu Sotaque. Seus bilhetes. Sua loção pós-barba.. Seu bigode. Suas perdas. Seu ronco. Seus pesadelos. Sua coleção de elefantes. Suas sardas. Seus sócios. Seu jipe. Suas sandálias.

A pobre Violeta, imune às desgraças que me acometiam, corria pelo convés, gritando, acenando e me puxando "Olha, Alma, olha, golfinhos, golfinhos!!"

Dei uma entrevista na TV pra divulgar a vernissage. Em pânico, atordoada, fui maquiada e solta debaixo dumas luzes furiosas. A entrevistadora transformou todos os meus defeitos em atrações especiais. Depois de ser entrevistada por ela, não moro mais no bairro pobre de uma cidade pequena. Moro num "refúgio, à beira-mar". Não sou mais esculhambada, sou "despojada, blasé e chique". Meu alcoolismo, meu ostracismo profissional, a morte da minha filha e todas as merdas pelas quais já passei foram "experiências marcantes, que me ajudaram a amadurecer enquanto artista e enquanto ser humano a nível emocional". Eu juro por Deus. Enfrentarei a exposição tentando me sentir não esquisita, mas "excêntrica".

Vomitei por todo o oceano Atlântico, matando de nojo os outros turistas e nunca mais o Pai me arrastou para outra roubada daquelas."

Fal (sempre incrível) Azevedo
..................................................................................
de Tempo próprio

"Do que fizemos com nós mesmos:
Empreendemos nossos melhores esforços e conseguimos, enfim, transformar o que era belo e bobo em algo simplesmente grandioso e vulgar."

Sr. T, entre o assombro e o encanto
..................................................................................
Ele, amplo
" Pra você. Pra hora em que a fome bater.", disse ela, com uma maçã na mão esquerda. E ele, que sempre carrega frases prontas na ponta da língua, por um minuto não soube o que dizer. Ela abriu um pouco mais os olhos, em espera. E ele, tão acostumado a ser só e, só, a só cuidar só de si, viu um mundo outro no redondo da maçã. Ele, diante do braço estendido e do meio sorriso sincero, sentiu no rosto a cor da delicadeza. Estava claro, até no ar, que não havia nenhuma intenção afetiva ou sexual no gesto dela. Ela, que caminha leve, viu as duas maçãs dentro da bolsa e lembrou que ele ficaria ali até mais tarde. Ela, que gosta de guardar a mão direita em bolsos de vestidos, seguiu o impulso simples de dividir. E ele, que teve que aprender a não precisar de receber, pegou a maçã e agradeceu, quase sem voz. Ela saiu da sala e ele levou a maçã ao nariz pra sentir o cheiro, não da fruta, mas da mão que oferece. Cheiro um. E ele, tão confortavelmente enfadado de tudo que é do mesmo, foi tomado pelo novo. Mordeu a maçã como quem muda de vida. E - na textura, no barulho e na cadência do movimento - foi sentindo o espalhar do amor humano, do amor maior. Sentiu o gosto do amor amplo. E ele, já com uma camada de casca caída no chão, sorriu escondido e quase quis chorar. Por dentro. Um doce quaseaindanão.
....................................................................................
Só conto o milagre
" Ela mexe pedrinhas, cuida da Lua, mas a Terra que se foda."
" Ele é o contínuo "elegante" de lá." (com ênfase nas aspas e biquinho torto...rs!)
" Tô não, bem... " (ai,...)
" Não pularás fogueiras não-pernambucanas." (santo ampliando os mandamentos)
" Enfiou o facão na bananeira? Então não vale!."
" Passei o dia ensAlarada." (com "A" mesmo. quedóquedó!)
" Esse negócio de amor me confunde um bocado." (a todos nós, santo querido)
" O nome índio dela é Enfiafuçanaterra."
" Como assim eu sou o babão do chefe? Vou falar mal dele daqui a pouco!" (a-hãm)
" É da Bahia? Porque parece que o problema tá la na Bahia..."
" Só no sistema não dá. Aí não tem de onde tirar graça." (rs cavalar!)
" Ó senhor, livrai-me porfavorzin de toda essa mesquinharia que reina entre os ditos semideuses." (amém)
.......................................................................

2 comentários:

  1. Eu curti isso. :-)

    Tempopróprionosso.

    T

    ResponderExcluir
  2. que bonito ter aqui nesse espaço esse tal de T, que tem cor de realeza e vem nos sabores azedindoce, anis autista, limão tímido e frutas vermelhas do alto de edifícios. que bonito.
    diga a ele que agradeço. =)
    beijo, querido.

    ResponderExcluir