quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Plutoemos pois
Quero ir para Plutão. Passagem só de ida. Em um busanga daqueles de dois andares e quero a poltrona primeira do andar de cima, em que a frente é toda de vidro e só se vê céu, estrada e suas laterais variadas. Quero vazia a poltrona ao lado, para que eu me espalhe tranquila em movimento meu. E espalhada em veludo amarelo, me sentir assim quase pano. Quero que a viagem seja ridiculamente longa e que dê tempo de fazer muito e pouco de tudo. Ler rios, escrever cadernos, cair em cochilos, sonhar sonhos misturados, ouvir som que gosto e som novo, esticar as pernas colando os pés no vidro esquentado pelo sol, comer matula surpresa feita por um alguém querido, olhar a estrada, fazer nada. Quero dias claros e quentes, noites frias, chuvas finas, tempestades e sóis coloridos. Quero a mais genuína solidão. Quero o aconchego bom do desenlace. Quero chorar o mais triste dos choros e quero rir como nunca ri. Quero o elefantito e o ciciobelo da infância e quero neon gritante nos meus dois fios de cabelo branco. Quero conversar sozinha e depois me calar por horas. Quero contar as piadas que reprimi por serem muito más e quero achar graça nenhuma. Quero minhas unhas carmim. Quero lembrar beijos e esquecer. Ou não. Quero aquele gosto um e o cheiro leve da romã aberta. Quero leveza por completo. Quero a completude da imperfeição.

E quero viver cada sentido com o prazer de quem se despede.

Em Plutão o todo será outro.

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Quanto chico é muito chico?

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Eu não resisto!
malvadezas!

Flores de Plástico
"Pegue sua bússola, seu GPS, um calendário e algum instrumento antigo de medição do tempo de vida do universo. Agora sente-se de frente para o mundo e examine: em que ponto das história estamos? Vê aí pra gente…
Alguns dizem que talvez o Natal de 2012 seja uma grande festa de despedida. Eu não acredito mas há quem, pasme, ache que é o fim.
Nos últimos milhões de anos, a terra tem nos mostrado que FIM é um momento que não existe. Quer dizer… existe ali, naquela hora, mas todo fim é o começo de outra coisa, e vão-se os dinossauros e ficam os deuses do Egito, vão-se os Maias e ficam os argentinos e, assim o mundo acaba para uns e para outros sucessivamente até a gente cansar. A gente… porque para a Terra foi só uma puberdade, uma TPM, um dia chato, sei lá.
Mas aí que eu acho que está bem na hora de um fim outra vez. Agora, bem agora, que a terra assumiu sua porção bregona, talvez seja necessário apagar as luzes, descer a cortina e começar uma coisa nova.
Quem quer viver num mundo onde a trilha sonora é, à sua escolha, sertanejo universitário, Justin Bieber, Lady Gaga, sertanejo de raiz, Calypso, Claudia Leite, Ivete Sangalo, pagode… ai já posso morrer?
Quem quer viver sem questionar o uso de lâmpadas frias enfeiando tudo e todos?
Quem quer ir em festa onde a bebida é servida em copo de plástico?
Tá… conheço todos os seus argumentos: Beatles é velho, luz fria é mais barato sua burguesa besta fora da realidade, os pobres têm direito a festa e o copo de plástico não é problema… Nossa, como você é preconceituoso! Nem me esperou terminar o raciocínio e já veio com esse papinho de síndrome de coitadice aguda!
Veja bem, copo de plástico é simbólico. É só o símbolo do mundo descartável. Eu posso trocar tudo pra FLORES de plástico, se você preferir. Elas não são feias, elas só são falsas. Falsas como tudo o que estamos vivendo: temos celebridades que mal atingem um momento realmente célebre e já desaparecem. Temos grandes lançamentos que duram um ano e já são substituídos pelo similar mais barato – e de menos duração. Temos grandes sucessos que você não vai lembrar em dois anos. Temos hits em todas as áreas das artes, que se olhados duas vezes, são cópias da cópia da cópia de algo que já foi bom, só que pior. E a luz fria e o led… ai meu deus, como vamos sobreviver a tanta feiura? Casas feias, ruas feias, gente feia, árvores feias… tudo é um grande holofote de luz fria chapando as cores e evitando as sombras, como se fosse pecado ter forma. É mais barato sim, eu sei, mas existe lâmpada fria amarela, e ninguém sabe, ninguém compra, e tudo é desse azul defunto pavoroso, transformando até obras arquitetônicas centenárias e incríveis, numa coisa empastelada. A gente teve essa mania de baratear e “modernizar” as coisas nos anos 70, e teve neon, vidro fumê e esquadria de alumínio até em Igreja milenar. Uma lástima.
Será que eu falo das mulheres de plástico? As trogloditas fortonas com dois balões de silicone nos peitos, mais dois no rosto, coxas de jogador de futebol, tanto botox na testa que brilha como um backlight esticado por cordas super-poderosas, e beiços duros, e um preenchimento no bigode de chinês que tira as marcas naturais e cria um monstro do pântano de cara achatada. Mulheres que eram lindas e agora precisam DURAR, nem que isto custe a harmonia dos traços ou a feminilidade. Flores de plástico! Flores de plástico!
Oh horror!
E os homens com a testa triangular de tanto botox? Com o espaço entre as sobrancelhas quilômetros maior do que antes, tiraram tudo que há de mais bonito num homem, que é o olhar. Olhar? Que olhar? Os olhos redondos de plástica já haviam matado o olhar… tirar os últimos pelos da sobrancelha e esticar a testa é só o último golpe.
A gente vive nesse mundo onde ruga deixou de ser a marca do sorriso ou da vida no rosto, para ser um pecado mortal. Você é velho! Ui! Vamos esticar tudo, puxar tudo e tacar uma luz fria em cima. Flores de plástico!
E são de plástico as campanhas publicitárias e os filmes no cinema.
Ah os filmes… lembra quando Star Wars era feito com maquetes e dedicação? Agora tudo é CG e 3D e quando você vê na televisão todos os efeitos se vão e só fica a tristeza. A realidade nua e crua: você foi enganado!
Lembra quando a história era mais importante do que o efeito especial? Quando grandes dramas eram campeões de bilheteria? Agora não. Agora os estúdios não investem em drama. É muito arriscado! Quanto mais boba ou pastelão ou apocalíptica a história, mais grana: e grana é só o que importa. Porque o mundo se tornou um grande fundo verde de chroma key. E luz fria. E emoções de botox. E pesquisas do departamento de marketing de deus, onde todos os anjos de gravata amarela e as deusas de terninho azul e sapato feio dizem o que pode e o que não pode, o que é politicamente correto ou não, e mandam trocar tudo o que é belo, bom, gostoso, por um monte de lâmpada fria num fundo verde com flores de plástico.
Cadê os Maias? Acho que está na hora da gente ir encontrar com eles.
Adeus."
Mercedez Gameiro
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2 comentários:

  1. Gosto muito mais do plutão do que da proposta de suicídio :)

    se tiver uma vaguinha ai na geringonsa eu to dentro... \o/

    ah... o mundo não está tão assim... sempre existe lado bom em tudo... o novo fica velho mais cedo pois estamos mais dinâmicos... a vaidade excessiva é rum... bem ruim... arnaldo jabor expressou muito bem isso em seu texto sobre mulher de verdade...

    sertanejo!!!??? tem hora pra tudo... canto, bebo e choro feliz uma noite inteira... a energia do funk beira a da bateria de uma escola de samba... no dia seguinte o ipod toca tudo de bom... todos os vinicius, tons e chicos ... sigo o caminho do meio, eclético... aproveitando o que ah de bom em tudo... e sempre há...

    poxa... a luz amarela eh charmosa... mas a da lamparina da minha avó era mais... gostava muito quando não tinha energia na fazenda... mas a alegria dela ao contar do capitulo da novela ou os dos bichos do globo repórter compensa qualquer luz amarela... :)

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  2. pequiiiii!!!
    plutão-o planeta digestão-rocks, darling! e sempre te vaga pra ir pra lá simsim! =)
    concordo contigo que o mundo não tá de todo ruim e que a vida é boa... mas curto bastante o jeito AHHHH gritante que a mercedez tem de colocar as idéias no papel.
    se vc me diz que sertanejo tb pode ser bom, que depende da hora...bem... eu QUASE acredito.RÁ!! continuo com a minha teoria de que todo mundo gosta de ouvir uma porcaria ou outra de vez em quando!rs! cê lembra daquela que te contei? shhh..
    luz de lamparina em casa de vó... ai que dê, pequi!!!!
    desocupa aí e vambora encontrar, birthday boy!!!
    beijomeu! =)

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