sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Rádio Plutão
repete o que é bom.
=)

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Minicontos sobre a falta
os derradeiros, creio eu.
 
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A manhã de sexta era pra começar como de praxe: corpo dormido que acorda e vai cedo para o trabalho. Mas a noite anterior tinha sido desemplanada em som bom de Recife, dança pouca mas plena, cachaça baiana e tempestividades madrugueiras. Aí ele rompeu. Passou a manhã na cama e só saiu de casa para o almoço. A paisagem de fora era a mesma mas alguma sutileza provava que era não. O seco da grama, a copa das árvores, o reflexo dos carros e até mesmo o céu pareciam cobertos por uma camada espessa de mel. O sol intenso daquela hora trazia um tempero espalhado de que ele quase tinha esquecido que gostava. É que há ausências que são assim, de tão simples só se manifestam quando acabam. E só ali, diante dela, já finda, ele percebeu que sentia falta da cor do meio dia.
 
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Carregava por ele um amor declarado e um ódio secreto. E tentava de certa forma conter os dois. Quando perto, derretia melada, se esvaia em água e sua devoção até doía. Já pelas costas era a pior das inimigas - a silenciosa - que muito pensa e nada faz. Até fazer. O ódio era consequência das frases de farpa e da acidez que ela tinha em si. O amor vinha de todo o resto e era muito. Muito que era muito mas virava ar sem balão nas horas plenas de ausência. Parecia que ela só sabia amar na presença. Não sabia se lhe faltava crença nele ou crença ponto. Na verdade, nem sabia ao certo o que lhe faltava.
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