quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Palavra Roubada


Por uma vida mais Anti-heróica
"Não tomo jeito. Não amadureço. Não deixo de perder, nunca.
Deixar de me orgulhar é minha maior vocação.
Sinceridade degenerativa. É comigo mesmo.
Mas sou um bom moço. Desde que não me peçam nada.
Não que eu faça por mau gosto. Mas é que eu faço sempre errado.
Não por maldade. Talvez eu tenha Asperger. Ou seja um baita de um fresco.
Mas às vezes eu faço certinho, e até se orgulham de mim.
Expectativas, não as crie! Elas podem se virar contra você.
Cante uma música, duas, três… até ficar sem voz. Os fantasmas devem sumir. Ou cantar contigo.
Na hora do cansaço, procure um amigo, mas um “daqueles”.
Se não achar um amigo, encha um copo.
Se não achar um copo, arranje um travesseiro bem fofo e o aperte, desesperadamente.
Leia um gibi, bata uma punheta, coma uma caixa de doces. Procure briga na rua.
Olhe para a lua, para as estrelas, peça para que os OVNIS venham.
Grite: VAI TOMAR NO CU o mais alto que puder.
Daí você vê que o planeta Terra é o que tem pra hoje, e volta pra lá.
Daí você compra um relógio e uma agenda.
Daí você amarra os cadarços e abre a porta da garagem.
Daí você coça a cabeça e lembra o quão grande é o mundo.
E o tanto de coisas que ainda dá pra você tentar fazer antes de desistir.
E se não der certo? Foda-se. Foda-se mesmo.
Se for pra se agarrar num clichê, que seja o ‘ligue o foda-se e seja feliz”.
Não recomendo cautela, calma, serenidade nem nada. Recomendo que faça.
Se errar, foda-se. Se acertar, foda-se. Não tem jeito.
Por mais que fique rico, famoso, saudável e cheio e de seguidores no meu blog,
o fato mais cruel e inescapável é o de que eu vou morrer sozinho.
E você também.
Portanto, vivamos mais juntos, mesmo que errando pra caralho.
Não quero ser cobrado pela perfeição que querem me dar.
Quero ser sentido, abraçado e compartilhado. (grifo meu. !)
Se não gosta, não entende ou apenas julga, é mais fácil que apenas ignore.
Não sou um bom moço, mas não sou um vilão sanguinário.
Apenas assumir os pecados pra tentar pagar as indulgências para que
o dia-a-dia, lazarento por nascença, seja menos penoso."
André Oliveira (o link do blog dele tá ali ao lado)
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Por que amo a Fal
na rua, dando sequência... =)

"Senhora Helena
 Antes de tudo, vou pedir desculpas pela demora em respondê-la. Não peço desculpas de nada nem a ninguém, nem dou explicações sobre o que quer que seja a quem quer que seja. Não percebo porque alguém haveria de se interessar e já não disponho mais de pudores que me provoquem a necessidade de me desculpar por algo que tenha feito, dito, pensado ou desejado.
Há pessoas que pensam, provavelmente, que sou amargo. Que sou estranho. Que sou arrogante. As pessoas pensam o que querem, senhora Helena. Não me importo com elas. Sinceramente, não faço a mínima sobre o que passa na cabeça de qualquer pessoa desse mundo. Todos pensam muito sobre tudo, o que significa que não pensam nada sobre nada. A única pessoa a quem eu daria explicações, pediria desculpas ou coisa que o valha seria Beatriz. Mas me senti aqui tocado pela sua carta, veja só, a segunda que recebo da senhora em tão pouco tempo. Há anos não recebia nada, como já disse, e pela segunda vez recebi seu envelope verde, o que provocou em mim uma reação bastante curiosa. E é a essa reação que se deve minha demora em respondê-la.
Ao receber seu envelope verde, senhora Helena, não senti medo. Não, desta vez não senti nenhum medo. Ao contrário, senti uma enorme vontade de cantar. A senhora canta, senhora Helena? Eu não canto. Nunca cantei. Sou incapaz de emitir um arrulho sequer, ou mesmo um som gutural, ou mesmo de movimentar os lábios para qualquer lado com a pretensão de que deles saia uma melodia. Uma vez minha mãe fez uma competição em casa, senhora Helena. Éramos cinco irmãos, eu o mais velho, depois duas meninas, depois outros dois meninos. A competição consistia em cada um cantar a melodia que mais lhe agradasse e, pelo voto direto de todos, o que melhor desempenhasse a função de rouxinol-mirim ganharia um mês de sorvetes e uma semana sem fazer as lições de casa, que seriam realizadas por minha mãe. Evidente que meu pai não imaginava nada disso. Na minha vez de cantar, senhora Helena, emudeci. Minha boca ficou presa na forma de um “o”, e era impossível movimentá-la. Passei três dias assim, senhora Helena. Uma paralisia, que gerou muitas visitas médicas, cerca de quatrocentas injeções de um líquido amarelo em minhas nádegas e o pânico eterno de cantar. Esse pânico ainda se tornou maior e se transformou em vergonha já que meus irmãos, depois do fatídico, para mim, concurso caseiro, formaram um grupo vocal, agraciado em Viena como a maior revelação da música erudita na Europa. Desde então, não canto.
Sua carta, então, me deu vontade cantar. Sentei na escada do meu edifício, senhora Helena, respirei fundo e sem me dar conta do que fazia, me senti Charles Aznavour e cantei Que C´est Triste Venise. Cantei, senhora Helena! E os vizinhos abriram as portas, e mesmo assim eu não me sentia intimidado, e todos olhavam admirados, não sei se por alguma eventual qualidade musical ou pelo estranho fato de alguém como eu, segurando um envelope verde, cantar Que C´est Triste Venise, no hall, sentado na escada. Ao fim, senhora Helena, todos me aplaudiam. Me aplaudiam, com fervor. E ouvi alguém gritar “bravo”, e alguém me jogou flores do último andar. Eu era Aznavour, senhora Helena. Eu cantei. E foi a sua carta que me fez cantar. Mas fiquei sem entender porque Que C´est triste Venise. Nunca fui a Veneza. Mas subi, senhora Helena, em meio aos abraços efusivos dos vizinhos, e li a sua carta, e agradeço por querer me ajudar a encontrar Beatriz. Não creio, às vezes, que isso seja possível. Reencontrar Beatriz. Mas decidi algo. Vou a Veneza, senhora Helena.
Há anos não saio deste cubículo em que vivo, nem desta cidade. Vou tomar um trem, porque não tenho pressa, as pessoas sempre têm muita pressa e eu não tenho nenhuma. Não acredito em viagens de avião. Toda viagem tem de ser por terra, para que se perceba o deslocamento do tempo. Enfim, vou sair daqui e vou a Veneza. Talvez consiga entender porque surgiu em mim essa canção que fala de Veneza e de amor e de desamor.
Se me permitir, enviarei nova carta, contando algo. Não sei se lhe incomodarei.
Ia falando tanto de mim que quase me esqueço de algo que realmente me causou surpresa, talvez até estranhamento. Senhora Helena, eu lhe afirmo que nunca, jamais, enviei uma carta sequer em envelope cor de vinho. Não sou afeito a esses caprichos, senhora Helena. Meus envelopes, digo novamente, são como eu: sem cor. São sempre brancos. Completamente brancos. Não creio que seja daltônica. Mas nunca utilizei envelopes cor de vinho. Não compreendo. Não compreendo.
Outra coisa: me surpreende também a qualidade de sua escrita em francês. Pude deduzir que é brasileira, mas que lindo o seu modo de escrever em francês. Nem Blanchot o faria tão bem. Já viveu em França?
 Um abraço,
 H."
Fal Azevedo
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