quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

E o Bowie canta "Changes"
Coisas. É. Algumas mudam com o passar do tempo e outras nem tanto. Antes se dizia escritor quem tinha livro publicado e/ou tinha a coragem (simsim, é preciso coragem) de se aventurar a ganhar o pão através das letras. Agora o mar de blogs e revistas virtuais abriram espaço para quem quiser jogar para o mundo o que escreve e somos todos (por que não?) escritores. Uns excelentes e outros nem tanto... isso não mudou... gosto é gosto desde que o mundo é mundo ponto. Eu comecei a escrever ainda criança, lá pelos 8 anos, arriscando versinhos simples e textos curtos. Não tenho livros publicados mas devo confessar que tenho três pequenos livros escritos no melhor estilo roots: mão e papel. =)! O primeiro escrevi na antiga segunda série do primário, ilustrei com meus desenhos infantis e dei ao dito o título de " Eu e minhas tralhas". O segundo e o terceiro foram escritos ao mesmo tempo, há quase três anos, para presentear meus adorados sobrinhos recém-chegados a esse mundo de meu Deus (Carol e Felipe) e suas ilustrações mantiveram o mesmo grau de destreza e elaboração estética do primeiro (rs!).
A inspiração para escrever o primeiro teve duas fontes: minha cabeça dura e uma irmã reclamona. Eu e Larissa íamos a pé para o saudoso Colégio Dom Bosco e, como eu carregava uma quantidade absurda de coisas todos os dias, Lalous sempre acabava me ajudando a levar alguma tralha, mas não sem reclamar constante e enfaticamente durante todo o trajeto. Daí veio o livro no qual eu, cabeçuda, justificava detalhadamente a necessidade de cada uma das minhas trocentas tralhas.  As frases simples escondiam um ar de manifesto e uma vontade visceral de provar que meu exagero fazia completo sentido. Acredito que o livrinho não foi guardado (se foi deve estar escondido em alguma caixa da Dona Elzinha), mas me lembrei dele ontem no caminho pro trabalho. Porque descobri que "Eu e minhas tralhas" entra na lista das coisas que não mudaram muito com o tempo. Desci do carro me sentindo uma árvore de natal: bolsa, cadernos, livro de AFO, livro do GG Márquez, caderninho, lancheira (sim, ainda carrego uma), pasta de documentos da mamãe, guarda-chuva de bolinhas (oi coquine!), casaco, kit academia e UFA.
E é isso: o que eu escrevo já não fica escondido, lalous e eu trocamos a w3 em corrida e azedume por horas de prosa amiga. Coisas mudam. Que bom. Mas continuo tralheira... com a diferença que agora sei melhor o quanto posso carregar sozinha, pro dia rotineiro e pra vida. Ou quase. Sigo em Treinamento. Bom também. =)
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Estômago
Dias atrás tava eu aqui escrevendo sobre os limites e sobre uma clareza desejada e experimentada. Aí o Krishnananda me aparece em um capítulo lá no finalzin falando exatamente sobre aquilo tudo que me tomava. Que alegria ÚNICA é um livro nas mãos. Pro confronto, pro conforto, pro diálogo. Agradeço mil vezes pelos meus olhos sadios e pelo meu amor pela leitura.

"Não é todo mundo que entra em choque quando se sente invadido. Alguns são mais do tipo rancoroso. Mas sei por experiência própria que os medos que há em ambas as reações são muito semelhantes. À medida que fui conhecendo melhor meus limites, que os validei e tive coragem de confirmá-los, passei do choque para o rancor. No passado, o tempo que havia entre a invasão e o reconhecimento de que fora invadido era longo. às vezes dias, até semanas. Eu percebia que, por alguma razão, não me sentia muito bem com aquela pessoa ou começava a fazer julgamentos e a censurava diante de outros. Isso se tornou, para mim, uma boa indicação de que eu fizera uma concessão, não dissera nada e agora estava ressentido. Mas aos poucos esse tempo foi diminuindo e minha reação passou a ser mais rápida. A consciência ampliada de que estava fazendo uma concessão, como fiz tantas vezes no passado, reacendeu a chama de uma fúria que eu estava reprimindo. Foi uma boa fas, mas acabei percebendo que a invasão e a reação a ela não eram, de jeito nenhum, o fim do processo. Minha raiva vinha ainda da criança emocional, que trazia consigo toda uma vida de ressentimentos. Reagir com raiva não é estabelecer limites. Não há nenhum poder real nessa reação. É só a criança emocional que saiu da desistência e passou para a explosão.
Tive de perguntar a mim mesmo do que sentia raiva - e por que tanta raiva. Em parte era por acreditar que, se eu não reagisse imediatamente, não estaria seguro. As pessoas se aproveitariam de mim. E em parte vinha do fato de querer que o outro ou a situação fosse diferente. Parece que a criança emocional jamais perde a esperança de que todo mundo (especialmente as pessoas do seu mundo) seja sempre amável, protetor e atencioso. Quando me sentia invadido por alguém, minimizava, negava ou ignorava, e então ficava indignado. No primeiro, caso dizia a mim mesmo: "Ela não quis dizer isso", "Tudo bem, não foi grande coisa.", "Fulano sempre faz isso.", "Preciso aprender a ser mais tolerante.", "Não devo ser tão rigoroso." Eu sustentava essas convicções com crenças sublimadas de toda espécie. "É bom ser tolerante e flexível." "É melhor não criar caso por qualquer coisa." Essas atitudes acabavam permitindo que as pessoas me invadissem porque eu enviava uma vibração que dizia "faça o que quiser comigo, não me importo." (...)
Finalmente, vejo que meu aprendizado de estabelecer limites não tem nada a ver com a outra pessoa. Ela vem da clareza (grifo meu!). Clareza do que eu necessito para mim e clareza para ver as pessoas como são e não como eu gostaria que fossem. Começo a entender que todos são inconscientes e que a inconsciência leva à insensibilidade, à invasão, ao desrespeito e até ao abuso. À medida que essa compreensão se aprofunda, vou deixando de me expor ao sofrimento, ao abuso ou à decepção porque vejo tudo mais claramente. E também, por não depender mais tanto de colher migalhas de atenção e de aprovação, sinto-me muito mais capaz de dizer não ao que considero errado em mim. Desenvolvo o senso do que está certo e do que não está.
Mas para realizar essa mudança tenho que estar sempre enfrentando meus medos de abandono, rejeição, punição ou reprovação. Quando sinto que alguém me magoa continuamente, é porque não estou vendo a pessoa como é. Mantê-la num patamar muito alto em meus ideais e expectativas afasta a solidão apavorante que sinto quando acordo de meu sonho. Se começar a dizer não, ela poderá achar que eu sou egoísta. Pior ainda, poderá se vingar. É mais seguro e familiar fazer concessões. É assim que nossa criança pensa e age. Mas, com a consciência da invasão, desenvolvemos a possibilidade de escolher. Podemos reconhecer quando a invasão ocorre, sentir os medos e estabelecer algum limite. E, muitas vezes, sem precisar reagir, apenas dando uma resposta clara."
Krishnananda
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2 comentários:

  1. Oi Iza,

    escrever para mim é terapia, me ajuda a organizar as idéias, é um desopilante! Seu blog é legal porque é um misto de reflexão com algo lúdico...

    eu não conhecia o texto do Krishnananda. Mas realmente se virmos o mundo, as relações humanas no mesmo patamar, nos decepcionamos facilmente e absolutizamos o que deveria ser relativizado. Se nos colocássemos em um nível mais alto, veríamos os acontecimentos com uma medida mais justa, de forma mais clara.

    agradar a todos é impossível, o que podemos é aproximar os afins. E para fazer isso basta ser autêntica, você mesma.... é simples, mas nem sempre fácil de fazer....

    abraços!

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  2. ei paulo!
    obrigada pela gentileza do elogio ao blog! =)
    e não vou nem começar a falar sobre o poder e o valor da escrita, sobre o que ela significa pra mim... haja palavras...
    O livro em questão é "o amor não é um jogo de criança" e nos instiga mergulhar nos sentidos pra descobrir de onde eles vêm e assim compreender melhor nossas reações. e abrir espaço para mudá-las. é uma viagem um tanto sofrida, mas produtiva. selo recomendo ponto. fica a dica =)
    até!

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