quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Flor e Marimbondo

Sentindo o contato do corpo todo com a grama, ela permanecia imóvel. Esticada e imóvel, deixava que os olhos fechados estudassem através da sua pele o movimento da luz e das sombras dançantes. E ficava ali, vendo com o sentido os pedaços móveis do céu.
Há algum pouco tempo, uma das vozes que a acompanha havia falado de uma árvore e da sua importância. Que essa árvore viria como um local físico para a oração e para a reflexão, um quasetemplo. Aí então ela fez dessa sua missão. Iniciou a melhor das buscas, daquele tipo em que não se procura de fato e sim apenas se mantém aberta para ser achada. Sem pressa, sem contar.
Um dia enquanto voltava a pé da escola pegou um caminho outro. É que os dias passados tinham sido tensos e ela estava exausta do trabalho que é cuspir marimbondos a todo minuto. Sabendo bem que os caminhos longos descansam mais que o repouso, ela seguia tranquila por partes desconhecidas da cidade. Um incômodo súbito no olho esquerdo a fez parar o passo e arrancar da pálpebra, com a unha, um carrapato cinzazulado e seu pequeno companheiro marrom.
Veio a dor. Veio o sangue escorrido. E depois de virar o corpo para limpar o rosto com a camisa ela a viu. A árvore viu a menina. Elas, já tão próximas, se aproximaram. O chão era coberto por uma grama verde de dois tons, o tom da sombra e o tom do tempo aberto, e a árvore tinha como companheiras outras duas. Ela abraçou a menina e disse que não iria sarar seu machucado, mas poderia ajudá-la a aprender a curar as próprias feridas. A menina aceitou a oferta de bom grado e visitava a árvore de dias em dias. Recebia os ensinamentos e pedia proteção. Levava poemas (lia enquanto passeava os dedos pela raiztronco) e, com seu amor entregue, também a protegia.
E às vezes, como hoje, só cantava e dançava e girava até cair em riso e ficar ali, na grama, esticada e imóvel. Esticada e imóvel no mais próximo que se pode chegar da leveza.
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Querer
A blogosfera é uma delícia boa. Amigos, amores, args, feedbacks e um mar infindo de coisas familiares e desconhecidas. A palavra escrita traz concretude para tudo que se sente, se vê, se pensa e que bom que tanta gente abre o peito e despeja aqui o que tem de seu, o que tem de vivo. Euzinha aqui agradeço e digo amém. =). Pois bem que lá estava eu no blog da karin flores (que é fresco e doce e eu adoro) e acabei descobrindo as rutes. Sensacional ponto. Ai que vontade que deu de ser rute tb!!! =)! Anyways, tomei a liberdade de roubar um texto que foi parte de uma intervenção deveras interessante e ele vem sem créditos por que não os achei por lá.  As reflexões sobre o dito deixo para outro post.Enjoy.
"Era uma vez um grande rei que governava as terras onde hoje estão a Inglaterra, a Escócia, o País de Gales e a Irlanda.
Arthur, chamava-se.
Um dia, Arthur saiu para caçar sozinho e encontrou uma alce imenso, todo branco de chifres galhados.
Era ele.
Arthur saiu em disparada atrás do bicho.
Acabou indo parar numa clareira da mata, onde nem sequer a luz conseguia penetrar pela trama das árvores imensas.
Súbito, um homem gigante, vestindo uma armadura negra, parou diante dele e trovejou: “Quem ousa caçar nas minhas terras?”. E preparou-se para matá-lo.
Diante da infração evidente, Arthur preparou-se para morrer como um verdadeiro cavaleiro: “Este é um belo dia e um magnífico local para morrer”, avaliou. O Cavaleiro Negro, reconhecendo a coragem do rei, decide desafiá-lo. Pediu que ele voltasse depois de três dias e três noites trazendo a resposta para a seguinte pergunta: Qual o maior sonho de uma mulher? Se conseguisse a resposta a vida do rei seria poupada.
Durante três dia e três noites, o rei Arthur e seus cavaleiros entrevistaram todas as mulheres do reino.
No final do terceiro dia, sir Gawain caminhava pelo bosque quando uma mulher horrenda apareceu na sua frente. De seus cabelos cresciam criaturas rastejantes e seus olhos eram vermelhos, pequenos e remelentos. Feridas cobriam o corpo curvado e retorcido, coberto com uma capa vermelha escurecida de sujeiras. Mas as palavras que a velha bruxa dirigiu ao cavaleiro foram como um clarão de esperança. “Sou Dame Ragnell, irmã do Cavaleiro Negro e conheço a resposta para a terrível pergunta que atormenta você. Posso contar, com uma condição: quero casar-me com o mais belo, o mais forte, o mais corajoso e bom dos cavaleiros do rei Arthur – O SENHOR MESMO – sir Gawain!!
Sir Gawain faria qualquer coisa para salvar a vida do rei e aceitou o pedido de Ragnell.
Então ela disse que o que uma mulher mais sonha em toda sua vida e Sir Gawain contou ao rei Arthur que então foi ao encontro do Cavaleiro Negro com a resposta certa e pode sair do domínios do grande cavaleiro vivo e livre.
O dia do casamento chegou. Toda a corte estava imensa em tristeza. E quando o sol nasceu, a cerimônia não teve os cantos alegres e as brincadeiras tradicionais. Gawain e Ragnell casaram-se em meio ao silêncio e à pena de todos.
Já a sós, os noivos conversaram até o sol se pôr. Quando se preparavam para dormir, a horripilante noiva cobrou do jovem seus deveres de esposo e um beijo. O nobre cavaleiro, sem pestanejar, colocou os lábios sobre a boca nojenta da bruxa. No mesmo instante, surgiu diante dos olhos espantadíssimos de Gawain a mais bela princesa que jamais havia existido.
E com voz de música a princesa falou: “Como você foi gentil comigo, vou deixar que decida. Posso assumir minha forma de princesa apenas durante uma parte do dia. Como você me quer? Bela para você durante a noite ou bela à luz do sol para seus amigos?” Gawain então olhou para Ragnell, curvou-se numa reverência e respondeu: “Lady Ragnell, a decisão é sua e eu vou respeitar sua escolha,qualquer que seja ela”.

O maior sonho de uma mulher é ter sua vontade, seu desejo e sua autonomia respeitadas.

E com estas palavras e sua soberania assim reconhecida pelo marido, Dame Ragnell escolheu ser bela tanto durante o dia quanto à noite e ambos, o nobre e generoso Gawain e a linda e poderosa Ragnell, decidiram ser fiéis um ao outro por toda a vida."
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tons of joy

Tempo a gente tem quanto a gente dá
corre o que correr, custa o que custar
tempo a gente dá, quanto a gente tem
custa o que correr, corre o que custar
O tempo que eu perdi, só agora eu sei
aprender a dar, foi o que ganhei
e ando ainda atrás, desse tempo ter
pude não correr, e ele me encontrar
não se mexer... beija-flor no ar
O rio fica lá, a água é que correu
chega na maré, ele vira mar
como se morrer fosse desaguar
derramar no céu, se purificar.
deixa pra trás, sais e minerais
evaporar.


2 comentários:

  1. Oi Iza, sou o maior fã da Flor, neste último texto você colocou como em mito algo que eu acredito: o encontro da verdadeira amizade que passa pela dor. Não há rosas sem espinhos. Não há espinhos sem rosas.... abraços!

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  2. oi paulo!
    existe um provérbio que diz que "friends are made in wine and proved in tears" e boto fé que algumas vezes são simsim feitos e assim já provados em lágrimas logo de uma vez. bonito isso, né?
    abraço p'c!
    =)

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