Que me livre
Havia esse leque de coisas que pareciam estar fora do alcance do esquecimento. Tanto que meu empenho nem morava no esquecer, mas em olhar para dentro, olhar ao redor e seguir em frente diferente. E só agora percebo tê-las esquecido, pelo menos em parte, de alguma forma significativa. Mas a verdade inusitada é que preciso delas de tempos em tempos, não mais para dar conta da cor daquela realidade e sim para entender os agoras. "Releia seus escritos", me disse P. naquele dia e, dessa vez, nem precisei reler. Os esquecidos me lembram dos meus porquês. A casa que criei, as escolhas, os tropeços, o sentido das rotinas mutantes. As contradições, a claridade incontestável, o que não sei mais não peitar, o que não alcanço (e nem quero), o que deixo ir. A reação ao que tenta me tirar de mim pelo controle, por vezes com ares bem disfarçados de afeto distraído. E preciso do esquecido para entender. Lembrar do que saí (e continuo saindo) para pisar livre. Eu que me livre. Me livro (nesse duplo sentido). E o que dói é parte menor.
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