Querido D., cabe te chamar pela inicial?
Madrugada, "Dois" da Legião Urbana nos ouvidos, e cá estou com essa batata quente nas mãos, com esse osso pra roer e com todas as outras expressões dessa linha desfilando desalinhadas pelas paredes do quarto. "The sweet sad love". E não vou nem dizer que queria que existisse cartilha com regras e orientações e passos sobre como ser um poema ambulante. Nós sabemos bem que eu a leria só para ignorá-la, afirmando veementemente que do meu sofrer quem sabe (ou não sabe) sou eu. O que sei do meu sofrer é que ele está estranho. Quase nada de choro, bom humor aberto com eventuais pancadas de azedume e a vida seguindo aparentemente inabalada. Exceto por um engasgo, um nó amargo. Um nó em movimento, que me aperta em diferentes partes do corpo, de diferentes jeitos. Sinto raiva desse incômodo. Não o conheço. Converso com ele lançando mão do meu sorriso simpático, no meu bom e velho jogo de conquista. Canto canções que possam fazer sentido, mostro meus passinhos e o chamo pra dançar. Conto histórias improváveis e invento desenrolares de rir no final. Rio. Quero que ele goste de mim, que se abra para que eu possa entendê-lo e acolhê-lo, fingindo interesse sincero. Mostro meu presente e passado pra que ele perceba sutilmente que não tem casa aqui. Quero mentir que não tenho pressa só pra que ele não se demore. Sei que o engasgo é necessário, faz parte do processo, mas quero ele fora de mim. Agora. Agora.
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