quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Querido diário, não chora. Ou chora, vai.

Gostaria que você pudesse ver o que vejo. Numa das sacadas do prédio da frente, um quadro grande com a imagem de algum santo em moldura vermelha, uma bandeira de Cuba pendurada logo abaixo e um gato branco e amarelo sentado em um banquinho, quase imóvel, sentindo o sol. Parece composição de pintura de algum artista que não conheci ou conheci. Já aqui dentro, me vejo nada imóvel.
"... e, por mim, a gente pode terminar como começou, de um jeito bacana e gostoso." foi o que eu disse olhando nos olhos dele, levantando a taça de vinho para um brinde. E assim foi. Ficamos em prosa, em riso, em choro, em gozo, em afeto, em estranhamento, esticando o fio da noite como linha branca de carretel que corre. Foi intenso e bonito e triste. Tão bonito um fim bonito, vestido de entendimento e maturidade pelos dois lados. Ele se disse espantado e confesso que o espanto dele me espantou. Ele não esperava que eu, do alto do meu amor declarado, trouxesse um ponto final? Imaginou, talvez, que eu me ajustaria ao que fosse em nome do meu querer. Lembra o "topa tudo por dinheiro" do programa do Silvio Santos? Pois é. E eu sim já fui nessa vida adepta ao " topa tudo por "amor"" (foco nas aspas dentro das aspas), mas não sou mais essa mulher, não me apetece esse jogo e nem sei dizer o quanto a constatação prática desse sentido me enche o peito de orgulho e alegria. Meu peito também dói, não se engane, pelo prenúncio da falta do gosto, do cheiro, da voz, da presença mesmo quando ausente. Abraço minha dor sem peso, tentando entender a cor dela. E doída me lembro de um memorável episódio da série "Louie", em que Louis C. K. conta para um vizinho que está arrasado por causa de um término e o vizinho, puto, o chama de imbecil, diz que ele não entendeu nada. Fala da beleza e significância do coração partido, que é o momento em que somos " a walking poem", e que devemos desfrutá-lo. Olha, não acredito em deus nem vejo graça em fés institucionalizadas, mas se alguma religião trouxer o diálogo desse episódio transcrito em seu livro sagrado prometo parar para dar uma segunda olhada. rs. E é isso. Me sinto uma mistura de poema ambulante com Adriana Calcanhotto cantando "Tá na minha hora". E sigo, como de costume, nadando de braçada na ambivalência de tudo. Sigamos, pois.
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Rádio Plutão
Louie Aqui
Calcanhotto Aqui



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