Querido diário, prepara-te para uma possível miscelânea temática.
Sábado, café preto. Eu e você sabemos que este espaço já mudou de nome algumas vezes, em momentos nos quais outras cores se faziam relevantes e me puxavam os sentidos. A de agora é nova, nunca antes havia passado por aqui, não é verdade? Aí que me encontro imersa no branco - cor densa, sólida, aberta, quase um convite. Um convite de mergulho íntimo e expansivo ao mesmo tempo, não sei se sei explicar. Cor que é página e é tela, mas carrega a serenidade de prescindir de algos outros para compô-la. E mesmo embebida em ares de plenitude se apresenta exposta, sem tampa. O branco é seguro e vulnerável ao mesmo tempo, uma contradição bonita e almejável na minha opinião. Pois sim que é nessa manhã branca de cigarras e sabiás cantantes que sento para escrever. Ontem saí para dançar, coisa que não fazia faz tempo. E, cara, como gosto de dançar forró. A sonoridade musical, o ritmo que é mesmo e é variado, o exercício de entrega ao movimento conjunto com o corpo do outro (corpo desconhecido) a sensação de aterrar se espalhando pelo chão. Um aterrar não estanque. Além disso, como aprecio o caráter democrático e rico em diversidade do forró. O mano e a mina, o novo e o velho, o feio e o bonito, o performático e o simples estão ali, pertencentes e exercendo sua existência no salão. Todos têm lugar. Me perdi e me achei reparando nas diferentes texturas de mãos e cheiros, nas diferentes formas de me conduzir pelas costas. Me perdi e me achei nos toques nas minhas costas. Cheguei em casa encharcada de suor, cansada, feliz e, voltando para a contradição poética do branco, me perguntando porque a gente foi ensinada a associar segurança à permanência e ao controle das variáveis. Me perguntando se isso permeia o ensinado ou o instintivo. Me perguntando por que não abraçamos a inconstância das coisas, já que SIM a inconstância é inescapável, e nos sentimos seguros fazendo casa nesse lugar, na garantia de que "tudo muda o tempo todo". Segurança na vulnerabilidade. Cheguei em casa me perguntando tanta coisa que custei a dormir. Mas dormi e acordei com dor no joelho esquerdo ("não é só bala de canhão que mata", diria minha sábia Vó Elza) e vontade gostosa de ficar quieta, dar descanso ao corpo e à mente.
Opa que não houve miscelânea. Tema único. Meu todo branco 🤍.
Nenhum comentário:
Postar um comentário