sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Trecho esparso sobre o amor 

Ela havia notado algo peculiar mas levou um tempo para chegar à certeza de fato. Ele não tinha cheiro. Nem cheiro só de pele sem perfume, nem cheiro de pele perfumada, nem cheiro emprestado de roupa lavada. Ele cheirava a nada. Nem quando distante do último banho ou logo após ele. Nem mesmo na boca acordada ou de dentes recém escovados. Nada. Ela bem que procurou - atenta - em horas propícias e lugares prováveis, mas só encontrou caminho sem trescalo (como depois lhe diria o dicionário). Uma atípica e intrigante ausência na essência. Ele cheirava a nada. Diante da evidência, coube a ela fazer o que sabe fazer. Abriu o caderno e o topo da folha com o título "A festa deserta do corpo sem cheiro". E pôs-se a escrever.

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