terça-feira, 12 de abril de 2011

Mil vezes Clarice
na foto: ciscos de som

Apenas um cisco no olho


"E de repente aquela dor intolerável no olho esquerdo, este lacrimejando, e o mundo se tornando turvo. E torto: pois fechando um olho, o outro automaticamente se entrefecha. Quatro vezes no decorrer de menos de um ano um objeto estranho agrediu meu olho esquerdo: duas vezes ciscos não identificados, uma vez um grão de areia, outra um cílio. Das quatro vezes tive que procurar um oftalmologista de plantão. Da última vez que perguntei àquele que realiza a sua vocação através de cuidar por assim dizer de nossa visão do mundo: por que sempre o olho esquerdo? É simples coincidência? Ele respondeu que não. Que, por mais normal que seja uma vista, um dos olhos vê mais que o outro e por isso é mais sensível. Chamou-o de olho diretor. E este, por ser mais sensível, prende o corpo estranho, não o expulsa. Quer dizer que o melhor olho é aquele que é a um só tempo mais poderoso e mais frágil, atrai problemas que, longe de serem imaginários, não poderiam ser mais reais que a dor insuportável de um cisco ferindo e arranhando uma das partes mais delicadas do corpo. Fiquei pensativa. Será que é só com os olhos que isso acontece? Será que a pessoa que mais vê, portanto a mais potente, é a que mais sente e sofre? E a que mais se estraçalha com dores tão reais quanto um cisco no olho? Fiquei pensativa. "

Clarice Lispector


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Parque


a fala muita, os óculos, the boyish smile, a barba, o cheiro da boca, a atenção que não sufoca, a ausência que não grila, a barba ( já citei a barba?), o bom gosto, o gosto bom, o não me prender, a diferença toda, a gentileza e a leveza constante do "enquanto for".



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Terça rima com Bloch


" O que as pessoas chamam de minha bondade talvez seja minha sintonia com o mundo. Sou coletivo. Tenho o mundo dentro de mim. Acho que todo ser humano tem uma dimensão universal, única, insubstituível. Por respeito a cada ser humano, em todos os cantos da Terra, e por gostar de gente, gostar de gostar, é que encontro em cada indivíduo o reflexo do universo."


"Que é que acho do amor? Não acho. Amo. Achei: Míriam. As pessoas chamam de amor ao amor-próprio. Chamam de amor ao sexo. Chamam de amor uma porção de coisas que não são amor. Enquanto a humanidade não definir o amor, enquanto não perceber que o amor é algo que independe de posse, do egocentrismo, da planificação, do medo de perder, da necessidade de ser correspondido, o amor não será amor. O que faz o mundo se mover em sentido construtivo é a verdade. Ainda que provisória. Ainda que seja mais caminho que meta. As palavras afogam tudo: o amor, a verdade, o mundo. Enquanto o homem não marcar um encontro sério consigo mesmo, verá o mundo com prisma deformado e construirá um mundo em que a Lua tem prioridade, um mundo de mais lua que luar."


" Minhas peças são primeiro sofridas, depois escritas e depois arquitetadas. A arquitetura vem em último lugar. Só escrevo o que vivi, senti e sofri, na própria pele ou transbordando dentro da corrente humana, mesmo quando meus problemas estão superados. A verdade é sempre o meu maior protesto."


Pedro Bloch



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Matemática


Perdemos. Ai, como perdemos. Perdemos a oportunidade, o reagir no momento certo, a voz bem na hora que a hora pedia grito. Perdemos amigos e parentes, por que morreram, por que é da vida se perder ou por que escolhemos perdê-los bem ali. Perdemos o pai, mesmo que não tenha morrido, mesmo que nunca nem ganhado. Perdemos com a grosseria gratuita dos inseguros, com o recato enfático dos medrosos, com a exposição exagerada dos confusos. Perdemos a paciência, a graça, o cuidado com nós mesmos. Perdemos o salto afundado no piche entre concretos do estacionamento. Perdemos. E ganhamos. Ganhamos o céu de azul único e de nuvens desenhadas. Ganhamos a alegria da noite bem dormida ou da insônia produtiva. Ganhamos o entender o tempo do outro, o respeitar nosso próprio tempo. Ganhamos um email de desculpas, um sorriso baixo, um pacote de balinhas argentinas. Ganhamos o sacode do amigo, a risada do amigo, o tudoquefor do amigo. Ganhamos força pra colocar limites, pra dizer o não e o sim, pra abrir caixas de desejos. Ganhamos com a riqueza da música, da dança, do cinema, da literatura, da palavra dita, do prescindir da palavra. Ganhamos a sempre e renovada chance de experimentar o novo, de romper com o que engasga, de buscar ares mais leves. Ganhamos com aquela dor, com aquele choro, com as tantas perdas. Ai, ganhamos. Ganhamos mais.


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Capitoso som

6 comentários:

  1. Izaaaaaaaa... bom dia... Uau... aodrei a foto... sensacional... vc foi a fotografa???

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    sim sim... vinicius e todos os grandes que o diagam...

    Presentinho de Tom e Vinicius,

    "...Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
    Que nada nesse mundo levará você de mim
    Eu sei e você sabe que a distância não existe
    Que todo grande amor só é bem grande se for triste
    Por isso, meu amor, não tenha medo de sofrer
    Pois todos os caminhos me encaminham prá você
    Assim como o oceano só é belo com o luar
    Assim como a canção só tem razão se se cantar
    Assim como uma nuvem só acontece se chover
    Assim como o POETA só é grande se sofrer
    Assim como viver sem ter amor não é viver
    Não há você sem mim, eu não existo sem você..."

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    Que seja.. e que seja eterno enquanto dure...

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  2. como assim vc me sugere uma passadinha no blog em plena terça-feira as 11:00 da manha SABENDO de antemão que vou me deparar com essa "matematica"? que texto é esse?
    nossa...meu coração "ta na boca" e minha mente em algum lugar do universo - "to estragada" meu bem, agora ele está comigo e não vai sair tão cedo...

    ó, quando for assim, tem que avisar antes!rs
    amo-te

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  3. pequi! =)
    a foto é minha simsim... tentando captar o colorido do som...
    vc é minha fonte garantida de vinícius! obrigada por compartilhar, querido...
    saudadocê!
    beijo!

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  4. rs! ai, minha flor... a matemática também não me avisou quando me pegou no meio da madrugada, aí entendi que era assim. mas prometo ser mais cuidadosa da próxima vez...hehehe.
    amo-te dobrado,querida!
    beijomeu

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  5. Que delícia de textos!
    Seus e de autores variados!
    Matemática, Clarice, Parque... Uau! Quanto presente!
    Obrigada Hermanita!
    Amo-te

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  6. lalous!
    que bom que gostou, minha flor. ave cruz que variedade faz bem! ainda mais tendo clarice como tempero...
    sempre um prazer te ver aqui.
    sempre uma alegria te ter na vida. =)
    e ó, aquele texto cai aqui hoje!
    amo-te, hermanita!
    beijocolorido

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