segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Tec tec
Que prático é o mundo interconectado. Uma beleza. Até a rede cair e você ficar mais de hora olhando pendências urgentes saltitando na sua mesa sem você poder fazer nada. A rede cai, a impressora fecha a boca e eu vou à loucura. Numa dessas, na ânsia de fazer os processos seguirem seu caminho sem mais atrasos, liguei para o depósito e perguntei ao responsável se eles não tinham uma máquina de escrever véia encoxtada (com x mesmo) por ali. Eu poderia datilografar (ói só que antigo) o que não precisasse de numeração do sistema e desenrolar metade do imbróglio. A resposta que eu recebi, em meio a risos, foi "tê tem, minha senhora, mas não funciona não". Bem, tentei.
Um colega de trabalho ouviu meu telefonema e me contou que tinha achado uma máquina de escrever em perfeitas condições na garagem do pai e levou a dita para casa para mostrar ao seu filho de 7 anos, que nunca tinha visto uma daquelas. Sem explicar nada, colocou o papel e saiu batendo as letras sonoras com gosto nostálgicobom de um passado distante. O filho, espantado, soltou um "UAU, pai! Que moderno esse teclado que já vem com impressora! E nem precisa de monitor!". Achei graça do comentário e pus-me a pensar sobre a questão do velho/novo, sobre os valores que atribuímos às coisas e pessoas tendo como base a idade que elas carregam. Nada de surpreendente não, tanto que nem vou postar aqui o que escrevi a respeito do trem. Mas sei que a historinha boba e o comentário do filho me trouxeram uma sensação boa, uma leveza. Acho bonito isso, a multiplicidade de interpretação e entendimento das coisas se manifestando assim, de forma tão simples e espontânea. E a riqueza desses possíveis e válidos olhares mil me fez sentir dentro de um caleidoscópio, sendo eu um quadradinho desse mosaico dinâmico. Bom fazer parte disso: desse rodar, desse mudar de cor... E embalada pelo quasetorpor levefrebril das mudanças também em mim, perdi o fio da meada e não sei mais como terminar esse textinho. Sorry. Fica assim sem fim. =). Um beijo e ótima segunda aos que passarem por aqui.
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Pra tudo na vida tem uma música do Chico
quanto chico é muito chico mesmo?
AMO.

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Por que eu amo a Fal
na rua, dando continuidade...

"Prezado senhor H., aqui estamos nós, mais uma vez.
Como vai?
Ontem cheguei em casa tão cansada, com tanto calor. Eu me sentia suja e um pouco alheia, como se esta vida não fosse minha e eu não estivesse realmente aqui.
O senhor já se sentiu assim? É uma sensação estranha e terrível, ainda que libertadora. Alcancei o prédio, venci o corredor, virei a chave na fechadura e meu coração quase parou. Antes mesmo de ter aberto a porta completamente, com o canto dos olhos vi uma sombra cor de vinho no chão. E soube que era o senhor. Ou melhor, a sua carta. Soube assim que a vi. Joguei minhas coisas no chão e apanhei o envelope. Olavo aproveitou meu susto para escapar, mas só notei isso vários minutos depois, quando o senhor Issamu, um senhorzinho aposentado que vive no apartamento 14, veio com o gato no colo, espantado por ver minha porta aberta, por ver minhas coisas espalhadas, chave para fora da fechadura e eu, um joelho no chão, lendo sua carta completamente esquecida de tudo o mais.
O senhor me pergunta se eu sei o que é sentir medo. Claro que sei. Foi o que eu senti ao ver sua carta esperando por mim no chão. Não resisti a agir como uma maluca e rasguei o envelope imediatamente, com medo. Muito medo.
Mas o senhor, agindo muito além de minhas expectativas, não apenas respondeu à minha carta, como não me censurou. Pelo que me sinto grata e aliviada.
Ontem foi um dia terrível no trabalho. Muitos gritos, muita confusão, longas horas de pé. E poder chegar em casa e ler uma carta escrita especialmente para mim foi um prazer. Gostei de ter esse breve vislumbre sobre seu cotidiano. Temos algo em comum: apesar de trabalhar cercada de muitas, muitas pessoas, passo o dia todo em silêncio. Quando chego ao trabalho, a equipe já está envolvida em seus afazeres (o escritor carioca-mineiro Eduardo Almeida Reis os chama de ‘quifazeres’) e fico num lugar separado do resto do pessoal. É certo que há um entra e sai constante no meu canto de trabalho, mas estamos todos ocupados demais para o que quer que seja, mesmo acenos de cabeça e um eventual “Oi, tá boa?”. E, quando saio, uma nova equipe ainda trabalha frenética, ocupadíssima, não há despedidas e nem “Bom descanso”. Também por isso, sua carta foi quase uma voz falando comigo no apartamento vazio.
Depois de ler suas palavras uma vez, levantei-me do chão, ralhei com o gatinho, recolhi minhas coisas, coloquei uma lasanha pronta no micro-ondas e tomei banho. Depois jantei, vi televisão e li sua carta mais duas ou três vezes antes de dormir. Dormi bem, sem sonhos e, como hoje não fui trabalhar, acordei mais tarde do que de costume e agora respondo sua carta, que vai para o correio logo mais. Gostei imenso da imagem que o senhor usou, dizendo que ao acordar, encontrou meu envelope de olhos abertos.
Sinto muito que meu envelope verde o tenha feito chorar. Sinto, realmente. E mais, sinto muito que o senhor não consiga alcançar sua Beatriz. É uma pena. Há algo que eu possa fazer? Alguém que eu possa procurar?
Os dias aqui seguem sufocantes e terrivelmente longos. Espero que o frio aí esteja terrível, paralisante.
Receba meu abraço,
Helena Nucci

P.S. Senhor H., seus envelopes são sempre cor de vinho. Sempre. Será que sou daltônica? Existem mulheres daltônicas? Não sei. Amanhã farei uma experiência e depois conto o resultado. Mas aqui, na minha mão, salvo engano muito profundo, há um envelope cor de vinho, com sua letra pequena e regular, seu endereço e o meu. O senhor me diz que compra envelopes brancos, sempre na mesma quantidade, sempre no mesmo lugar, e acredito no senhor. Mas os envelopes que me chegam às mãos são cor de vinho. Creia.
Até já.
H."
Fal Azevedo
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6 comentários:

  1. iza, minha amiga/irmã querida,
    que delicia de texto, que frescor, que bom ter vc aqui em casa todos os dias, todas as horas... que belo deleite 'nosso' todo amarelo.

    beijos, meu bem.

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  2. rosí, minha flor,
    deleite é ter você no todo da vida, querida...

    beijoquasepénaestrada e saudadebobaainda

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  3. Quanto altruísmo procurar uma maquina de escrever em meio ao caos do mundo sem conectividade... hihihih... imagine soh quão grave seria se ficássemos sem rede logo sem MTA? O que seria de nós pobres seguidores :)

    Gostei dimais da historinha do teclado moderno com impressora acoplada... hihihi... mas gostei mais ainda da "multiplicidade de interpretação"... mais um motivo pelo qual torna-se cada vez mais dificil julgar atitudes alheias :)

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    Bom saber que as 20h de pedal mudou... vou lá sabado a noite te dar um beijo e uma força... :) até lá... bom treinooooo :)

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  4. Sobre a máquina de escrever, antigamente as coisas andavam mais lentas, quando nossos pais falavam "no meu tempo", era algo de 40/50 anos atrás. Hoje "no meu tempo" não são muito mais que 5/10 anos... aliás nem nós conseguimos seguir a velocidade da evolução dos equipamentos que lançam. A verdade é que as coisas evoluem muito rápido mas os dilemas do homem continuam o mesmo de 2000 anos para cá...... um abraço!

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  5. pequi!!!
    o mundo virtual traz coisas boas simsim. e que bom saber que vc sentiria falta desse humilde amarelo que vos fala... rs! =)
    digamos não aos julgamentos! exercício diário, darling...
    e ó, estarei esperando por vcs lá!
    beijosaudoso

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  6. velocidade, velocidade, velocidade, paulo!
    e não me deixe começar a falar sobre os dilemas do estar vivo no tempo que for...ave cruz! haja palavra.
    ó, já tem mais "flor e marimbondo"! postarei em breve. =)
    inté!

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