quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

 Vasto lugar

Ontem éramos 9. Uma quarta qualquer em que esse bandinho de gente se reuniu pra cantar parabéns surpresa para uma amiga nova que fará aniversário ali na esquina do fim de semana. Gente que vive em parceria há anos, gente que se aproximou intensamente nesse 2024, gente que acabou de chegar. E ontem, no meio daquele falatório solto e festivo, eu parei quieta e respirei fundo. Senti tudo até sentir um nada tranquilo e soltei o ar.

Passei boa parte desse ano um tanto sem chão. Vivi meses no receio abissal de perder o grupo de amigas que foi minha base afetiva nessa última década. E eu, que sou tão do "estou" e não "sou", que falo tanto do movimento inescapável da mudança de tudo, me agarrei com unhas fincadas no que já não mais existia. Eu sabia que não existia. Surgiu o momento de provar aquilo que sou naquilo que ensino (oi, Emmanuel) e nadei contraditória sem dó. Eu sabia que não me encaixava mais ali, naquele modus operandi, naquela ética relacional, mas demorei a me convencer a deixar ir o que já tinha ido e assumir a mudança em mim. O fim parece fim e assusta, desterra. Mas o fim não é fim, é só mudança. E mudança é um lance que expande, não se limita a um fatídico ponto final. De fato, "perdi" as amizades que já não eram. E doeu de rasgar. As que fazem sentido ficaram e nos ajeitamos em novas dinâmicas numa naturalidade que eu nem sabia possível. Nem consigo colocar em palavras o quanto acho bonito isso. E toda a energia que eu colocava em me agarrar ao ido, de repente ficou livre. Eu fiquei livre. Vejo com clareza que esse lugar antes tão temido faz sentido. O que eu temi é campo vasto e não o fim de mim. Talvez, de certa forma, o fim de uma Iza que foi virando outra, que outra está. E a Iza que estou realmente estava naquela sala ontem, mergulhada em afeto, nadando junto. Sentindo tudo até sentir um nada tranquilo e soltar o ar.

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