segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Acorde

F. , a sábia, me disse numa sexta feira de mês já bem passado que a então "amiga" faria com as outras variações dos absurdos que fez comigo, que era só questão de tempo, que elas aguardassem. Eu duvidei e disse que não, que a treta era só comigo. F. repetiu que era só questão de tempo. Pois é. Ela, sábia que é,  estava certa. Taí.

Um dó. Um dó maior.

domingo, 29 de dezembro de 2024

 Cais

Ouço o que você me mandou e me acho e me perco. Misturo tudo. Misturo as histórias, os tempos, os personagens, o tom da voz. Misturo as estradas, meus passos, as falas idas e as esperadas, mesclo palavras. Confundo o sentido do ato acabado com o querido e ainda não vivido. Troco nomes e esparramo no chão as letras poucas, esse curto início de alfabeto. O único ponto em comum sou eu. Eu que "invento cais" e não sei ser inerte. Não preciso. Não preciso nem quero quedar o movimento meu. Ouço, sinto, misturo.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

 Vasto lugar

Ontem éramos 9. Uma quarta qualquer em que esse bandinho de gente se reuniu pra cantar parabéns surpresa para uma amiga nova que fará aniversário ali na esquina do fim de semana. Gente que vive em parceria há anos, gente que se aproximou intensamente nesse 2024, gente que acabou de chegar. E ontem, no meio daquele falatório solto e festivo, eu parei quieta e respirei fundo. Senti tudo até sentir um nada tranquilo e soltei o ar.

Passei boa parte desse ano um tanto sem chão. Vivi meses no receio abissal de perder o grupo de amigas que foi minha base afetiva nessa última década. E eu, que sou tão do "estou" e não "sou", que falo tanto do movimento inescapável da mudança de tudo, me agarrei com unhas fincadas no que já não mais existia. Eu sabia que não existia. Surgiu o momento de provar aquilo que sou naquilo que ensino (oi, Emmanuel) e nadei contraditória sem dó. Eu sabia que não me encaixava mais ali, naquele modus operandi, naquela ética relacional, mas demorei a me convencer a deixar ir o que já tinha ido e assumir a mudança em mim. O fim parece fim e assusta, desterra. Mas o fim não é fim, é só mudança. E mudança é um lance que expande, não se limita a um fatídico ponto final. De fato, "perdi" as amizades que já não eram. E doeu de rasgar. As que fazem sentido ficaram e nos ajeitamos em novas dinâmicas numa naturalidade que eu nem sabia possível. Nem consigo colocar em palavras o quanto acho bonito isso. E toda a energia que eu colocava em me agarrar ao ido, de repente ficou livre. Eu fiquei livre. Vejo com clareza que esse lugar antes tão temido faz sentido. O que eu temi é campo vasto e não o fim de mim. Talvez, de certa forma, o fim de uma Iza que foi virando outra, que outra está. E a Iza que estou realmente estava naquela sala ontem, mergulhada em afeto, nadando junto. Sentindo tudo até sentir um nada tranquilo e soltar o ar.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

 Mini conto sobre a falta 


Desta vez, ela vazia. A falta. Digo isso porque normalmente ela me vem repleta, suntuosa. Parece contraditório mas não é. Estou acostumada a viver faltas cheias de tantos até a tampa. Me transbordam e me derramam em verbos fartos, adjetivos móveis, substantivos fugidios. Essa não. Essa quebra a regra e se instala em nada. Indivisa, quase in-crível. Ela vazia, ela em nada. Também do nada, em movimento não planejado, desfiz o nó do cordão carmim com minhas unhas rentes e liberei meu punho pra além dela. Pra outros virás. Outros atares e desatares enfim.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

 Trecho esparso sobre o amor


Em mim, você é criança, acabou de chegar. Corre por todo lado e brinca e canta e ri solto e bagunça festivo e demanda. Não se cansa. Chama tanto a minha atenção que não tenho como te desperceber. Mas sei que isso há de passar, que virá o ajuste do tempo outro, da distância física, do espaço nosso afastado de atravessar o globo. Sei que você vai achar um lugar tranquilo em mim, um canto onde entre luz. Com futton, vinho, som, cordão e instrumentos espalhados pelo quase chão. Aí vou te sentir só de fundo, ouvir só seu respirar meditativo. Um respirar. Parte quieta e presente nesse meu ritmado novo pós nós.